quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

MENINO JESUS

Menino Jesus,
Há muitos anos que não Te escrevo. Não porque Te tenha esquecido, ou por ter-Te abandonado, nem sequer por achar que tens e-mail. Acho que deixei de escrever porque perdi, e como o lamento, a capacidade de acreditar no Milagre da Tua vinda, na noite de 24, colocar presentes no meu sapatinho. Desaprendi também, talvez, a segurança da infância, a fé em cada amanhecer, a tranquilidade de saber que havia sempre alguém para me amparar.  O que eu fiz da vida, os estragos e erros, desfizeram a minha Paz interior e semearam de escombros o meu tempo de estar contigo.
Quando era pequena - em que mundo foi isso? - escrevia-Te todos os Natais. Contava-Te as minhas maldades, as boas acções e, de caminho, aproveitava para Te pedir presentes. Não sei onde param essas cartas, decerto no lixo ou desfeitas pelo Tempo.
Este ano, nesta noite-véspera de ter comigo os meus netos, resolvi escrever-Te outra vez. E não venho pedir nada!
Menino Jesus, obrigada por estares aí para mim. Obrigada pela calma com que esperaste o meu regresso do lado de lá da Fé. Sim, estive muito zangada contigo. É sempre mais fácil zangarmo-nos para fora, com os outros, do que com nós próprios, Tu sabes. Às vezes, de tão cega de desgosto e raiva, chegava a virar-te para a parede achando que nem devias ver-me chorar. Mas Tu resististe e, por isso Obrigada! 
Prometo não mais te virar para a parede e sempre te olhar, antes de adormecer, para aquela conversa só nossa. Aquela, Tu sabes, em que me viro do avesso e te peço ajuda para lavar a alma. 

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