quarta-feira, 16 de abril de 2014

Os meus Velhos

Estes três velhos existem, desde que eu tenho memória, na casa dos meus pais. São uma peça com valor apenas afectivo, mas acompanhou-me sempre e gosto muito dela. Quando era criança, lembro-me de imaginar que os velhos falavam da nossa vida. Eles viam tudo, ouviam tudo e, depois, teciam as suas considerações sobre as nossas rotinas. Connosco partilhavam, achava eu, alegrias e tristezas. Cheguei a pedir-lhes que intercedessem junto da minha mãe para me deixar fazer algumas coisas não permitidas, mas nunca me ouviram e eu, então, atribuía o seu silêncio ao facto de serem velhos e, por isso, não compreenderem as minhas razões. 
Agora, olho-os e imagino sobre o que falarão ainda. Da política manhosa? Das diabruras dos meus netos? Do meu silêncio vazio? 
Ou será que os velhos, que hoje me fazem companhia iludindo a solidão, só conversam sobre literatura? Fico olhando e revendo momentos, imaginando amanhãs, pedindo-lhes que povoem o meu presente vazio. Calam-se, mas sorriem. São boa companhia, os meus velhos.Não exigem nada, não criticam, não insultam, não julgam. Os meus velhos existem só para mim e, se calhar e eu tiver sorte, um dia vão descer do banco e sentar-se a meu lado no sofá.

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