segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

BICA E MARGUERITA

Ela chegou primeiro. Incorrigível vício da pontualidade, sempre antes da hora, escolheu a mesa junto à janela e fez o pedido. Ele chegou quando a Marguerita já ia a meio, maracujá, o meu fruto preferido, lembras-te? Sim, lembrava sempre o maracujá no Brasil, o maracujá experimentado pela primeira vez nessa cidade da Baía tão distante, nesse lugar onde se venera Pessoa e a língua portuguesa. Ele pediu um café. Inócuo, indiferente. Olharam em direções opostas, culpa dos lugares escolhidos, e ela reparou que há muito tempo já os horizontes eram distintos. Ele abriu o jornal, ela o Facebook, e o silêncio escorreu. Não íamos conversar, tentou ela. Sim, diz, já viste o que fez o Montenegro? Não é preciso dizer não para impedir conversas difíceis. Ela acabou a Marguerita, ele deixou o café esfriar. Não me querias dizer qualquer coisa? Ela olhou ao longe a linha bem definida do horizonte. Há tanto mundo para viver... 
Às vezes, há palavras que não merecem ser ditas. E a Margarita sabia bem.
Então vamos? Sim, até qualquer dia. Gostei de te ver. Também.

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