quarta-feira, 3 de abril de 2019

(DES)ILUSÃO


Do lado de lá do passado, não há nada. No passado, nada é. O presente ilude-nos e, talvez por isso, talvez, também, pelo medo do futuro, tendemos a refugiar-nos no passado que julgamos terreno seguro. 
Mas o passado não está lá. O passado foi para o mundo dos sonhos, para a espuma das ondas e nunca mais é verdade. Campos dizia que deveria ter trazido o passado roubado na algibeira, mas sabia ser um condicional impossível. O passado é uma esteira, feita de cinzas e brilhos como o do fogo-fátuo. O futuro, por outro lado, é um sonho a haver, uma realidade que raramente o será. A gente sonha, imagina, planifica, acredita, projecta e, depois, a vida, ou a sucessão de dias de cada existência, destroem tudo e mostra que temos mesmo de nos satisfazer com cada instante.

Só que, pelo menos para mim, os instantes são transições de tempos sem sentido.

Ah… Sentido. 
Talvez, quem sabe, a questão seja mesmo ignorar a existência de sentido e viver ao sabor do momento, saboreando a certeza de que não haverá desilusão, porque nunca chegou a existir ilusão!

1 comentário:

  1. Luísa, o seu texto seria ótimo para um prefácio de qualquer livro que trate e advogue a prática do “Mindfulness” que defende que nos preocupemos apenas com o “Aqui e Agora” já que o passado não se repete e o futuro ainda não existe!

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