terça-feira, 29 de outubro de 2019

ESQUISITICES

Aproxima-se o dia das Bruxas, o very british Halloween, e as crianças andam entusiasmadas. As lojas oferecem tentações, até roupa de bruxas, abóboras decoradas, etc. É o mundo vivo! É a globalização que, gostemos ou não, não podemos ignorar.
Não percebo por que há Escolas, e jardins de infância, que se orgulham de não festejar o Halloween por não ser uma tradição portuguesa.
Vivemos numa cultura global e, sinceramente, parece-me absurdo que se queira ignorar o óbvio e fechar os olhos às transformações do mundo que integramos. Na minha modestíssima opinião, deveríamos ser capazes de incluir tradições o que, penso, não obriga a ignorar as tradições portuguesas
Assinalar o Dia das Bruxas não impede que se peçam os Santinhos, ou que se façam papas de milho!
Eu vou decorar abóboras e pendurar morcegos e vassouras lá por casa. Se vier uma bruxa, hei-de pedir-lhe que me deixe dar uma voltinha de vassoura, e que me ensine a fazer a poção da felicidade!

PROVOCAÇÃO

Já perdi a conta às vezes  que eu decido uma coisa, e faço outra. Desta vez, tinha pensado nem me pronunciar sobre a entrada na Assembleia da República do assessor de Joacine Katar, aquela senhora do Livre que parece que sofre de gaguez intermitente. Achei ridículo, (mas acho tanta coisa ridícula), e decidi ignorar. 
Mas os comentários que tenho ouvido, e lido, obrigaram-me a mudar de opinião. Forçaram-me a ter opinião!
E não, não é indiferente a forma como cada um se apresenta em lugares públicos. Porquê? porque, para se ser sociedade, há regras, há normas, há costumes que nos unem. Lembro-me das minhas filhas perguntarem por que razão não podiam levantar-se da mesa sem pedir licença, ou por que razão tinham de esperar para começar a comer, ou porque não podiam sentar-se com os pés em cima da mesa. A resposta é óbvia: - Porque há regras na sociedade em que vivemos!
Este assessor, com a saia que nem escocesa era, é, para mim, uma figura ridícula e provocatória. Dir-me-ão que cada um é como é. Certo. Relativamente... Pensemos que o homem era acrobata, seria aceitável que entrasse no Parlamento às cambalhotas, ou fazendo o pino? Ou vestido de maillot cintilante??
Penso que há alguma confusão, que começa a ser preocupante, sobre o que é ser livre e o que é ser provocatoriamente absurdo. 
Ser livre obriga a ser responsável! Afinal, já quase há 100 anos Sartre dizia que "liberdade não é fazer o que se quer, mas querer fazer o que se faz!"
Pessoalmente, e tentando não cair nos achismos que fazem o quotidiano, não gosto deste assessor e lamento que possa circular, e opinar, na Casa da Democracia Portuguesa. 

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

NÃO

Não há meio de aprender a dizer NÃO a desafios! Sou velhota, não tarda faço 60 anos, e ainda não aprendi a mais elementar das lições: - Não devemos mostrar disponibilidade sempre!
Desta vez, o desafio foi aliciante: - Falar, na Casa Museu José Régio, de Agustina Bessa-Luís e José Régio. Dois autores que leio regularmente mas que, confesso, nunca tinha associado. Na base do desafio, entreli eu, o meu fascínio pela leitura. E na minha razão, ou desrazão, a ecoar António Vieira "Melhor do que falar dos Santos, é falar como os Santos". 
Poderei, alguma vez, chegar aos calcanhares de Agustina ou Régio? Nem que renascesse mil vezes...
Pois é, devia ter dito que não!

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

AGORA(S)


Recebi, há pouco, um vídeo, daqueles não personalizados que se reencaminham, de forma acrítica, para os contactos, sobre a urgência de se viver o agora. O orador é brasileiro, já entradote nos anos, e enumera, com convicção, uma imensidão de realidades que, habitualmente, deixamos para depois e que, infelizmente, acabamos por não viver. Fala da velocidade a que crescem os filhos, das vezes que o beijo sai a correr porque o trabalho nos chama, de muitos adiamentos das pequenas coisas que, de facto, são significativas.

Habitualmente, quando recebo estes vídeos, elimino-os. Hoje, porque, curiosamente, não tenho urgências, vi até ao fim. É verdade que tudo são banalidades, Lapalissadas... Mas é verdade também que abusamos do adiar de pequenos-grandes momentos da vida. Como é verdade que o Tempo é cruel e se esgota num instante.
Pensando no vídeo, abracei com força a minha solidão, sacudi da alma os pós de poeira negra instalada, preparei um belo Gin e vim consumir, com a saborosa consciência da transgressão, um romance inocente!

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

AGRESSÃO

Os últimos dias têm sido marcados pela divulgação de agressões de alunos a professores, de professores a alunos também. A opinião pública, que está a tornar-se mais pública do que opinião, toma partido e lê-se de tudo. Há quem se indigne considerando que a Escola portuguesa é um campo de batalha, há quem culpe os pais dos alunos, há quem afirme que falta preparação aos professores, há quem diga que a responsabilidade é do Ministério da Educação, etc. Há, até, professores que escrevem nos jornais, e nos diferentes blogs, testemunhos de partir o coração. Dizem-se violentados, velhos, eternamente traumatizados, frustrados, etc. 
Não pretendo desvalorizar o sofrimento de ninguém! 
Compreendo que os professores, como eu, ganham pouco e trabalham imenso. Compreendo que não dá paz a ninguém andar, ano após ano, com a mochila às costas, deixando longe a família, sem estabilidade ou segurança no trabalho. É tudo verdade!
No entanto, creio que há algum exagero e alarmismo no que, nos últimos dias, tem vindo a público.
A sociedade actual é violenta. Diariamente somos confrontados com imagens de guerra, de ataques a mulheres e crianças, de injustiças várias. Sendo a Escola parte da sociedade, compreende-se que a violência também aí se sinta crescer. Como agir? Com firmeza e bom senso. Os agressores têm de ser punidos, mas, também, educados. 
Não acredito que a Escola Portuguesa seja, no seu todo, um espaço de violência e agressão. Acredito, sim, que há em algumas escolas, e com maior incidência em zonas socialmente frágeis, situações de violência que, em conjunto, professores e comunidade, precisam resolver. 
Eu sou professora e não estou de nervos esfrangalhados ou alma destruída! Desculpem. 

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

NÃO CAMINHES SOBRE OS MEUS SONHOS, POR FAVOR!

Às vezes, sem causa aparente, ou sem causa imediata, ou fruto de muitas causas que vou chamando de desrazões, a poesia apetece-me. E volto a poemas que me tocam... 
Hoje, talvez porque penso que há quem insista em caminhar, de botas ferradas, sobre os meus sonhos, lembrei-me de Yeats:



Fossem meus os tecidos bordados dos céus,
Ornamentados com luz dourada e prateada,
Os azuis e negros e pálidos tecidos
Da noite, da luz e da meia-luz,
Os estenderia sob os teus pés.
Mas eu, sendo pobre, tenho apenas os meus sonhos.
Eu estendi meus sonhos sob os teus pés
Caminha suavemente, pois caminhas sobre meus sonhos.

William Butler Yeats

BAJA

A agitação sonora, e motorizada, chegou a Portalegre. Mais uma edição da BAJA, mais uma vez a cidade cheia de movimento, de gente jovem e de muita alegria. O trânsito já está condicionado, e eu, que cada vez estou mais comodista, até gosto destes condicionamentos. É bom ver a cidade viva, dinâmica e cheia de energia. 
Vai ser um fim-de-semana diferente, como lama e terra, com a impossibilidade de chegar ao Rossio em dois minutos. Mas, sobretudo, vão ser três dias fantásticos de vida e alegria na minha cidade!
Só falta chover muito, chuva de verdade, em cordas grossas, para que a BAJA seja ainda mais emocionante!

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Demais

O governo de Portugal cresceu para os lados, engordou! 
Passamos a ter 19 ministros, dois novos ministérios e a módica quantia de 50 - CINQUENTA- secretários de estado. Assim, à primeira vista, a quem, como eu, não percebe nada de governos de Portugal, parece gente em excesso. Mais em excesso parece se pensarmos no tamanho de Portugal e no número de habitantes... 
Olhando o mundo, sabemos que na Suécia há 11 ministérios, na Finlândia 14, no Brasil 16,  e, em Angola, 32. Considerando que por Portugal a tendência é para engordar o governo, não resisto a perguntar se teremos como meta uma democracia como a de Angola.

CASAMENTOS

Este 2019, quase moribundo, tem sido pródigo em casamentos. Dia 19, uma vez mais, lá fui eu, privilegiada decerto, assistir ao casamento da Ana. A Ana foi minha companheira de muitas viagens, de muitas aprendizagens também, quando, na Escola e com turmas, desenvolvia o Clube Europeu. Vi a Ana crescer. Vi-a, orgulhosa, sentada no Parlamento, em Estrasburgo, vi-a a desembaraçar-se, em Stavenger, quando ficou alojada numa ilha. A Ana tinha sempre opinião vincada, gostava de aprender e escrevia bem. Fez o curso de economia e, hoje, é já uma profissional de sucesso.
No sábado, em Mafra, debaixo de chuva torrencial, a Ana casou com o João. Saí de Portalegre cedo, olhei o Convento, pensei em D. João V e na importância do amor de Baltasar e Blimunda. Recordei a passarola e voltei a acreditar que o sonho pode fazer a diferença.
A Ana e o João estavam felizes. Eu desejo que sempre sejam felizes! A minha incurável alma romântica continua a acreditar no amor e na possibilidade de se ser feliz a dois. Aliás, continuo a acreditar que viver a dois é bem mais fácil do que existir na solidão!

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

60

É um número redondo. Um número com força psicológica: 60! Eu, que não gosto de números e tenho com eles uma relação difícil, olho com suspeição e temor os 60 anos... 
Hoje, chegaram para a minha amiga-irmã. 
Somos amigas desde o tempo em que não há memória, quando as urgências são a dias, e os amores eternos na sua reduzida temporalidade. Juntas, subimos e descemos mil vezes a rua do Comércio, ora cantando os verbos irregulares em inglês, o Dr. Renato o exigia, ora comentando as paixões adolescentes, ora rindo de coisas tão importantes como escorregar na calçada. Andávamos sempre juntas e, quando nos separávamos, corríamos para o telefone para continuar conversando. Era o tempo das telefonistas a perguntar "número??" e a interromper a ligação para anunciar que havia chamadas urgentes para o meu Pai e, por isso, tínhamos de desligar. Era, também, o tempo do Crisfal nos sábados, a fila J, as ousadias iniciais e a partilha sobre as sensações recém descobertas. A Praceta ouvia as nossas confissões. Gastávamos o cimento do muro com os nossos rabos, experimentávamos as motas dos amigos e dançávamos na garagem. Era o tempo dos slows (que nós tornávamos ainda mais slow), e de tudo o que os mesmos permitiam.
Depois, o tempo passou. Filhas, problemas, netos, responsabilidades e a amizade verdadeira a ficar sempre. Não podendo ser irmãs, tornámos-nos comadres, trocamos afilhadices. A distância emocional resistiu aos quilómetros físicos, a cumplicidade manteve-se, os segredos continuaram a ser só nossos. 
Hoje, a minha maior amiga chega ao número simbólico e vence mais uma barreira. Experimento um misto de emoções: - Alegria-esperança-receio-saudade!!
Se eu chegar aos 60, faltam 4 meses, hei-de festejar de verdade!!

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

E AS TÁGIDES?


Há muito tempo já que não ía a Lisboa com tempo para apreciar a cidade líquida. O vício do centralismo, que parece estar nos genes dos governantes portugueses, tem feito com que Lisboa seja, sobretudo, um lugar de reuniões e trabalho. Porque, por sorte, o país foi encolhido pelas velozes auto-estradas,  vivendo em Portalegre vou e venho, no mesmo dia, sem dificuldade. Ontem, felizmente, pude apreciar a cidade do Tejo. Sentei-me na esplanada, tomei café e olhei . Talvez por ser dia de semana, não havia excessiva poluição humana e pude tentar descobrir as tágides de Camões. Não as vislumbrei. 
Talvez a modernidade, esta vida de vazios urgentes, tenha afastado do Tejo as ninfas inspiradoras. Talvez, oh meu Deus!, a poesia tenha sido arrancada do coração das gentes...

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

DIFÍCIL CONCORDAR

Quando andei na Universidade, no século passado, Saramago não era Nobel e nem sequer era estudado. Como leitora compulsiva que sou, li, sem nenhuma intenção para além da minha fruição, a obra de Saramago. Gostei de alguns romances, não gostei de outros. Apaixonei-me por alguns textos, passaram a fazer parte de mim, desinteressei-me de outros.
Já como professora de português, tornou-se, e bem, obrigatório dar a conhecer a obra de Saramago aos alunos. Fi-lo com interesse e gosto. Li cartas, crónicas e, no 12º ano, O Memorial do Convento. Tive algum receio do desafio que era trabalhar uma obra desta envergadura...
Fiz formação, fui aprender como trabalhar este romance e, claro, fiz, com os alunos, dezenas de visitas a Mafra. Eram, sempre, visitas muito interessantes e de extrema qualidade. Como inconveniente, só mesmo o custo das mesmas...
Há dois anos, surgiu a obrigatoriedade de substituir O Memorial do Convento pelo Ano da Morte de Ricardo Reis, por dois anos lectivos.   
Achei uma excelente ideia, voltei ao romance que lera já havia uns anos. E voltei a encantar-me. 
Para mim, fazia, e faz, todo o sentido trabalhar este romance, até porque os alunos de 12º ano estudam Pessoa e os heterónimos. A linha de relações possíveis, a palavra ficcionada ao serviço, claro, de um ideal maior, parecia-me (e continua  parecer) , uma excelente oportunidade para desenvolver competências de cidadania.  
Este ano, e esgotados os dois anos anunciados, as escolas podem escolher entre as duas obras. Para grande surpresa minha, há escolas a escolher o Memorial do Convento
Fica difícil, para mim, concordar com esta opção. 
Compreendo que para o concelho de Mafra as visitas ao Palácio-Convento são geradoras de riqueza e actividade, mas penso que, para os alunos, O Ano da Morte de Ricardo Reis é mais capaz de desenvolver e cimentar o sentido crítico e a acção cívica.
Enfim, às vezes, fica difícil concordar com os meus colegas. 

PAR SINGULAR

Finalmente, chove. De noite, a chuva fez música na minha janela e procurar um casaco encheu-me de alegria. Gosto tanto da chuva! Não me traz a angústia que o Augusto Gil imortalizou, não me embrulha em (mais ) tristeza. A chuva faz-me boa companhia, embala a minha insónia e ajuda a lavar alguns pesadelos. Abro a janela para deixar entrar o cheiro da terra molhada, também ela feminina, também ela carente da seiva retemperadora. Este cheiro acre e intenso, que sempre me surge castanho e denso, faz-me acreditar em mil possíveis. 
Ao som da chuva, chamo-te na memória e abraço-te com força. É bom ter-te aqui, comigo, de novo sendo um par de um. 

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

INTELIGÊNCIA

São precisas muitas mulheres para esquecer uma mulher inteligente

É António Lobo Antunes, o escritor por quem estou absolutamente apaixonada, o autor que me prende a cada linha, quem faz esta afirmação. Eu acho que ele tem razão, e creio que, com os homens inteligentes, acontece o mesmo. 
Com a idade, com as vivências, os beijos correm o risco de ficar ocos, os abraços tornam-se lassos e é a inteligência que salva a existência a dois. Hoje, penso assim.

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

PARAÍSO

Há uma música moderna, que passa frequentemente nas Rádios, que diz, numa melodia agradável, que o paraíso existe. Se é verdade o que cantam, tu és o meu lugar no paraíso. Em ti descanso a revolta, no teu abraço dispo a camuflagem da existência, nos teus beijos alimento a minha alma. Em ti, pouso a confiança, tantas vezes perdida, e em ti, no silêncio, abro janelas ao sonho.
Tu és o meu paraíso. 
Em ti estendo a toalha inexistente e deixo adormecer a desesperança. 
Tu és o meu paraíso. 
Como o paraíso, és o lugar que nunca alcanço. Como o paraíso, estás sempre longe demais!

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

FICÇÃO

O vidro, ao comprido da porta, revela a sala de aula. Os alunos, em três filas, dois a dois, a olhar, e a professora, de livro na mão, fazendo a leitura do poema (os alunos lêem tão mal...). Ela, a professora, fala (os alunos não estão habituados a linguagem poética).. Ela diz coisas de Pessoa, do que quer dizer o verso primeiro, os seguintes também,  da temática em causa. Os alunos, sempre nos seus lugares, ouvem. 
Ou não. Há quem aproveite para actualizar a informação do Facebook, quem faça exercícios de matemática, quem tente registar o que a professora diz. A seguir, quando do poema já só restam palavras ocas, recursos de estilo vazios e mensagens lineares, a professora passa a responder às perguntas do livro. Ah, a primeira passou, já tinha dito na análise do poema! 
No final da aula, uma aluna pergunta como é  possível ter encontrado tanta coisa naquele poema que, para ela, só fala da natureza. Sorrindo, pedagógica, a professora afirma que é o resultado de muitos anos a fazer o mesmo...E a jovem pensa, mas não diz, que isso nunca acontecerá com ela, porque não se imagina passar muitos anos a escrever coisas sobre poemas.
Este mini-registo é pura ficção. Mas, se por azar acontecesse numa Escola qualquer, que pena eu teria dos jovens que assim perdem tempo de vida...

terça-feira, 8 de outubro de 2019

MENINO JESUS

Menino Jesus,
Sei que o Natal ainda tarda, que este não é, por enquanto, o Tempo de Te pedir presentes, mas estou muito angustiada e preciso de Ti.
Menino Jesus,
Eu sei que Tu me conheces, às vezes ralhas-me de mansinho, nunca me viraste as costas e eu, desculpa, tenho abusado da Tua compreensão.
Menino Jesus,
Obrigada por seres meu amigo, por conversares comigo nas noites que a insónia encomprida, por me permitires espantar-me com a Beleza dos frutos que enchem as árvores da Quinta.
Menino Jesus,
Obrigada por aceitares as minhas orações feitas, tantas vezes, de reclamações, de dúvidas e alterações ao tido como norma.
Menino Jesus,
Preciso ainda  mais de Ti! Preciso do Teu sorriso, do Teu olhar, do Teu carinho doce no ramalhar que me ajuda a acordar.
Menino Jesus,
Quando for Natal, prometo não Te pedir nada. Faço-o por antecipação. Peço-Te maior capacidade para suportar a desilusão, peço-Te que me ajudes a perseverar na construção de possíveis de confiança.
Menino Jesus,
Não me abandones. Mesmo falhando muito, vezes demais, preciso de TI. Não me deixes sozinha, por favor...

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

CONFISSÂO

Hoje, fazes-me falta. Amanhã, não sei; ontem, já não me lembro. Hoje, sim, fazes-me falta. Queria encostar-me no teu peito, deixar que o silêncio dissesse da minha tristeza, que os teus beijos calassem a minha mágoa profunda. Não quero falar-te da vida, que vida?, nem sequer de preocupações, são tantas!, mas quero dizer-te do meu silêncio excessivo. 
Estou cansada.  Ao contrário do poeta, o que tenho em mim não é só um íssimo-íssimo-íssimo cansaço. É, também, um incompreensível desejo de vazio. Sim, desejo o nada. O imenso nada que não se opõe ao tudo, porque o ignora. 
Para além do nada, desejo-te a ti. O abraço, a presença, o sorriso, o ombro (o tal). Fazes-me falta. 
E eu que acho que me devia bastar a mim mesma por que, ensinou--me a vida, os outros, a maior parte das vezes, sobram na construção de sentidos.

RESCALDO

O PS ganhou, ontem, as eleições. Nada de surpreendente, há muito (há tempo demais) que as sondagens o diziam. Surpreendente foi, para mim, que pequenos Partidos elegessem deputados. Mais triste, na minha sentida opinião, foi o PAN  eleger mais do que um deputado quando, achava eu,  um já seria estupidez a mais. Que o CDS tivesse ficado reduzido a uma ínfima expressão, também já esperava. Não vivemos num mundo de Ideias, mas de fogo fátuo...
 Enfim, quero tentar esquecer e, seguindo Ricardo Reis, viver cada hora apenas. Porque, se assim não fizer, vou chorar de desespero face à brutal abstenção.

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

POLÍTICA

Tenho muito respeito pela Política. De verdade, e convictamente, considero que a política é a sustentação da vida em sociedade e que, por isso, não devia ser confundida com partidos, reduzida a conflitos politico-partidários. Muito jovem iniciei actividade política. 
Quis, e quero ainda, um mundo melhor, um país mais justo, mais sério e mais digno. Ao longo dos tempos participei activamente na vida política. Integrei a Assembleia Municipal, fui candidata à CMP, à Assembleia da República, participei em Comícios e diferentes Fóruns. Tenho militância partidária. Consciente e consistente. 
Ao longo do tempo, também, fui sofrendo desilusões. Perseguições individuais, má-língua, afastamento. E fui ficando cada vez mais calada, atenta sempre, escrevendo e dizendo o que penso de forma (relativamente) livre.
Nesta Campanha Eleitoral fiquei à margem. Fiquei olhando, observando. E não gostei NADA do que observei.
Não concordo com o ruído que fez Campanha, com os ataques pessoais, com o vazio de ideologia. A dada altura, a meio da Campanha, já ouvia distribuir cargos, pastas, tachos. Foi para isto que se fez a Revolução de Abril? Para abrir espaço a umbigos e vaidades? Não me parece...
Ontem, morreu o Prof Freitas do Amaral. Desapareceram já os principais construtores da Democracia em Portugal (Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa, Francisco Sá Carneiro, Mário Soares, Álvaro Cunhal), e eu temo que, com eles, tenha morrido a essência da Democracia. No domingo irei votar. Como sempre fiz, na ideologia que defendo, sem voto útil, consciente de que, por enquanto, o voto é a única forma de podermos manifestar uma opinião. Uma desilusão também.

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

REGRESSO AO PASSADO


O passado é um lugar morto. É um momento ao qual não se volta, porque não existe mais. Ou existe? 
De certo modo, existe gravado em nós. Nas sensações, nas emoções, nos registos da memória. e é essa inexistência existente, esse paradoxo, que incomoda e fere. Carrego em mim muito passado. Porque estou a ficar velhota (ternura dos meus netos) , porque já cumpri muitos caminhos e porque deixei lá, nesse tal lugar distante, muito de mim. Há dias em que o passado se faz dolorosamente presente. Há dias, em que carrego na pele  abraços totais que já o não são, o sabor de beijos que não existem, a memória viva de quem já partiu. Há dias nos quais o presente se agita na espuma do passado. E dói.