domingo, 29 de abril de 2018

O REFUGIADO

O meu neto Manuel Bernardo mandou-me, de Guildford, um refugiado. A carta, escrita por ele, cheia de ternura, contava-me que está a estudar a 2ª Guerra Mundial e, por isso, precisava que eu acolhesse este refugiado que ele tinha conhecido e lhe mostrasse o meu país. Dizia-me, ainda, que ele estava sozinho e precisava de companhia. 
Dei o meu melhor! Até fiz um bolo para o Finn Carmona (assim se chama ele) e deixei-o brincar com o Zorba.
Agora, o Finn vai voltar para Inglaterra e eu, confesso, já tenho até saudades dele...
Incrível como aprender pode ser tão divertido, e eficaz, através de uma efectiva construção de sentidos!

A RAZÃO DE SOPHIA

A Sophia tinha razão. Tinha muita razão! As palavras esvaziaram-se, perderam o valor, prostituiram-se por uso inadequado e excessivo... Por isso, dizes que me queres partindo para longe, prometes o para sempre que morreu lá atrás, numa curva do passado. Falas de futuro  carregando o passado na pele, o impossível no olhar, e dizes que sim com a convicção que reconheço no eterno não, feito impossibilidade. Que sim, um dia, garantes. E eu adivinho o dia do adeus final, o impossível finalmente realizado. O amor dito soa a eco de outros possíveis, os para sempre arranham de certeza negada.
Pois é, a Sophia tinha razão. Porque não é possível mais purificar as palavras, reinventar sentidos, construir agoras. Porque as palavras, etéreas e frágeis, não têm já essência e a aparência, enfim, mascarou-se-lhes de ilusão cansada. Usada. 

domingo, 8 de abril de 2018

Coincidências?

Saí de casa, hoje, com pouca vontade. A chuvinha contínua, uma tristeza funda vinda não sei de onde, a desculpa de muito que fazer para voltar à rotina com aulas, tudo parecia insistir para que ficasse em casa. Mas a minha fé, às vezes excessivamente hesitante, fez-me arranjar coragem para ir à missa. 
Escolhi, deliberada e conscientemente, um banco vazio na Sé de que tanto gosto. 
Sentada há um minuto, chegou um olhar cheio de amizade, eu hoje fico aqui e faço-lhe companhia, que se sentou a meu lado. Soube-me bem a companhia,  a oração que ouvi dos lábios do meu companheiro de banco. 
Não sei se há, ou não, coincidências, mas sei, aprendi já, que há momentos que parecem de encomenda para nos dizerem que a vida só faz sentido se em relação com os outros. 
É bom ter amigos!