domingo, 2 de dezembro de 2018

Não Adianta

Às vezes, o manto da noite, tecido de estrelas, vem confrontar a minha saudade. Está escuro. Estou quente, espevitei a lareira, os meus pés descalços afundam-se no tapete macio. Olho as mil fotografias que preenchem a minha salinha. Ali estão as minhas filhas pequeninas, os meus sobrinhos adorados, os meus netos, já quatro. 
Onde me perdi eu? Em que cenário errei a fala, perdi o pé? Levanto-me para colocar um madeiro no fogo. É quase Natal. E a minha essência amolece, fica mais húmida, mais incapaz de calar saudades, revoltas, mágoas e desejos. Ah, tantos desejos que são mais do que vontades, tantas vontades que adio para aquele Tempo que nunca chegará.
O fogo devolve-me outros Natais. Tempos que não o são já, existências que desapareceram. Tranco a alma à saudade angustiada. Não adianta chorar sobre o leite derramado, digo de mim para comigo. Está frio. E ainda assim o fogo continua ardendo forte. Paradoxos. A vida, afinal. 

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