domingo, 6 de janeiro de 2019

PRIVILÉGIO

Sou uma privilegiada e adoro sê-lo! Fico mesmo feliz quando me sinto especial para a vida, quando experimento a ilusão de que os astros se alinharam para me oferecer coisas boas. No último mês, recebi três livros de novos autores, de gente amiga que escreve. São três obras diferentes, todas da autoria de professores, e todas tecidas de magia própria. Sendo absolutamente diferentes, todas e cada uma me têm oferecido horas de paz, evasão e sonho. Alguma inquietude, também. Primeiro, chegou-me às mãos o título "Os joelhos do meu Pai e outros Contos", do meu colega António Pascoal. Fiz-me à viagem de leitora com apreensiva curiosidade. E se fosse um livro pomposo, cheio de emaranhados e léxico indizível? E se viesse cheio de coisas de esquerdosos, das que eu abomino? E se, de repente, a leitura me desgostasse? - Tudo receios infundados. Contos fantásticos, originais, surpreendentes e de uma linguagem real, correcta e fazedora de comunicação. Devorei os contos e foi com pena que cheguei ao fim. De todos os contos, sem dúvida Três Tabletes de Chocolate Branco é o meu preferido. E eu não gosto de chocolate branco! 
Depois, há muito anunciado, chegou A Mulher do Sargento Espanhol, do Rui Aragonês Marques, meu colega de liceu. Antecipava uma história de ilhas, de crocodilos e miséria. Mais uma vez, estava completamente enganada. Encontrei a aparente simplicidade tão complexa das histórias de amor, chorei, angustiei-me e ri, "A Madre Superiora parecia um cacho de uvas quase em passas" , e eu vi mesmo a Madre bem amarfanhada... O Rui deu-me um pouquinho dos tais esquerdosos, mas em doses suaves e facilmente digeríveis. Deu-me, ainda, boa companhia para as minhas frequentes insónias.
Ontem, foi a Maria João Falcão que me ofereceu a ternura de Os Figos de Setembro e outras histórias. Aqui, a narrativa é de memória, com todo o poder que a memória tem de purificar e reconstruir o tempo. Aqui está Portalegre, a gente que eu conheço, os espaços que me determinam. Correndo o risco de ser agredida pelo politicamente correcto, não resisto a afirmar que a escrita feminina é muito mais almofadada do que a masculina. E eu não sou capaz de dizer de qual dos três livros gostei mais! 
Por isso eu sou uma privilegiada! porque posso ter três narrativas sem ter de excluir nenhuma, porque tenho amigos que escrevem, porque sei ler, porque posso sentar-me no muro, sob o sol de Inverno, ouvindo as brincadeiras dos cães e  saboreando o poder da escrita!

Sem comentários:

Enviar um comentário