quarta-feira, 14 de maio de 2014

LIXOS

Ao longe, o sono alheio enche a paisagem. Luzes tremelicantes, de vez em quando um automóvel ligeiro, o coro dos grilos e das cigarras. Vejo tudo ao longe, e de longe, com a sensação estranha de não fazer parte, de não ser um elemento, de não ser um elo. Olho o quotidiano e a angústia cresce. As alergias, os espirros, os olhos inflamados, fazem sempre a vida mais terrível nesta época do ano. Estranho como a natureza que amo me incomoda! Na velha casa amarela o silêncio faz-me companhia, as ausências protegem-me.
Arrumei os sonhos, rasguei em mil pedaços as ilusões, deitei no contentor verde a esperança. 
Hoje, sou só eu e a realidade. Amanhã, depois, a seguir, também. Do que quis, sonhei, desejei, ambicionei, ficaram farripas de nada que, tenho esperança, a memória se encarregará de destruir...

1 comentário:

  1. Quem sente assim, nunca está sozinha. Nós guardamo-la.
    António

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