Meu amigo querido, adeus. Sei que não acreditavas no meu Deus, que a tua sabedoria científica te centrava na vida biológica e, por isso, dizias-me, muitas vezes, que um dia serias nada. Que morrerias, e pronto.
Hoje, foi esse dia. Mas, amigo querido, desta vez não tinhas razão porque tu nunca serás nada. Para mim, estejas onde estiveres, serás sempre o Amigo especial... Oiço ainda as tuas ironias, a tua capacidade cirúrgica de definir momentos, o olhar amigo e compreensivo. Lembro as tuas mãos esguias, mãos de médico, mostrando-me os poemas que escrevias, as velhas fotografias que revelavas na tua câmara escura.
Aproximamos os nossos pensares e sentires no passeio ao Nordeste Transmontano, eu tinha 19 anos, ía casar. Escreveste, então, um poema lindo que terminava:... "Assim o CX desliza, nas mãos seguras da Luísa!"
Houve tantas coisas que as minhas mãos - seguras? - não conseguiram segurar...
Depois, há mais de dez anos..., fizemos juntos uma viagem longa. Lembras-te do almoço em Beja? Hei-de lá voltar, àquele restaurante escondido.
Recordarei sempre a forma como nunca te ouvi condenar-me. Se compreendias, não sei. Mas talvez isso seja o importante, saber aceitar sem condenar, ainda que nem sempre compreendendo.
Partiste. Acredito que, a esta hora, estarás entre amigos. Quero mesmo crer que, com o meu Pai, continuarás a olhar por mim... Mas vou sentir falta dos teus emails, das fotografias no fotolog, dos poemas intensos que me enviavas para, acho eu, me fazeres olhar a vida de outro modo.
Sei, eu acredito, que vais descansar em paz. Por agora, tenho comigo as memórias (essas ninguém mas confisca) e, sempre que olhar o céu do meu Alentejo, pensarei que mais uma estrelinha lá brilha também.
Desculpa o egoísmo. Fazes-me muita falta!