sábado, 23 de maio de 2015

DE NOVO

Quente e intenso,o raio de sol entrou pelo quarto adentro sem pedir licença. Ela sentiu-o, destapou-se e deixou-se ficar, jiboiando, no esforço de prolongar a noite que terminara. Reparou no pó que, apesar da sua obsessão com a limpeza, pousava abusivo nas molduras que enchiam a velha cómoda. Era uma narrativa de encaixe, sempre dava esse exemplo aos alunos, aquele velho móvel de gavetas, de onde  espreitavam memórias, ausências, instantâneos de felicidade. Gostava das molduras. Sem protestos, eram companhias atentas e vigilantes. 
Lá no cimo da parede, bem no cantinho onde só com muito esforço a vassoura chegava, uma aranha de corpo minúsculo e pernas enormes tecia, tranquila a sua teia. 
Também ela gostaria de poder tecer uma teia e de se fechar lá dentro, casulo de possíveis, saindo apenas borboleta segura da cumplicidade efectiva, do abraço firme... E a mágoa voltou, lembrando a insónia da noite que agora terminava!

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