segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

OUTRA VEZ

Outra vez. 
Sempre que digo outra vez, sinto um terrível eco de quase condenação à rotina. É outra vez segunda-feira todas as semanas, é outra vez Verão, é outra vez hora de ginásio, é outra vez hora de dizer adeus, é outra vez tempo de vazio. 
Felizmente, também conheço outra vez coisas boas. É outra vez tempo de ter os netos, é outra vez hora de ficar na minha casinha lendo só com o Zorba por companhia, é outra vez tempo de ir à massagem, é outra vez Domingo , é outra vez hora de cozinhar para os amigos e queimar o leite de creme!
"A vida cumpre-se num fazer de pequenas coisas" - disse Umberto Eco. Eu acho que a vida se cumpre numa repetição de fazeres (e afazeres) que, maioritariamente, nos são impostos de fora para dentro. Se eu pudesse impor à vida os meus fazeres e sentires, muitos outra vez seriam definitivamente eliminados. Dizer adeus deixaria de ter outra vez, e as ausências nunca aconteceriam. Se eu pudesse mesmo fazer a vida que desejo, só haveria outra vez para a ternura, para as conversas compridas perto da lareira, para o leite de creme partilhado, para os serões encompridados de palavras sãs. 
Se eu mandasse mesmo, reinventaria o direito ao espanto - esse do meu Poeta - e havia de estrear a existência com muito mais frequência!

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