sexta-feira, 31 de maio de 2019

BEETHOVEN

Ontem, depois de um dia de muito trabalho, tive o privilégio de ouvir, na minha cidade de Portalegre, a fabulosa orquestra da Gulbenkian. Os violinos tocam as cordas da minha emoção, mas a oitava sinfonia de Beethoven, a alegria enérgica, a força dos instrumentos, transportaram-me para espaços inexistentes. Hoje,  a caminho do Norte, respondendo aquela necessidade intensa de lamber as crias, fiz 400kms ainda cativa de Beethoven. Incrível o poder da música!!

terça-feira, 28 de maio de 2019

SENTIRES ABSURDOS

Sim, é verdade. Assumo, sem vergonha, que tenho saudades. Tenho saudades da presença, do abraço, da gargalhada, das perguntas inoportunas, das observações pertinentes. 
É verdade que sei que a vida é mesmo assim, que se cumpre numa sucessão de dias que, por vezes, se enchem de coisa nenhuma, mas, mesmo assim, sofro. Tenho saudades do meu Pai. Tenho muitas saudades da casa amarela, das tardes na varanda, das noites com orquestras de cigarras, dos pirilampos que se escondiam nos vasos do rosmaninho e do alecrim. Tenho saudades de adormecer sem angústias, sem sentimentos de perda, sem a certeza de que, quando o sol nascer,  é apenas só mais um dia...
É verdade mesmo. Tenho saudades. E sei que as saudades não servem para nada!

segunda-feira, 27 de maio de 2019

RESILIÊNCIA

Tudo começou em 2016. 
Foi publicado o Despacho 1-F, começava a preconizar-se uma avaliação efectivamente para as aprendizagens, dizia-se que as Escolas deviam elaborar os descritores de desempenho. O 1-F era apenas para seguir até ao 3º ciclo e, ou fosse porque era mesmo inovador, ou fosse porque começava a romper práticas habituais, foi posto de lado na maioria dos Agrupamentos. 
Na minha escola, a luta começou feia. Argumentei, insisti, lutei, briguei, fiz exposições ao Conselho Pedagógico, mas não consegui nada. De facto "se uma pulga não pára o combóio, faz pelo menos muita comichão ao maquinista" e eu só consegui mesmo fazer cócegas a alguns maquinistas que defendiam as máquinas a vapor...
Em 2017, veio o Perfil do aluno à saída da escolaridade obrigatória. Era já subdiretora, nesse ano, e pude tentar discutir o documento de forma alargada. A direção promoveu diversas sessões de esclarecimento. Era, para mim, uma porta escancarada para a Escola em que acredito: - Uma Escola centrada em cada aluno, a ajudar a formar cidadãos, real e efectivamente para todos, onde a avaliação visa a melhoria das aprendizagens e não a classificação e seriação, (e exclusão), dos alunos. 
Em julho de 2018, naquele dia 6 que não esquecerei, nasceram os gémeos, o 54 e o 55.
A meus olhos, tudo estava a acontecer na Educação e, pela primeira vez nos meus 34 de carreira, dizia-se - ESCREVIA-SE! - que cada Agrupamento/Escola tem identidade própria. Os professores, intelectuais e cosmopolitas, penso eu, podiam olhar a sua realidade e repensar metodologias. Podiamos até, e podemos!, mexer na matriz curricular. Podiamos criar novas disciplinas! E, se achassemos que 25% de autonomia era pouco, podiamos pedir mais. Houve quem pedisse, felizmente!
Agora está calor, estamos a terminar o ano lectivo de 2018/19 e eu ainda encontro muitos professores preocupados com os exames. (Como se os exames mostrassem fantásticos desempenhos de Agrupamentos...)
Eu acho que sou resiliente. Não desisto, continuo no meu combate por uma Educação mais equitativa, mais democrática, mais efectiva e real. Continuo a acreditar que se queremos um amanhã (daqui a bocadinho) melhor, e EU QUERO, temos de agir de outro modo. No entanto, às vezes sinto que já não tenho mais forças. Já não posso ouvir falar nos exames, nos dois ou três alunos de cada turma que entram na faculdade em cada Agrupamento!
Às vezes, já nem tenho paciência para esgrimir argumentos. 
Às vezes, como o Poeta, tudo o que tenho em mim é um
íssimo, íssimo, íssimo
Cansaço!

domingo, 26 de maio de 2019

ASMA

Só quem sofre de asma, não apenas de alergias, compreende o sofrimento que implica a sensação de não poder mais respirar, de pensar que, num instante, tudo vai para sempre escurecer. 
Tenho asma desde miúda, treze anos, e já tive alguns períodos muito maus. Nos últimos anos, felizmente, porque a ciência não pára de evoluir, andava até esquecida desta maldita doença. Este ano, como se a Vida achasse que tenho sofrido pouco, a asma voltou a incomodar-me muitíssimo. Carrego sempre uma tosse funda, uma falta de ar que me provoca indescritíveis dores de cabeça e  um cansaço inexplicável. Às vezes, penso mesmo que o escuro definitivo seria um alívio, um terminar deste sufoco constante. Depois, olho o mundo, repenso a vida, lembro os abraços dos meus netos, as conversas com as minhas filhas, os passeios com os meus cães, as caminhadas à beira-mar, as cores da minha Serra, a Sé da minha cidade, e fico com muita pena se, de repente, o escuro vier de vez...

quarta-feira, 22 de maio de 2019

DESGOSTO

Os javalis fizeram um buraco na rede e, num instante, os meus cães, os três, desapareceram. Os meus cães são os meus mais fieis companheiros, os únicos que nunca me falhavam (até agora), os que me faziam sorrir mesmo quando chorar era a minha vontade. Agora, desapareceram. Fui à PSP, à GNR, pedi ajuda aos amigos, divulguei a minha preocupação nas redes sociais, mas já passaram 48 horas e eles não aparecem. Muitas pessoas os viram, garantem-me que eles andam por aí, correndo, explorando o terreno, mas ninguém os prende e eu continuo sem saber deles. Há duas noites que não durmo! 
Ao longo da minha vida tenho sofrido muitas desilusões, muitos abandonos e injustiças, mas a fuga dos meus três cães está a ser difícil de superar. Talvez eles voltem, talvez os apanhem, talvez alguém mos traga mas, até lá, estou destroçada!

domingo, 19 de maio de 2019

SEMINÁRIO

O dia estava ventoso, frio, como se uma mão natural quisesse mostrar-me que há, de facto, necessidade de soprar com força sobre a Educação. Na minha cidade, no lindíssimo Centro de Congressos que já foi Igreja, naquele lugar onde, penso eu sempre, já jesuítas pensaram a educação, mais de 150 professores juntaram-se porque Na Educação Acontece. E acontece tanta coisa, na Educação! Acontece a possibilidade, fantástica e complexa, de poder ajudar a mudar o mundo. É na Escola SIM que tudo acontece! Ouvia alguns colegas mais desiludidos, agora temos de fazer tudo na aula, e sorria em silêncio. Como é bom poder fazer tudo na aula! Como é bom poder desenvolver competências em todos, poder educar para valores humanistas, poder ajudar a valorizar o conhecimento.
É mais livre quem mais sabe, é mais feliz quem é mais competente, é mais humano que tem mais Valores éticos e morais. E está aí, na sala de aula, provocando olhares e fazeres, a possibilidade de nós, os professores, trabalharmos tudo isto com todos. É gratificante pensar que, finalmente, podemos abrir a janela do currículo e olhar a paisagem do mundo para, em conjunto, encontrarmos formas de a humanizar cada vez mais. 
O dia 17 de Maio de 2019, para mim, foi mais um dia especial. Provocatório, desafiante, cansativo, mas com significado. Assim, vale a pena ser professora, apesar de todos os apesares...

quarta-feira, 15 de maio de 2019

TRABALHO

Trabalho, trabalho, trabalho. Nos intervalos, trabalho. De noite, pensar o trabalho a realizar. Os dias somam-se e diminuem-se, numa matemática alucinante, e os cabelos brancos multiplicam-se. Às vezes, nesta voragem do tempo, parece que corremos apenas  para iludir a vida, para esgotar a existência. 

sexta-feira, 10 de maio de 2019

PENÉLOPE

Ninguém o mandou embora. Fez a mala, despediu-se com indiferença jovem, e partiu. Era o cumprimento de um sonho antigo, tão antigo quanto os seus 30 anos permitiam antiguidade, embarcar em busca de novas experiências, navegar em direção ao Ártico, estudar fenómenos que o atraiam. Deixava os pais, a mãe inconformada, mas, às vezes, partir é a única fuga possível. Olhando Lisboa, o céu azul e o casario empoleirado, o Tejo correndo calmo, os cacilheiros num balançar lento, os corpos nus dos milhares de turistas ganhando cor, afastava a saudade da cidade. Ía partir. E o tempo exigia que olhasse em frente, que pensasse amanhã e não ontem. O que deixava? A mãe, um amor impossível também.
Acelerou a passada e subiu ao navio. Apresentou-se. Era oficial, afinal, e tinha uma missão, uma investigação a desenvolver.
No café do cais, por detrás dos vidros salgados e baços, ela viu-o chegar, subir olhando para trás. Ficava ela. Envolta na incompreensão do abandono que as partidas deixam na existência das gentes.
Ela ficava. Penélope da modernidade. E o vidro baço, que impedia que ele visse as lágrimas, impedia, também, que ela visse o amanhã. Esse, que é sempre novo!

terça-feira, 7 de maio de 2019

ANIVERSÁRIO

Há 34 anos, por esta hora, eu acordava de uma cesariana de risco no Hospital de Santa Maria. A minha filha Joana acabava de nascer e o Dr. Mota Pinto morria… Foi a última informação que retive, antes da anestesia, dita por uma enfermeira que entrou no bloco.
Num instante, passaram 34 anos. O meu bebé já tem dois filhos, voou para longe de mim e deixou uma cratera no meu coração. Sempre que chega o 7 de Maio, as saudades doem mais. Lembro as festas cheias de crianças, os aniversários de adolescente, e volto a pensar que o Tempo devia ser multado por excesso de velocidade!
Parabéns para a minha filha!!

segunda-feira, 6 de maio de 2019

O LIVRO

Eu digo, e redigo, e insisto em dizer, que nunca mais faço nada para além do estritamente necessário. Mas volto sempre a fazer… Agora, é um projecto de um novo livro a desinquietar-me. Publicar é, sempre, dar a alma à palmatória e eu tenho recebido muitas palmatoadas da vida. E lá vou, de novo, colocar-me a jeito para ser criticada e condenada. Em breve, aí estará o Prateleiras de Insignificâncias, um título "roubado" ao meu avô, que o usou em 1941. Não é bem como se um filho me nascera mas é, sem dúvida, um acontecimento que me inquieta e desafia!
Afinal, como diz um livro que o meu irmão me ofereceu, "Mulheres que escrevem vivem perigosamente!" e eu bem sei o que  isto quer dizer!