sexta-feira, 18 de outubro de 2019

60

É um número redondo. Um número com força psicológica: 60! Eu, que não gosto de números e tenho com eles uma relação difícil, olho com suspeição e temor os 60 anos... 
Hoje, chegaram para a minha amiga-irmã. 
Somos amigas desde o tempo em que não há memória, quando as urgências são a dias, e os amores eternos na sua reduzida temporalidade. Juntas, subimos e descemos mil vezes a rua do Comércio, ora cantando os verbos irregulares em inglês, o Dr. Renato o exigia, ora comentando as paixões adolescentes, ora rindo de coisas tão importantes como escorregar na calçada. Andávamos sempre juntas e, quando nos separávamos, corríamos para o telefone para continuar conversando. Era o tempo das telefonistas a perguntar "número??" e a interromper a ligação para anunciar que havia chamadas urgentes para o meu Pai e, por isso, tínhamos de desligar. Era, também, o tempo do Crisfal nos sábados, a fila J, as ousadias iniciais e a partilha sobre as sensações recém descobertas. A Praceta ouvia as nossas confissões. Gastávamos o cimento do muro com os nossos rabos, experimentávamos as motas dos amigos e dançávamos na garagem. Era o tempo dos slows (que nós tornávamos ainda mais slow), e de tudo o que os mesmos permitiam.
Depois, o tempo passou. Filhas, problemas, netos, responsabilidades e a amizade verdadeira a ficar sempre. Não podendo ser irmãs, tornámos-nos comadres, trocamos afilhadices. A distância emocional resistiu aos quilómetros físicos, a cumplicidade manteve-se, os segredos continuaram a ser só nossos. 
Hoje, a minha maior amiga chega ao número simbólico e vence mais uma barreira. Experimento um misto de emoções: - Alegria-esperança-receio-saudade!!
Se eu chegar aos 60, faltam 4 meses, hei-de festejar de verdade!!

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