terça-feira, 31 de março de 2020

NOITE

Está escuro, chove meu amor. Estou aqui, no silêncio que Strauss interrompe trazido pelo Spotify, (como gosto destas valsas), e penso na vida. Ou no que fazemos dela. Tenho saudades de possíveis que nunca o foram, lamento desistências e abandonos e, a cada noite acordada, cresce a minha convicção de que não é o ódio, nem sequer a raiva, que dão sentido à vida. Havemos de superar a Covid-19. Sabes que as cerejeiras prometem muito fruto? Sim, já sei, os pardais, sobretudo os melros, vão comer as cerejas antes que as colhamos. Mas não faz mal. Sabes, amor, agora nada faz mal. Porque há um mal maior e, esse sim, incomoda e perturba. 
Não consigo dormir. Tenho tanto medo. Medo pelos netos, pelas filhas, pelos amigos, pelos alunos. Medo do reinventar da existência. Sim, amor, vamos ter de ser capazes de reinventar a existência, o quotidiano, a sucessão de agoras que nos pintaram de branco o cabelo.
Tenho saudades da paz, amor. Saudades de quando havia certezas e a noite servia para descansar e carregar baterias.
Havemos de superar. 
Promete!

segunda-feira, 30 de março de 2020

DIVAGANDO




Tentando enganar o tempo e iludir a solidão, faço caminhadas na Serra. Raramente encontro pessoas, pontualmente um pastor, de longe em longe um trabalhador que tira o boné, poisa as mãos no cajado e me deseja bom dia. Retribuo sempre, de coração, desejando que cada dia, nesta pandemia dolorosa e longa, possa ser um bom dia. O Zorba faz-me companhia, espanta as ovelhas, corre de um lado para o outro e bebe, tal como eu, a água pura que corre no tanque. Este tempo faz-se, também, de muitos pensares. De muitos questionamentos. Terá valido a pena tanta mágoa, tanta briga, tanto ódio? Olho o ontem, muitos ontens, e a mágoa cresce. A vida  cumpre-se assim, errando muito, acertando às vezes. Não quero, nem posso, voltar atrás, de pouco, ou nada, serve, já está inscrita no tempo a vivência magoada. Mas desejo ser capaz de fazer diferente o amanhã. O daqui a bocadinho.,o agora.
Olho os arbustos bem verdes, com bolas que prometem explodir em cor, e penso que seria bom se este momento fosse assim: - Com esperança fechada, mas com a certeza de muitos e novos possíveis!
 




domingo, 29 de março de 2020

MEDO E FÉ

Anda nos Media, e, claro, nas redes sociais, uma imagem do Papa Francisco, completamente sozinho, na imensa Praça de S. Pedro, no Vaticano, a rezar. Para mim, que creio em Deus, que rezo, esta imagem é intensa e dilacerante. Como somos pequenos, insignificantes, perante o Universo. Como o Papa Francisco sofre, tal como nós, ou mais do que nós?, rezando por todos. De repente, aquela Praça linda, sempre cheia de turistas dos quatro cantos do mundo, esvaziou-se de gente, encheu-se de medo. 
Não creio que a Fé seja discutível, não compreendo que me critiquem, me insultem às vezes, por ser Cristã, por ser Católica. A fé é o que me tem ajudado, e não, ao contrário do que alguns dizem, troçando, não espero um milagre, não pergunto onde está Deus. Porque eu sinto que Deus está dentro de cada um de nós e que Ele nos dará força para lutar e para sobreviver. Se não acontecer, a Morte será uma passagem, acredito. E sim, mesmo com Fé, tenho medo. Medo porque reconheço a minha fragilidade, a minha/nossa insignificância, porque sou humana. Rezo. Peço a Deus pelas minhas filhas, pelos meus netos, pela minha comunidade, pelo Mundo. Peço a Deus que reforce a minha fé e agradeço a paz da Serra, a minha solidão que ainda assim dói muito.
Há uns meses, um ano talvez, eu era uma Mulher feliz que passeava em Roma e rezava no Vaticano. Então ria-me, comprava postais e medalhinhas do Papa para que ele me ajudasse, comia fantástico osso bucco e bebia Chianti com muitas bolhinhas. Ainda não tinha regressado e já pensava que havia de voltar a Roma, ao Vaticano, à sala dos mapas, à Catedral de São Pedro. Não imaginava que, um dia, tão cedo, iria ver Roma vazia e a Praça que me encantou ocupada pelo silêncio e pela oração única do Papa Francisco.
Talvez só a oração não nos salve mas, a mim, ajuda-me a suportar o horror da pandemia. Sim, chorei ao ver o Papa Francisco sozinho, de cabeça baixa. Que Deus permita que, em breve, a Praça de S. Pedro possa, de novo, encher-se de fiéis!

sábado, 28 de março de 2020

FINGIR

Será legítimo ser-se conscientemente cobarde? Será admissível ser-se conscientemente avestruz? É assim que me sinto. Não vejo televisão, não quero saber das notícias do Covid-19, não quero saber qual a percentagem de mortes e infectados. Não quero! Como a avestruz, meto a cabeça na areia, ignoro o mundo e faço de conta. Finjo que estou em férias, que são só uns dias diferentes, que, afinal, há muito que precisava de uns dias para parar e descansar. Leio. Leio muito, caminho no quintal e vejo bons filmes. Às vezes, acendo a lareira, gosto do cheiro do fogo, da companhia das chamas. Olho o céu, ignoro a inexistência dos rastos dos aviões e finjo acreditar que, não tarda, os meus netos vão chegar, as gargalhadas vão encher o espaço e eu vou rir de novo.

sexta-feira, 27 de março de 2020

MEIO OVO?

Para passar o tempo, e porque está muito vento para andar na rua, resolvi tentar uma receita que - garantiram-me - é deliciosa. Leva erva doce e canela, dois ingredientes que adoro. Como a receita me pareceu exagerada, 300 gr de farinha?, decidi fazer só metade. Tudo bem. Preparei os ingredientes, forrei o tabuleiro do forno e meti mãos à obra. Já com as mãos sujas e de avental colocado, surgiu um problema: - Metade de três ovos! À primeira vista, fácil a solução, um ovo e meio. Mas meio ovo é só a clara? É só a gema? É metade da gema e metade da clara? Se sim, como dividir? Como não sou mulher de me atrapalhar, optei por dois ovos e resolvi o problema. 
Mas fiquei a pensar. Lembrei-me uns problemas idiotas, era eu menina da primária (então o 1º ciclo ainda não tinha sido inventado), quando tinha de saber o tempo que demorava a encher uma banheira de não sei quantos cms, se a torneira deitasse não sei que quantidade de litros de água por minuto. Nunca percebi nem para que servia o problema, nem como se resolvia. Então, já pensava na técnica de dois ovos, ou seja. pôr um relógio e ver o tempo que demorava a encher a maldita da banheira.
Enfim, lá pus os dois ovos, abusei da canela (é afrodisíaca, mas eu vivo sozinha, não há perigo) e tendi as ferraduras. Bom, tirando que em vez de ferraduras parecem cocós, estão muito gostosas. Conclusão: - Isto do rigor matemático é muito relativo. Tanto nas receitas, como nas previsões económicas! 

quinta-feira, 26 de março de 2020

CALADA

Um email muito simpático, de uma colega que muito estimo, perguntava-me se estou bem e por que razão estava tão calada no que à educação diz respeito. Estás com medo? Não pensas nisso (escola)? Respondi-lhe, claro.
E sim, estou com medo. Medo de falar demais, porque, por dizer o que penso, já tive um processo disciplinar. Medo, também, que não sejamos, a maioria de nós, capazes de aproveitar esta crise terrível que é, também, uma provocação e um desafio.
Na minha modestíssima opinião, e sustentando o que defendo nas muitas leituras feitas, o currículo é muito mais do que "os conteúdos". Este tempo podia servir para pensarmos. Para nos centrarmos no que, de facto, é importante que os alunos aprendam. É um tempo que permite, obriga?, a uma individualização de processos, cada aluno tem as suas circunstâncias e, agora, nem sequer temos a ilusão de que são todos iguais porque estão na mesma sala. Não me preocupa por aí além a classificação dos alunos. Mas preocupa-me a avaliação e, acredito, agora podemos apoiar cada aluno com feedback de qualidade. Não, não me apetece nada (espero que não aconteça) que o ME diga como cada um deve fazer. Sim, acredito que vamos ser capazes de dar sentido a estas aprendizagens. Com muitas leituras (não só Quizz e biografias que se copiam da net), com problemas que façam pensar, como abordagem a temas que cruzam diferentes áreas, como a transmissão do próprio vírus, a fome que continua a matar, a narrativa da equidade que continua por escrever. Sim, estou calada porque tenho medo. Mas sim, penso muito nisso!

quarta-feira, 25 de março de 2020

RENOVAÇÃO






Cortaram os pinheiros, limpa-se agora  a mata e a Quinta, indiferente ao vírus, reanima-se. As árvores de fruto prometem, a velha figueira enche-se de rebentos e, por alguma razão que desconheço, o senhor Chico entalou uma pedra entre dois ramos da jovem árvore. A escada para a piscina, bem tosca como eu gosto, está arranjada e os javalis, abusadores, cada vez se aproximam mais de casa. 
Há muitos javalis na Serra e, talvez por falta de comida ou excesso de confiança, cada vez estão mais próximos de onde há pessoas.  
Sim, há vida para além do covid-19, aqui, no meu total isolamento. 
A Natureza, a vida afinal, impõe-se e recupera. Faz-me alguma pena ver os pinheiros cortados, mesmo reconhecendo que há mais segurança, que a prevenção se impõe. Agora, há muitas pinhas pelo chão e tenho bem com que me entreter para iludir esta angústia que o isolamento me está a trazer.





terça-feira, 24 de março de 2020

VERDADE


Não, não vamos todos ficar bem. Compreendo que temos de ser positivos, optimistas, mas não ignorantes e cegos. Não vamos ficar todos bem. Alguns de nós vão morrer, haverá mais lugares vazios em muitas mesas e as memórias, com as saudades, vão engrossar. Não vamos ficar todos bem.
Os que ficarem, os que sobrarem, terão de escrever uma história com momentos muito tristes, tempos em que até o último adeus foi impedido. Não, não vamos ficar todos bem. Os que ficarem, terão de ser capazes de reinventar quotidianos. Talvez tenham de re-equacionar prioridades. Talvez o afecto, as presenças, passem a ser mais valorizados do que as aparências e as materialidades. Não, não vamos ficar todos bem. E não, não voltará tudo à mesma!

ASAS NEGRAS

Tem asas negras, chega e impõe-se. Traz-lhe farrapos de vida, outra existência onde não está mais, de onde desapareceu para o lugar então futuro. Olha-se, mas não se vê. As asas negras continuam, intensas, ameaçadoras. Não há ruído. Ao contrário do Mostrengo não traz perguntas, não pede respostas. Não é o Adamastor, não fala de amor, de traições ou ousadias. Impõe-se apenas. Ela não tenta fugir. Tem medo. 
E ainda assim, tremendo, olha as asas negras que não consegue afastar. Se vierem, será o abraço final. Às vezes, o fim é libertador.

domingo, 22 de março de 2020

DOMINGO


Fica estranho, para mim, o domingo sem missa. Sinto falta da minha comunidade, das palavras do senhor cónego Emanuel, da paz interior que me invade sempre quando, na Sé, assisto à missa.
Mas está um dia bonito, é preciso sobreviver, e vou caminhar com os cães, verificar o crescimento das rosas - era tão bom que pegassem-, e sentar-me lá fora a ler. 
A reclusão imposta começa a cansar-me. Há 36 horas que não vejo pessoas. Estou aqui, com os cães e com os livros, e fujo à televisão para, estupidamente talvez, tentar proteger-me do anúncio constante de mais infectados, mais mortes, mais horrores. Sei que a epidemia é grave, mas será que o mundo inteiro parou? O que estará a acontecer na Síria? Em que ponto estará a investigação sobre a Isabel dos Santos? Será que o Panda bebé que nasceu no Zoo está a aguentar-se? As televisões só falam do maldito Covid-19 e eu quero fugir dele. Cada vez mais, a cada hora que passa, confirmo a minha convicção de que o melhor lugar para enfrentar uma pandemia é dentro de um livro. 
Hoje, há pouco, terminei A Rainha Descalça. Escrita fluente, que me prende e me fez andar, nos quatro dias que levei a concluir o romance, a ter medo pelo cigano Melchor,  a admirar a curandeira Maria, a temer por Milagros e a escutar a pretinha Caridad - Canta pretinha!. Uma história intensa, passada em Espanha no séc XVIII, mostrando, (como se eu não o soubesse), que a violência e injustiça humana não se confinam a nenhum tempo histórico. Infelizmente. 


sexta-feira, 20 de março de 2020

PREOCUPAÇÃO

Nesta enxurrada de notícias, de informações e desinformações, restam poucas certezas. Em casa, olhando a rua e vendo a chuva cair, penso a actualidade. 
Sem dúvida a humanidade abusou do Universo. A poluição, o excesso de aviões, os imensos resíduos produzidos, a construção acéfala, tudo deve ter contribuído para o aparecimento deste maldito Covid-19. Mas como parar? Será que vamos ser capazes de reinventar o quotidiano da modernidade?
Ontem, comprei um livro na wook, hoje foi-me entregue de manhã. Paguei a electricidade no conforto de casa, vi dois filmes na Netflix, fiz compras on-line. E eu vivo num lugar esquecido do desenvolvimento... Como vão as sociedades desenvolvidas responder à urgência da alteração de hábitos? Seremos capazes de prescindir de muitas comodidades? 
Estou certa de que vão surgir soluções, sempre surgem soluções, mas temo o dia em que acordarmos livres da ameaça do Covid-19. 
Egoisticamente, penso nas minhas filhas e netos, tão longe, e encolhe-se-me a alma a antecipar uma Páscoa com a única companhia dos meus cães. Sim, estou triste.

quinta-feira, 19 de março de 2020

DIA DO PAI

O meu Pai foi, e ainda é, o meu maior amigo. Nunca tive uma relação próxima com a minha mãe, sempre pensei que, para ela, eu era apenas uma presença dispensável, e, talvez por isso, o meu Pai era para mim a referência de compreensão, cumplicidade, afecto e verdadeiro amor. Costumo dizer que o meu Pai é mais do que um super-herói, porque eles só existem nas histórias e ele existiu (e existe) na minha vida. O meu Pai era médico e lembro-me, bem criança, de o ver sair de casa, noite cerrada de inverno, a acudir a quem o chamava. Eram outros tempos, outras formas de ser médico. 
Assisti ao empenhamento dele para colocar os serviços de saúde em Portalegre na primeira linha, vi-o criar uma Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente na cidade que me ensinou a amar, quando as mesmas só existiam em Lisboa, Porto e Coimbra. O meu Pai era um um bom conversador, um Amigo disponível que gostava da casa cheia, de muita gente à sua volta. Quando estava bem disposto, era muito divertido!
O meu Pai ignorava para que servia o relógio. Uma vez, dia de Natal, a minha mãe insistiu para que fossemos todos à missa na Igreja do Reguengo. E fomos. Quando chegámos, muitos, o senhor padre parou, calou-se, esperou que nos sentássemos e, depois de uns cinco minutos de agitação disse: - Ide em paz, e o Senhor vos acompanhe! 
A minha mãe refilou muito, estava envergonhada e reclamava com o meu Pai que, calmamente, argumentou: - Chegámos no momento certo! E Deus sabe que tínhamos intenção de vir mais cedo...
Em minha casa, quando era criança e jovem, havia amigos que eram família. Lembro-os sempre com IMENSA saudade: - O dr. Jorge, o eng. Carrilho da Graça, o dr. Pestana, o meu adorado tio Eutíquio, o dr. Salvador,o dr. Marouço (querido primo!) o dr. Fausto. Tenho SAUDADES de todos e, penso agora, todos foram um bocadinho meus pais na minha infância.
Hoje, é Dia do Pai. As saudades, sempre presentes, doem mais. A solidão, hoje imposta, desperta as memórias que, paradoxais, umas vezes fazem companhia, outras fazem sangrar.
A todos os Pais que o são de facto, um obrigada em nome de todas as mães. De todos os filhos, também.

quarta-feira, 18 de março de 2020

MODERNISMO

Cheguei ao último ponto final do romance O Pintor de Almas, de Ildefonso Falcones. Durante cinco dias, andei, escondida, assustada, suspensa, apaixonada, pelas ruas de uma Barcelona de início de século XX, assistindo à construção da Pedrera, da Sagrada Família, do Parque Guell. 
Aconteceu-me ter de fechar o livro porque a ansiedade era muita. E se Dalmau fosse apanhado, mesmo ao virar da página? E se Emma fosse morta em mais uma manifestação? E se Josefa morresse de angústia e tuberculose? E se Úrsula e Dalmau fossem apanhados em ousadias à época proibidas? Vivi estes acontecimentos em cada página. Chorei, irritei-me e tive medo. Apaixonei-me. Tive vontade de voltar a Barcelona onde fui incrivelmente feliz.
Não conhecia o autor. Sou, estupida, convicta e historicamente contra o que vem de Espanha e, por isso, nunca escolho autores vizinhos. Excepção para Cervantes! 
Este romance foi-me oferecido nos meus 60 anos e chegou tarde. É um escritor obrigatório, intenso, envolvente, provocatório, agressivo e terno. Vou já encomendar os outros romances dele e vou começar por Pela Mão de Fátima.
Insisto, um óptimo lugar para se estar durante o isolamento obrigatório, é dentro de um livro!

terça-feira, 17 de março de 2020

VAI PASSAR

Na vida tudo passa. Deixa rasto, às vezes sulcos fundos, mas tudo passa. o Tempo, esse deus feito de fatalidade, leva tudo para um lugar distante, para lá dos homens, para o lugar onde nem a memória sempre chega. Um dia, alguém há-de fazer a história deste vírus maldito e será, apenas, uma ou duas páginas de um qualquer livro de história, ou de histórias. 
Vai passar. E há-de haver, entre nós que vivemos o agora, quem conte aos netos como foi difícil algo aparentemente simples, ficar em casa. Há-de contar que, felizmente, há internet e livros, que existem palavras e que se podem construir sentidos no meio do medo. Vai passar. Porque tudo passa, porque todos passamos, deixando pegadas mais ou menos visíveis, neste mundo de dificuldades e sonhos.
Já algumas vezes pensei que o meu coração ia estalar de dor. Que não ia voltar a sorrir, que nunca mais o acordar me faria acreditar, e tudo passou. Carrego cicatrizes de muitas feridas, mas fazem-me ser quem sou e as feridas já não sangram.
Vai passar!

segunda-feira, 16 de março de 2020

CONTRA A ESTUPIDEZ HUMANA


O Senhor Elói, ourives da cidade, morreu na sequência de um incêndio enquanto trabalhava. Conhecia o senhor Elói desde sempre, lembro-me de lhe comprar os primeiros relógios swatch que faziam as delícias da minha filha mais nova. Mas foi na Mesa Administrativa da SCMP que melhor o conheci. 
O Senhor Elói revelou-se um amigo atento, um homem Bom, disponível para servir a comunidade, sempre com palavras e atitudes construtivas e nunca, como outros, com vontade de destruir. Habituei-me a ouvir com respeito e amizade as palavras do Senhor Elói e tenho, já,  muitas saudades dele. Aqui fica o meu muito obrigada pela amizade com que sempre me tratou. Um dia, senhor Elói, havemos de voltar a rir-nos juntos!
Obrigatório é, sem dúvida, hoje, olhar a situação de pandemia que atravessamos. É um desafio à reinvenção de muitos dos que são os nossos hábitos, as nossas rotinas. 
É, também, como se fosse um teste à nossa capacidade de ocupar o tempo com cada eu. Pessoalmente, estou preocupada mas recuso alinhar no pânico. 
Acho absurdo o ataque aos supermercados, o açambarcamento de papel higiénico, de latas de atum, de conservas várias. Vejo esta pandemia, e admito que possa estar errada, como um alerta para a insignificância que somos. Nós, humanos, que julgamos tudo poder controlar, dos mares às montanhas, ficamos impotentes e frágeis face a esta pandemia. A humanidade não é tão poderosa como, por vezes, se julga.
Sim, defendo que devemos fechar fronteiras, evitar ajuntamentos, ter cuidados de higiene redobrados. Temo sobretudo pelos mais velhos, por aqueles que têm patologias diversas, por todos os profissionais de saúde. Lamento, embora reconheça que não me surpreende, que não haja máscaras suficientes, que Portugal não tenha sido célere na adopção de medidas de prevenção e protecção. Mas quero confiar que mostraremos que, a maioria dos portugueses, é razoável e capaz de enfrentar esta ameaça, como, ao longo da História, conseguiu enfrentar outros perigos.
 Não resisto, ainda, a manifestar a minha indignação por haver quem queira politizar esta pandemia. Não sejamos idiotas! Este vírus, que ainda está no início da sua função destrutiva, que vai causar danos brutais na economia nacional e mundial, que nos faz procurar o isolamento quando sabemos que é com o outro que nos realizamos, não tem cor política. 
O Tempo deve ser de inteligência e prudência.  Tomar medidas de protecção, fechar fronteiras, impor controlo a todos- TODOS – os que entram no país, não é uma questão de ideologia. É só uma questão de sobrevivência!
E antes de me calar, quero deixar uma sugestão. Neste tempo de isolamento, que sejamos capazes de reinventar a vida em família, o estar em casa, o fazer coisas juntos. É o tempo de ler, para fugir à loucura assustadora de muitas das notícias das televisões. Sugiro que mergulhem num bom livro, o Pintor de Almas é uma boa opção. Porque eu acredito que é dentro de um livro que se está mais bem protegido. Contra os vírus e contra a estupidez humana!

domingo, 15 de março de 2020

CONTO PARA ENTRETER

Estar em casa, permite ter tempo para ler, sonhar, escrever. Tentando ocupar a cabeça, fugir um pouco ao receio colectivo e justificado, lembrei-me que o meu perfume, o mesmo há anos, vem de Itália!


É UMA HISTÓRIA DE AMOR DA TOSCÂNIA
(Ou publicidade ao meu perfume Tuscany)
Este homem e esta mulher nunca chegaram a ser apresentados ao mundo real. Apaixonaram-se no primeiro encontro, em Siena, na Piazza del Campo. Recordavam-se apenas de um excesso de luz. Um sopro. Dois perfumes feitos da mesma essência. Ela ouvia-o e não concebia que as palavras pudessem ter existido antes daquela voz. Riam-se, e ele descobria que o riso dela espalhava estrelas pela noite da Toscânia. Diziam coisas sem nexo. Nos braços dele, ela sentia-se resplandecente como o mármore. Juntos, não precisavam de imitar ninguém. O coração da terra batia ao ritmo fundo daqueles dois perfumes de uma só alma. A alma que os unia não cabia nos limites impostos pela humanidade e, por isso, os dois se fechavam num só. Nas praças, por onde vagueavam fantasmas do Amor, só os pombos citadinos sentiam o frémito que aquela paixão provocava. Nas esplanadas, entre o café e o chantilly repartido, os olhos dela prometiam o prazer supremo para a eternidade. Davam as mãos e partiam para aquele quarto onde se sentiam vivos, possuídos por Vénus, criadores e repletos de fragrâncias estonteantes.
Depois, um dia, como todos aqueles dias cheios de horas e minutos ansiosos, acordaram tarde pela primeira vez. Ele tinha de correr. Ela, segura na nudez apaixonada, enlaçava-o e prometia o resto. O que está para além de tudo e que só as almas gémeas podem desvendar. Ele adiou. Abandonou aquele corpo amado, afagou o sexo que se lhe oferecia num até breve já saudoso, e correu para o duche. Na cama, sentindo o cheiro da carne amada misturado com o sabonete que adivinhava escorrer e cobrir de espuma branca a sua paixão, ela lembrava aquela tarde, em Siena, onde um perfume único a despertara para uma aventura que lhe parecia integrar um romance esquecido do séc. XIX. Via a Piazza del Campo projectada pela sua recordação no cristal do frasco do perfume que nunca a abandonava. Agora sentia a sua presença, a intensidade do seu olhar a despir-lhe, lenta e ternamente, o vestido preto que usava naquela tarde. Era Setembro. Fim de férias e início de nova vida. Para ela, a vida tinha começado ali. Olá! Estou apaixonado por si! Assim. Fora sem delongas, sem retóricas desnecessárias ou discursos balofos e gastos, que ele tinha nascido para ela. As estrelas vão começar a pintar o céu, respondera. Sentia que não era dona das suas palavras porque, até o ouvir, tinham sido sons inócuos. Adoro o seu perfume! E ria. Ria agora, enquanto ele se barbeava, cuidadosamente, sem toalha à cintura e espreitando, com um enorme sorriso branco, o seu riso de recordação alegre. Lembras-te do nosso primeiro encontro? Claro! Como posso esquecer um vestido negro, um éclair tentador, as pérolas simples e o olhar único daquela que me levou ás nuvens e me deixou espreitar o paraíso? Sempre assim. Alegre, feliz, cheio de amor por ela. Tenho de ir. Tenho de trabalhar. Não… era um não consciente da impossibilidade do sim. Era um não náufrago perante a enorme vaga que se anunciava. A vaga de pessoas. Os outros a entrarem no seu mundo com uma sem-vergonhice que doía. Fica comigo. Vamos ver os pombos, vamos correr a Toscânia, ouvir os violinos, conhecer os segredos das fontes e conversar com o silêncio. Amanhã. Depois, sempre. Agora tenho de ir. A vida, o quotidiano, não se verga perante a força da paixão. Tenho de trabalhar… Deve ser por isso que o mundo caminha mal. Os homens esqueceram o mistério da paixão, desaprenderam os rituais do amor, sucumbiram perante as exigências do material, da sociedade. Agora, o perfume que a invadia não era agradável nem dourado. Agora, sentia entrar no quarto um odor acre e negro que trazia o adeus. Olhou-o de novo e descobriu um raio de tristeza que lhe atravessava o olhar. Venho logo. Volto para ti, espera-me! Viu-o então, O olhar denunciava a dor do afastamento. Saiu da cama e abraçou-o. Tremeu ao sentir os dedos amados que lhe percorriam o corpo. Devagar, do pescoço até ás nádegas, ele acariciava-a. Soltou-se lentamente, viu-o sair. Da janela assistiu à sua entrada no automóvel, ouviu o motor trabalhar e, aos poucos, viu-o transformar-se num ponto pequeno, pequenino, mais pequenino, tão pequenino que desapareceu. Arrepiou-se. De repente, sentiu passar por si um fantasma assustador, portador de uma qualquer desgraça. Escancarou a janela, deixando que o sol da Toscânia afastasse os pressentimentos que não queria aclarar.
Olhou e viu o vazio da cama, ainda há pouco repleta. Agora, tinha de reorganizar a existência. Alguém lhe tinha dito, talvez uma  amiga, quiçá a mãe, que não se pode viver de amor e uma cabana. Que pena!
 A ela apetecia-lhe ficar eternamente ali, com ele, envolta no perfume que a seduzia e segura por aqueles braços aos quais tinha dito até logo cheia de desejo de já.  Abriu as torneiras e deixou que a banheira se enchesse completamente. Depois, como quem prepara o último acto de uma ópera por criar, deitou os sais de banho, duas gotas do perfume dele e mergulhou. A água tépida fez reagir a pele. Era jovem. Depois… Porque há-de haver sempre um depois?
O sol já invadia a cidade quando saiu. Sentia na pele os raios da grande estrela, mas o calor interior sobrepunha-se. Estava apaixonada! Entrou para tomar um café num simpático Bristrot. Sorriu ao empregado que a tendeu e pareceu-lhe vislumbrar sinceridade no sorriso devolvido.
E agora? Tinha de decidir muita coisa. Tomar providências – como o Pai costumava dizer nos almoços de domingo em família. Por onde começar? Telefonar para casa e dizer não volto? Não, os pais nunca compreenderiam tal atitude. Dizer que ía viver em Itália com alguém que não sabia quem era? Com alguém que só podia viver em Siena para a fazer feliz? Diriam que enlouquecera. Passou perto da Catedral e entrou. Talvez Cristo a ajudasse, Afinal, lembrava-se bem!, sempre lhe tinham ensinado que Cristo ouve e ajuda quem Nele acredita. Acreditaria ela? No momento não podia duvidar da sua Fé. Acreditava que Alguém tinha de entender o Amor e, assim, falou para o Cristo-Homem que parecia sorrir-lhe da cruz. O que hei-de fazer? O único mandamento, o maior, é o Amor. Foi a resposta que levou no coração.
Cristo, ajuda-me! Foste Homem, amaste, vale-me agora. Ajuda os outros a compreenderem, a aceitarem, a força desta paixão. Teria rezado? Decerto não existia em nenhum dos catecismos que conhecia a sua oração. Mas era sentida, humana, livre e verdadeira como a religião que professava. Procurava apoio, compreensão, solidariedade. Voltaria a Portugal, a casa dos pais. Estava decidida. Não podia contar pelo telefone, esse objecto humano tão inoportuno, a força do sentimento que a invadia. Não! Contaria pessoalmente. Afinal, amar não é crime e ser feliz devia até ser obrigatório.
A sua solidão havia terminado. Não seria mais a inoportuna, a sozinha, o lugar que estragava a simetria cuidada nas mesas de refeição. Saboreou uma lágrima teimosa que não resistira à emoção. Voltou para casa, dele, logo deles.
Uma osga pachorrenta dormitava sobre a laje da entrada. Com licença, bicho. Entrou. Imediatamente a invadiu o aroma Tuscany que denunciava a presença dele. Um abraço uniu-os. Vamos jantar perto da água. Vem. A loucura apaixonada dele a dominá-la. A água, o brilho dos lagos, o som das fontes, o mistério das ondas e o correr dos rios seduziam-nos. Dizia lembrarem-lhe paixão. Vida.
Temos de conversar. Há tempo, talvez um minuto eterno?, que nos amamos. Temos de resolver o que fazer da vida, da nossa.
Porquê? Por que não podemos adiar a nossa apresentação à realidade? Por que não esquecemos que existe relógio, que há gente no mundo? Meu amor, não podemos! Alguém descobriu que o homem é um ser social e, então, não podemos contrariar as verdades científicas… De novo a alegria, o bom-humor, a colorirem a vida que parecia, para ela, até então tão cinzenta. Fazemos uma viagem, queres? Oito dias só para nós. Para nos pensarmos. Queres?
Só? – Não. Também para nos devorarmos. Telefona à tua família e vamos. Depois, quando viermos, logo mais, contamos o que nos aconteceu: - Fazemos parte de um mundo de paixão perfumada, envolta pela Toscânia, protegida pela Piazza del Campo. Agora vem.
Quero-te.
Logo, daqui a pouco, fazemos a nossa apresentação à realidade. Tem de ser? Tem!
O automóvel deslizava, solidário, em busca da água confidente. A mão livre, dele, explorava a coxa firme, dela.
Do automóvel, nada restou. Deles, tudo desapareceu. De tudo ficou, para eternizar a paixão, dois frascos de Tuscany cuidadosamente arrumados no necessaire de dois apaixonados.

sexta-feira, 13 de março de 2020

ISOLAMENTO

Estamos em casa. E seria óptimo estar em casa, se as razões para tal não fossem trágicas. Mas temos de sobreviver e, creio, a única forma de o fazer é não entrar em pânico, respeitar as recomendações dos especialistas e encher de sentido as horas. 
Há sempre como ocupar o tempo, em casa. 
Há coisas para arrumar, há televisão e música e, sobretudo, há livros. Eu vou ocupar o meu tempo com os livros que me permitem, sem correr riscos, ir para lugares distantes, conhecer novas pessoas, rir, chorar e viver. Não há vida melhor do que a que acontece nas páginas de um livro.

quinta-feira, 12 de março de 2020

CIVISMO, POR FAVOR

Estou preocupada. Angustiada. Assustada. Com medo. Medo do vírus, da pandemia, da doença que parece incontrolável, do contágio iminente, da morte. 
Ao mesmo tempo, tenho vergonha pelo comportamento de muitos portugueses. 
Como é possível que, ontem, às 19,30h, no supermercado Continente, as prateleiras estivessem vazias e as pessoas estivessem a açambarcar produtos? Que loucura colectiva é esta? 
Claro que compreendo o medo, mas não compreendo a histeria. Esta é, penso, a hora da calma e do civismo. É tempo de pensarmos o que significa, de facto, viver em sociedade, respeitando cada outro e cada eu. 
Se é idiota ir para a praia como se estivéssemos em férias, mais idiota é despejar os supermercados e impedir o ainda relativamente normal do país. 
Sim, a situação é séria e preocupante. Sim, é preciso seguir as indicações dos profissionais de saúde. Sim, eu penso que as escolas deviam fechar antes de começarem os contágios.
Mas não, não posso compreender comportamentos como os que ontem, no meu país, se registaram. Lamento. 

terça-feira, 10 de março de 2020

A MINHA PÁTRIA É A LÍNGUA PORTUGUESA

Não sou purista da língua. Gosto de brincar com as palavras, gosto de neologismos, sou admiradora da capacidade, quase plástica, que Mia Couto, como poucos,  tem para inovar e reinventar a língua. Eu mesma, muitas vezes, gosto de inventar palavras, de encompridar sentidos, de adoçar ternuras.
No entanto, a "língua portuguesa é a minha Pátria" maior e incomoda-me, ao ponto de me provocar enxaquecas, confrontar-me com algumas barbaridades, verdadeiros atentados, cometidos contra a minha língua.

Os mais graves, para mim, são:
Discordo com... Devemos dizer discordo de; concordo com
Á ... o acento da preposição é grave! À
Há e ah ... um é verbo, outro interjeição
Hadem ... Deveria ser hão-de
Dou-te um concelho ... Vamos dar o país aos retalhos? pois, é conselho!

Depois, há aquelas afirmações, pomposamente ridículas, como "desconheço as razões mas sou veementemente contra!" Como se pode ser contra, ou a favor, do que se desconhece?
Às vezes, no meu quotidiano, parecem juntar-se todas as enormidades só para me estragarem o dia! Que irritação!

domingo, 8 de março de 2020

MULHER

É o Dia da Mulher. Eu, que sou normalmente contra os dias de, penso no que é ser Mulher. Não recordo só as mulheres da História, as que muito sofreram para ter direitos humanos, as que morreram lutando pelo reconhecimento da sua existência. 
Lembro, também, as mulheres da guerra. As mães que vêem os filhos morrer à fome, ou baleados, ou meninos perdidos da guerra. Lembro as mulheres sem pátria, as que morrem no mediterrâneo, as que fazem milhares de quilómetros atrás da possibilidade de paz. Lembro as mulheres sozinhas. Com filhos, sem filhos, com a solidão por companhia, com o abraço inexistente a cada adormecer.
Lembro mulheres próximas. As minhas avós, tão diferentes, a minha mãe, as mães de amigas que foram importantes na minha vida. 
Penso em mim, Mulher de sonhos, de perdas e lutas, de utopias eternas. 
Penso nas minhas filhas, Mulheres de garra que me fazem falta perto. E temo pelas minhas netas. Como será ser mulher daqui a dez anos? Talvez as lutas sejam outras, talvez, no essencial, sejam as mesmas. Não sei. Felizmente, não posso adivinhar o futuro (uma angústia a menos), mas penso muito nelas. Mulheres do daqui a bocadinho, num mundo ainda marcado pela maldade, pelo egoísmo, pelas injustiças.
Hoje, é o Dia da Mulher.
E eu, que gosto imenso da companhia masculina, que sinto que é a dois , sexos diferentes, que a vida se enfrenta com mais força e alegria, não consigo deixar de pensar que, apesar de muitos pesares, ser Mulher é um privilégio!

sábado, 7 de março de 2020

DOR

Nem sempre o inevitável, o certo e natural, racional até, é fácil de aceitar. Claro que as pessoas, como qualquer ser vivo, envelhecem e morrem. É a vida, dizem-nos, como se não o soubéssemos. Mas custa. Custa ver uma pessoa querida a degradar-se, a ficar perdida em si mesma, a sofrer perante a aproximação do fim. Nem sempre o natural basta para aceitar a dor.

quinta-feira, 5 de março de 2020

DIFICULDADE

Tenho muita dificuldade em obedecer. Muitíssima! Tenho a mania que somos, quase todos..., seres inteligentes, que devemos utilizar o cérebro e nele fundamentar as nossas opções. Acredito, mas convictamente, que as minhas opiniões são fundamentadas e que, porque me considero livre, posso responder por elas sem que isso implique condenação. É por isso, creio eu, que tenho dificuldade em obedecer só porque sim. Lido mal com as hierarquias, sou acérrima defensora do trabalho colaborativo, não gosto de quem impõe razões e defendo, sempre, que através do diálogo e do confronto saudável de ideias se podem construir novos possíveis. Lembro, muitas vezes, a minha querida Professora Catalina Pestana, a forma como, assertivamente, nos/me fazia reformular e evoluir.
Pois é, reconheço que tenho dificuldade em obedecer mas, verdade também, reformulo as minhas opiniões com relativa facilidade e estou sempre disponível para ouvir argumentos diferentes dos meus. 
É por isso, com certeza, que não gosto de ditaduras!

terça-feira, 3 de março de 2020

MAR DE OURO

Desta vez, contra todas as minhas expectativas, não tinha saudades nenhumas de Portugal, de Portalegre menos ainda. Afinal, só estive fora cinco dias, não é tempo suficiente para o coração se sentir estrangeiro, para os pés tropeçarem em chão desconhecido. Não me apetecia voltar. 
Esta viagem, como quase todas, foi uma vivência de direito ao espanto que eu aproveitei muito bem.
No entanto, ao entrar em Lisboa, no final da tarde, o mar parecia uma estrada de ouro, bem mais belo do que qualquer passadeira vermelha e eu até me emocionei. 





domingo, 1 de março de 2020

Parentesis

Como professora de português, muitas vezes trabalho a utilização da pontuação. É diferente, por exemplo, o sentido de uma frase, dependendo de onde colocamos uma vírgula. Hoje, tenho pensado que adoro os parêntesis. É que, muitas vezes, a minha rotina faz-me sofrer, desespera-me e, quando abro um parêntesis na vida e viajo, ganho novo fôlego!
Aqui fica, escrita, a minha homenagem aos parêntesis!




Coincidências?

Eu acho que há coincidências. Não é o destino, nesse não acredito, mas deve haver um alinhamento de energias que, por vezes, causa coincidências estranhas. Passeando em Berlim, e consolidando a minha certeza de que comunismo e fascismo são diferentes formas da da mesma violência, duas formas de impedir liberdade e democracia, quando de Portalegre me chegam notícias de 500 pessoas apoiando André Ventura. Como é possível?? Como compreender que se sigam ideais contrários a Liberdade? Ventura anuncia prisão perpétua, perseguições às minorias, horrores que eu não imaginava que pudessem a ser palavra de ordem. A minha revolta aumenta. Porquê Portalegre, onde ninguém se mobiliza por causa alguma, estar a festejar-se o fascismo?? Não compreendo mesmo. Há tempos que não deviam repetir-se.