sábado, 30 de março de 2019

LAMPREIA

Comer lampreia não é para todos. Há quem se delicie, há quem sinta uma tal repulsa que impede que prove. Eu adoro lampreia! Sobretudo, adoro a lampreia que a Lena cozinha, ali junto à barragem de Belver, no apeadeiro do comboio.
Quando era miúda, era obrigatório, duas vezes por ano, ir à Lena. Brincava cá fora, com outras crianças, enquanto os adultos almoçavam. Mais velha, era a companhia do meu Pai nestes momentos. Conduzia, e como o meu Pai confiava na minha condução!, e conversava durante o maravilhoso petisco. Então, as lampreias eram apanhadas ali mesmo, no Tejo, junto à barragem. Havia muitos barcos, lembro-me de ver sacos cheios daqueles animais escorregadios, feios, mas muito saborosos. Hoje, voltei à Lena. Já não há muitos barcos a pescar, o rio parece uma ribeira, não vi lampreias vivas. Mas comi lampreia deliciosa, vinda do Mondego…
É assim a vida. Muda tudo, alteram-se cenários e práticas mas, para mim, há sempre uma ligação emocional que nenhuma modernidade consegue destruir.
Ir à Lena, comer lampreia, não só me consola o estômago como me enche de emoções e memórias que não quero perder!

quinta-feira, 28 de março de 2019

METAS

"Deus fez o céu para justificar os pássaros", diz Mia Couto. Porque Deus sabe que sempre há uma causa menor, para a imensidão em que nos perdemos. Olho o céu cansativamente azul, vejo as aves que desconhecem limites e lembro Mia Couto. Talvez seja a presença das imagens de destruição de Moçambique que me desassossegam, talvez a insuficiência de palavras para dizer o que se me cola à pele. Gostava de poder inventar uma nova gramática, uma nova forma de dizer, sem palavras gastas, sem regras que travam o pensamento no dique dos possíveis. Na minha gramática por inventar, tão minha, toda a poesia haveria de correr na liberdade de não ter, nunca, de chegar a lugar algum.
Às vezes apetecia-me meter algumas palavras na máquina de lavar a roupa, escolher o programa mais quente, e retirá-las encolhidas e sem serventia. No mesmo programa, poupando água, enfiaria os preconceitos, as verdades alheias, as distâncias impostas e as mil hipocrisias sociais. Havia de as deixar secar qual o peixe na Nazaré, depois, com que prazer as olharia imprestáveis!

PERDÃO

Peço perdão, meu amor, porque te amo
Peço perdão, meu amor, porque te quero
Peço perdão, meu amor, porque te respiro
Peço perdão, meu amor, porque te lembro.

Peço perdão, ser, por não ignorar
Peço perdão, ser, por não desamar
Peço perdão, ser, por não perfecionar
Peço perdão, ser, por nunca acertar.

Peço perdão, vida, por vacilar
Peço perdão, vida, por fraquejar
Peço perdão, vida, por falhar
Peço perdão, vida, por sonhar.

Peço perdão!

quarta-feira, 27 de março de 2019

A MINHA ESCOLA

Acredito, e quanto mais olho o mundo de hoje mais acredito, numa Escola completamente transformada. Sei, porque vejo, oiço e leio, que o mundo de amanhã, que é o de hoje, exige competências que vão muito para além da aquisição de conteúdos, que ao trabalhador de agora não se pede o mesmo que se pedia ao trabalhador de há dez anos. Sei também, embora às vezes finja não saber, que há muitos professores exaustos e desiludidos, que a vontade de fazer diferente, a confiança no sonho, já não é muita. Ainda assim, tenho dificuldade em compreender argumentos assentes na defesa do modelo da instrução, arreigados à pedagogia da transmissão. 
Na Escola que defendo, todos os espaços são de aprendizagem e as competências cívicas, humanas e sociais são efectivamente desenvolvidas. Queria (quero) uma Escola sem muros, feita de partilhas e de proximidade, criando links entre diferentes domínios. Quero, mas convictamente, que a Escola ajude a construir um mundo diferente e melhor, mais equitativo, mais capaz de combater e minimizar as diferenças do berço. Talvez eu nunca chegue a ver, menos ainda a trabalhar, na Escola que desejo mas, com certeza, gerações futuras terão esse privilégio. 
Estranhamente, tranquiliza-me essa certeza...

DÚVIDA

Tens um abraço para mim? Um abraço corda, concha também. Um abraço que me proteja do vento forte que me despenteia, da saudade que me dilacera, da solidão que me consome. Um abraço total, que nos faça um só como quando, nas noites quentes, dançamos abraçados, descalços,  num ritmo único.
Tens ainda aquele abraço que enches de murmúreos  no meu ouvido, aquele que me entra no sangue e provoca calafrios? Dás-me um abraço? Daqueles de deixar a minha cabeça descansar no teu ombro, arrumando dores e calando mágoas? Tens um abraço para mim? Daqueles com a intensidade do siroco, com a fúria quente do suão? Tens um abraço ainda? 
Faz-me falta, agora, o teu abraço. O nosso abraço. O abraço. Tens um abraço para mim?

terça-feira, 26 de março de 2019

DOENÇA NA SAÚDE

Pobre e injusto país, este Portugal. Cada vez mais, seja que governo for, me confronto com a injustiça crescente, com o privilégio de alguns, com a degradação da qualidade de serviços tão fundamentais como a saúde! Estou habituada a ouvir dizer eu é em Portalegre, que nesta cidade devemos fugir do Hospital, mas, afinal, não é só por cá…
Como é possível que uma criança, seis anos!, vá ao hospital de Braga queixando-se de fortes dores de cabeça, de tonturas, depois de uma queda violenta de um baloiço, e espere sete horas até ser atendida? Melhor, ou pior…, desesperar e ter de recorrer ao hospital privado? É incompreensível! Em Portugal, um país tão pequeno, só há saúde para quem pode pagar mas, paradoxalmente, todos pagamos impostos. E pesados! 
Eu nunca fui socialista. Nunca acreditei em políticas totalitárias mas, confesso, nunca tinha sentido na primeira pessoa a injustiça viva. Tenho sido uma privilegiada, admito. Não acredito num país só para alguns. Que mágoa tenho! Que revolta experimento! 

sábado, 23 de março de 2019

Diversidade

Embora Portugal seja um país pequeno, a diversidade de paisagens, de falares, até de viver, são imensas. Sempre que venho ao Minho, surpreendo-me com a água que corre forte, com o verde, com o orgulho nas muitas tradições.  Aqui, na alegria dos netos, é bom reinventar a existência!



quinta-feira, 21 de março de 2019

NEW ORLEANS

Não era hora de ninguém tocar à porta. O carteiro já tinha passado, e ele nunca toca duas vezes,  os meus convidados para o almoço ainda não tinham chegado. Abri e surpreendi-me: - Uma amiga muito especial, uma colega que sempre admirei, uma viajante atenta e curiosa, trazia-me uma oferta: O mapa, usado, de New Orleans. Usado por ela, que é especialista em olhar e VER, usado na descoberta de uma cidade onde eu irei em breve. 
A D. desafiou o meu olhar, provocou os meus sentires nesta vontade de ir aquele lugar longínquo e diferente.  
Quando a campainha tocou, eu estava a queimar o leite de creme. Misturou-se o doce da amizade com o açúcar queimado e o meu dia, que se adivinhava particularmente difícil, ganhou uma doce suavidade.
Obrigada é insuficiente para dizer à D. como o gesto dela me tocou. New Orleans vai ser ainda mais maravilhoso quando acontecer.

... E as memórias...

Quando nasceu, tinha os olhos enormes, muito escuros, e olhava-me, embrulho terno, como se perguntasse como ia ser. Embalei-a, toquei-lhe as mãos pequeninas e achei-a linda. Era a minha sobrinha, a minha Leonor. O médico, com humor, sugeria que se chamasse Vera, para as primas terem uma prima Vera, uma vez que nascera a 21 da Março. Mas ficou Leonor Maria. Leonor é um nome frequente na família (acho que um nome lindo mas que não traz felicidade), e a minha sobrinha foi crescendo. Era Maria-rapaz, gostava de jogar à bola, de usar calças, de montar a cavalo. Em pequenina, ficava muitas vezes comigo, dormia na minha cama, ouvia as minhas histórias e abraçava-me com o amor genuíno que só as crianças conhecem.
O tempo voou. Hoje, a minha Leonor - porque sempre será um pouco minha -, faz 29 anos. E eu olho o ontem com estupefação. Como é possível que a minha menina de olhos grandes já tenha 29 anos?
Tenho saudades da minha Leonor. Saudades das brincadeiras, do sorriso, da tentativa de mascarar a imensa emoção que a move.
Parabéns, Leonor!

terça-feira, 19 de março de 2019

MAS AS CRIANÇAS, MEU DEUS!

O que está a acontecer em Moçambique, naquele enorme paraíso natural onde vinga a fome, a doença, a injustiça dos homens, tem-me tirado o sono. Na sequência das chuvas torrenciais, da crueldade violenta de uma natureza em fúria, há milhares de mortos, de desalojados e de desaparecidos. 
Os Media dão-nos imagens de horror absoluto e o mundo, nós todos, olha para o lado como se não nos dissesse respeito. Lá, naquele lugar onde agora  o nada abunda e a dor não para de crescer, há crianças. Crianças que sofrem sem compreender, crianças sem família, sem comida, sem água, sem ternura, sem escola, sem colo. Crianças de grandes olhos surpresos que nos questionam a todos. Como podemos continuar indiferentes? Como podemos aceitar que pouco se faça, que continuemos a olhar noutras direcções?
O sofrimento humano dilacera-me mas, quando há crianças, sinto uma revolta impotente que me tira o sono. Onde estão a ONU? A Cruz Vermelha? A UNICEF? Onde estão, afinal, os homens de boa vontade?
Não sei qual seria a solução, mas penso que o pouco que se faz não pode deixar-nos sossegados!
Lembro o poeta Augusto Gil: 
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…

sábado, 16 de março de 2019

ENROLA NA PALAVRA

"O mar enrola na areia, ninguém sabe o que ele diz"... é um verso de uma canção que ouvia na infância e que, hoje, insiste em ecoar na minha cabeça. Deve ser este sol fora de tempo, o desejo de olhar o mar e caminhar na areia, talvez a certeza de que, por muito que se diga, se escreva, se grite, sempre haverá quem não oiça, ou não compreenda, o que dizemos. 
Neste mundo meio louco, cada vez parece ser mais difícil comunicar, tornar comuns ideias e opiniões. Por isso, hoje antecipo a minha chegada junto ao mar para, com os pés na areia e ainda longe da agitação do Verão, poder partilhar com as ondas a incompreensão do que oiço, a tristeza pela incompreensão do que digo.
Felizmente, é sábado e posso ir cheirar o mar que embalou os sonhos dos portugueses de outrora.

quinta-feira, 14 de março de 2019

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

O crescente número de casos de violência doméstica que a comunicação social nos tem revelado preocupam-me. De facto, qualquer forma de violência me incomoda. 
Talvez, penso, sempre tenham sido muitos os casos de violência doméstica e, por serem aceites como "normais", não tenham sido divulgados. Não sei, nem quero especular. O que sei é que não compreendo nenhuma forma de violência sobre o outro e sei, sei na primeira pessoa, que a violência doméstica nem precisa de ser física para doer e destruir. 
O vício de humilhar, de criticar, de condenar o outro é, também, forma de violência. Lembro alguns namoros de alunos, com telemóveis controlados e com as miúdas a acharem que "era normal"!  Em nome de uma palavra perigosa - transparência - há namorados, maridos, companheiros, que sufocam e limitam, desrespeitando a dignidade do outro, a liberdade de cada um.
Defendo, pois, que se fale muito da violência sobre o outro, que se denunciem formas mascaradas de opressão e que o tema seja recorrente na escola e nos Media. É preciso ensinar o respeito por nós próprios, é urgente impedir que mulheres (e alguns homens) se deixem humilhar e destruir por culpas constantes, por discursos ofensivos e opressores. Se uma relação não resulta, creio que, mais importante do que apontar culpas é, a dois, encontrar soluções ou optar pelo ponto final.
O Amor nada tem a ver com posse e ódio.  AMAR é sempre algo que nos torna melhores, mais felizes e leves, mais risonhos e confiantes. 
Olhando a realidade, chego a ter pena de quem não é capaz de amar e destrói relações optando pela violência. Há uma canção, talvez do Júlio Iglesias, que diz que, mesmo sem  se ser amado, é sempre mais feliz quem mais amou. Concordo! Amar é um privilégio!

quarta-feira, 13 de março de 2019

DIA BOM

Sou, desde sempre, grande adepta da conversa, do diálogo. Gosto de trocar ideias, de ouvir e de dizer, de concordar e discordar. Acredito, mas de verdade, que se  treinássemos mais a nossa capacidade de conversar o mundo seria bem diferente. As conversas de surdos, aquelas onde cada um tenta apenas fazer valer o seu ponto de vista, fomentam guerras e ódios. Penso  mesmo que quem não sabe conversar, quem não é capaz de reformular opiniões, quem é obstinado ao ponto de recusar alterar formas de pensar, não revela grande inteligência.
Pessoalmente, já tive muitos dissabores por ousar discordar e, ao longo da minha já longa vida, já mudei de opinião algumas vezes. E sinto-me bem com isso!
Hoje, vai ser um dia de boa conversa e eu estou contente de verdade. Admiro, profundamente, os dirigentes que sabem ouvir, que não se fecham em certezas que tentam impor. Por isso, hoje antevejo um dia bom, de trabalho e real aprendizagem! Estou mesmo satisfeita por poder trabalhar assim. Às vezes.

segunda-feira, 11 de março de 2019

MISERÁVEL

Inqualificáveis, para mim, os programas que a SIC e a TVI nos oferecem no domingo à noite! Quem quer namorar com um Agricultor, e Quem quer casar com o meu filho, são programas que colocam a mulher num patamar de humilhação social que nenhuma sociedade devia consentir. 
Assinalamos o Dia da Mulher, lembramos a igualdade de género, defendemos a dignidade do ser humano, garantimos que ser mulher não é lavar roupa, cozinhar e coser meias, alarmamos-nos com a crescente violência doméstica e, depois, de repente, entra-nos em casa a humilhação em forma de pseudo entretenimento! Que tristeza! Que indignação! Como podemos acreditar que a sociedade se humaniza, que estamos a tentar construir um mundo mais justo e mais livre?
Garantem que o modelo foi importado de outros países, mas isso não me consola. Com a mediocridade alheia posso eu bem...

sábado, 9 de março de 2019

COZINHA E AMIGOS

Quando eu era adolescente, o que me dava mais prazer era ir para Monforte, montar a cavalo, ou fechar-me no sótão, empoleirada na janela, a ler. Era, também, o tempo do Crisfal, e as idas ao cinema, nos sábados, eram a maior das alegrias!
O tempo passou, depressa demais, e hoje os meus prazeres são bem diferentes. Hoje, um dos meus maiores prazeres é ter a mesa cheia de bons amigos e poder cozinhar para eles. Gosto de cozinhar, de experimentar, de desafiar receitas e de temperar com ternura os pratos que cozinho. Foi o meu Pai quem  deixou em mim este prazer de estar com amigos, horas sentados à mesa, conversando e cimentando cumplicidades. Hoje, dei sentido à minha tarde cozinhando uma sopa de tomate - bem alentejana! - e um caril de legumes - a lembrar os Descobrimentos e a Dinamene de Camões.
Já sei, claro, que caril não é uma especiaria, mas o resultado de uma combinação de especiarias e, ainda assim, compro-o em pó.  Nunca ousei fazer a mistura em casa. Para sobremesa, morangos, ananás e chantilly. Agora, com a casa cheia de odores distantes, sonhando com ventos de areia e olhares escuros, vou pôr na mesa a loiça azul e branca. É tão bom ter amigos! 

Narrativa

Quem escreveu o guião da vida, não me criou personagem. Sinto que não sou figura de roteiro alheio e, por isso, faço o meu caminho, escrevo o meu guião. E, hoje, desafio-te a entrares em mais um capítulo da minha existência.
Hoje, o sol brilha e os campos enchem-se de afazeres. Estão a podar as árvores, a limpar os enormes sobreiros, a queimar os restos que o Inverno deixou. Por toda a Serra há espirais de fumo, a terra respirando, e todos apontam para o céu. Para o lugar inacessível onde dormem os sonhos. O chão está coberto de ramos e folhas, de bolotas e landes, e os homens falam alto, uns para os outros, orientando as tarefas. Os cães correm, espalham tudo, não percebem a agitação. 
Estou agitada, também. Queimo os ramos sem sentido da minha realidade, sentes o fumo? Vá lá, está purificado o ambiente. Vem daí, atira as regras alheias para a fogueira e vamos escrever a nossa narrativa. Na primeira linha os sentires, pode ser? Vá lá, vamos caminhar e observar as corridas dos coelhos, as filas das formigas, o andar bamboleante das vacas, o voar dos pardais tontos. Não há mar, aqui. Mas há a força da terra viva, habitada, cheia de seiva de futuros a haver. Vá lá, ignora as regras dos outros, escapa ao livro que todos leram, anda daí, vamos rir-nos de nós mesmos, vamos reinventar a essência e sermos os dois um só na plenitude da comunhão. Aceitas? Anda daí, vamos escrever uma narrativa a quatro mãos. Hoje. Agora. Já. 

sexta-feira, 8 de março de 2019

OPINIÕES

Há dias assim. E há outros menos assim, felizmente. Há dias em que eu, na aparente liberdade da minha existência, me sinto absolutamente farta, esmagada, sufocada, por aquilo que outros pensam que eu devo ser. Devias ser assim, devias ser mais assado, devias responder alhos, devias calar bugalhos. Que cansaço! Nunca, acredito cum saber de experiência feito, existirão relações humanas pacificas e harmoniosas enquanto alguém quiser impor a sua vontade, a sua forma de agir, a outrem. Afinal, as imposições sobre o que devemos ser, pensar, ou até sobre a forma como devemos agir, são uma forma de violência!
Hoje, Dia da Mulher, penso nesta violência mascarada e indigno-me. Ah, Liberdade!
Como diz Sophia
"Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar!"

quinta-feira, 7 de março de 2019

VIOLÊNCIA

Não devo ser a única a não compreender o mundo que integro. Não compreendo esta realidade de ódio, de mesquinhez e violência. Não compreendo o que foi que, ao longo do tempo, fez com que a vida, e o direito à vida, passasse a ser encarado como algo de somenos importância. Homens matam mulheres quase diariamente, mães matam filhos, pais matam crianças, vizinhos disparam sobre vizinhos e os funerais sucedem-se, a indignação também. Marcam-se dias, chama-se a atenção de todos para o horror crescente, mas nada parece resultar… H
oje, assinala-se o dia de luta contra a violência sobre as mulheres. Hoje, a comunicação social, os cidadãos preocupados, dão voz à revolta e à mágoa. Mas é pouco! Creio, no meu vício de pensar, que é preciso alterar os modelos sociais, que é preciso reformular, estruturalmente, a sociedade. Com a evolução tecnológica, talvez sem darmos por isso, fomos focando a nossa acção humana no fazer e esquecemos o ser. Agora, somos confrontados com o resultado…
Não sei qual será a solução, ou se haverá solução, mas acredito (tenho de acreditar) que é necessário desenvolver uma pedagogia social feita de humanismo, assente em Valores como o respeito pelo outro, o direito à vida, a individualidade. E não só à Escola cabe esta árdua e urgente transformação. Os Media, os políticos, as diversas associações, deviam aderir a este paradigma no qual, se calhar, só eu acredito!
Ontem, mais uma mulher foi morta. Hoje, esvoaçam parangonas. Amanhã, se calhar, outra mulher será morta.

terça-feira, 5 de março de 2019

CARNAVAL

Se há época do ano de que não gosto, sem dúvida é o Carnaval. Não gosto dos mascarados, não gosto dos papelinhos, das pessoas despidas a bater o dente com frio, dos homens vestidos de mulheres, da alegria que sempre me parece falsa e construída. Não me lembro de alguma vez me ter mascarado, mas lembro-me que a minha filha F, tal como eu, detestava esta época e recusava ir à escola, enquanto a J. um mês antes já andava a pensar nas máscaras... Não sei sequer se o Carnaval surgiu nas festas de chegada da Primavera, numa origem pagã e natural, se da despedia aos excessos para a entrada na Quaresma, numa origem religiosa. Seja como for, para mim, e na liberdade de pensar que (ainda) me assiste, o Carnaval é uma época obesa de vazio. 
No entanto, como nunca há nada 100% mau, nem 100% bom, agradeço ao Carnaval o privilégio de poder, hoje, terça-feira, ficar em casa jiboiando, lendo, escrevendo e dando sentido à existência! 

segunda-feira, 4 de março de 2019

Interrupção

O Ministério da Educação não deixa que tenhamos férias de Carnaval. Felizmente, arranjou o eufemismo da interrupção lectiva... Eu sigo à letra! Interrompo a vida, quebro a rotina e encho-me do carinho dos netos! São eles a minha maior razão de seguir vivendo!

sexta-feira, 1 de março de 2019

Tão Bom

E mesmo bom estar viva, rir, brincar e fazer anos. E bom ter muitos amigos, receber mimos e parabéns! É bom envelhecer almofadada de carinho.

ANIVERSÁRIO

Faço anos hoje. Nasci no dia 29 de fevereiro de 1960, numa terça-feira de Carnaval - eu que odeio o Carnaval-, três dias depois do terrível terramoto de Agadir que, embora não muito intenso, matou cerca de 15 mil pessoas. Nasci em Lisboa, eu que tenho Portalegre colada à pele e sou feita de Alentejo. Enfim, o destino, ou seja lá o que for, sempre foi directo comigo: - Não ia ser fácil viver!
Vim para Portalegre com oito dias, aqui continuo e não penso ir embora. 
O facto de ter nascido a 29, um dia que só tem existência no calendário de 4 em 4 anos, faz com que, todos os anos, me perguntem se devem dar-me os parabéns a 28 ou a 1. Invariavelmente, respondo que faço anos dia 1de Março, porque nasci no final do dia que sucedeu a 28, mas as pessoas ignoram e dão-me os parabéns a 28, ou duas vezes. Receber parabéns é muito bom! É bom pensar que, nem que tenha sido por um segundo, alguém pensou em mim.
Gosto de fazer anos. Gosto de parabéns, gosto de abraços especiais, de beijinhos, de jantar num lugar diferente, de receber flores. Gosto de celebrar a vida, eu que já pensei em desistir dela…
Este ano, depois da magia de Roma, fazer anos tem um significado ainda mais profundo. Obrigada, vida!