sábado, 26 de setembro de 2020

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

Embora a alguns amigos meus pareça estranho, eu concordo, e entusiasmo-me, com a maioria das decisões que este governo tem tomado no campo da Educação. Sou uma defensora convicta da Autonomia e Flexibilidade, acredito de facto que a avaliação tem de ser parte integrante do processo de ensino e aprendizagem e desejo uma Escola mais equitativa, mais fazedora de Pessoas e capaz de formar cidadãos activos, críticos, empreendedores, solidários e disponíveis para aprender. 

Sim, eu ainda acredito que a Escola de hoje pode fazer sentido, apesar do Covid e de muitas dificuldades.

No entanto, não concordo com o sistema de avaliação do desempenho docente. Defendo, sempre defendi, que quem trabalha quem que ser distinguido de quem simplesmente cumpre horário mas, insisto, não da forma que vigora. Como podemos acreditar numa avaliação sem olhar objectivo, centrada em momentos, baseada em relatórios e simpatias? Conheço escolas onde, pasme-se, professores de escalões inferiores avaliam os colegas de escalões superiores; onde se distribuem as classificações de Muito Bom não pelo real valor do desempenho avaliado mas, sobretudo, pela necessidade de cada professor  obter essa classificação para poder progredir na carreira. Para mim, não faz sentido! 

Defendo uma avaliação com diversos parâmetros e na qual a intervenção dos alunos  seja considerada.

Eu gosto imenso de ser professora, cada vez mais acredito que só a Educação pode construir um mundo melhor, mas não tenho dúvidas de que a mesma Educação é uma ciência e não, apenas,  um jogo de palpites ou simpatias.

Não gosto deste modelo de Avaliação do Desempenho Docente que vigora em Portugal. 

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

São Mateus

21 de setembro é dia de São Mateus. Quando eu era miúda, neste dia íamos todos  jantar a Elvas, à Feira, e, depois, andávamos nos carrosséis. Comíamos algodão doce, encontrávamos os filhos dos amigos dos meus pais, os de Elvas, e deitávamo-nos muito tarde. 21 de setembro era o dia de anos da minha mãe que, se fosse viva, faria hoje 93 anos.

A minha mãe já cá não está. Eu já não vou a Elvas e, este ano, não há carrosséis, não há restaurante, não há Festa. Este ano, quase não há vida, só existência.

Como me dói. Como me custa.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

VAI CORRER MAL

Tem tudo para correr mal. A escola de hoje não é escola. Onde ficam as dinâmicas colaborativas, a valorização de trabalho de pares e de grupo, as verdadeiras aprendizagens de vida em sociedade, a proximidade e as conversas com os amigos? Como vão os alunos namorar, brigar, segredar e ousar? As crianças e jovens de hoje, infelizmente, estão em prisão. A escola tornou-se o lugar onde os sonhos e o convívio estão confinados ao vazio.

Esta escola, não é Escola.

Esta escola é um lugar para aguentar as crianças e os jovens de forma a que os pais possam ir trabalhar e a economia não pare. 

Este ano lectivo não é um desafio, é uma condenação. Um castigo por um crime não cometido! 

Tem de ser, garantem. E eu até compreendo que sim. Mas, quando tudo é diferente, não se podem pedir práticas usuais. Este ano, o tempo devia ser de inovação, de reinvenção da alegria na escola, uma vez que no quotidiano predomina a desilusão e a tristeza. O medo e o susto. Este ano, é necessário permitir que a ternura volte à escola, de braço dado com a resiliência e compreensão.

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

BELEZA

 O mundo é, de facto, muito bonito. O Minho, onde há seis anos vou com muita frequência e diferentes estados de alma, não pára de me surpreender. Desta vez, foi no Restaurante Casa das Velhas, em Vila Nova de Cerveira, que a minha alma estacionou. Uma vista sobre a ilha dos amores, ali mesmo no rio Minho, o pôr-do-sol a pintar telas maravilhosas e Camões a ecoar na minha alma. Ao meu lado, os meus netos mais pequeninos, as gargalhadas, ainda o privilégio do espanto de quem, pela primeira vez, ouve e vê novas realidades, permitiram-me um serão absolutamente fantástico!

Como a avó Josefa, hoje, eu penso que o mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer.







sexta-feira, 11 de setembro de 2020

EXPOSIÇÃO

Portalegre, a vida, o mundo, ganham sempre com a presença da Arte. Em tempos de pandemia, de distância e isolamento, quando o medo mais se impõe e o futuro fica mais hesitante ainda, parece-me fazer ainda mais sentido procurar refúgio na Arte.
E, por pensar assim, associei-me a um amigo, alguém com olhar atento e curioso, para organizar, na nossa cidade, uma exposição que cruza olhares com letras.
Na galeria de São Sebastião, ali mesmo ao lado do belíssimo edifício da Câmara Municipal de Portalegre, no lugar onde os Jesuítas ensinaram e rezaram, no mesmo chão que, durante anos, as tecedeiras pisaram, está, desde dia 11 e até 22 de Novembro, um desafio a novos olhares e diferentes interpretações. 
Deu trabalho, claro, mas ainda acredito que "tudo vale a pena, quando a alma não é pequena".

 

terça-feira, 8 de setembro de 2020

PARTIR

Corre o rio, leva o tempo. Olho o veleiro que o vento empurra e, pés no chão, lamento que me não leve a mim também. Sou bicho terra, de chão fixo e, aqui, onde o mar acaba e a terra começa, lembro muitas histórias da História, minhas também, e vivo o desejo de partir.

Curioso o verbo partir. Partir, assim, no infinitivo, parece-me agradável. Ver partir quem me é querido, é-me doloroso, sabe a vinagre tinto, feito de sangue e dor.

Mas, hoje, eu quero ir com o Tejo. Quero que me envolva nas ondas pequeninas, que me façam cócegas na existência os pés das gaivotas, que, com um rasgo de sorte, me atirem ao ar os golfinhos-roaz ou, apenas, as toninhas vulgares. Quero partir!

Sozinha. Levando na bagagem as minhas vivências, os bons momentos que roubei à vida, carregando junto a mim a ternura que vivi.

Quero partir!



sábado, 5 de setembro de 2020

EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

 Quem sabe quem eu sou, não tem dúvidas que não sou de Esquerda. Prezo demais a minha liberdade, para poder sequer pensar nisso. E, porque quero ser livre, penso!

Já não consigo ficar calada perante o que considero as barbaridades que têm sido ditas, e escritas, sobre a Educação para a Cidadania. Até abaixo-assinados para que não exista na Escola! 🙄😡
Claro que tem de existir na Escola!
Porque a Escola deve formar cidadãos! As orientações, os temas, decorrem de documentos base da Democracia, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Constituição da República Portuguesa. Há orientação política? Obviamente! Como há na disciplina de história, ou de português, ou filosofia! Eu, que lecciono português, posso, por exemplo, abordar Os Esteiros fazendo campanha pró comunismo (Cruzes!).
Defendo que a Educação para a Cidadania não deve ser uma disciplina, mas sim uma área disciplinar, e tenho muito orgulho em poder constatar que, em Portugal, há escolas a fazer um excelente trabalho (também) neste domínio. Acredito que haja escolas, e professores, a trabalhar menos bem mas, defendo, há que ajudar a melhorar, e os Pais e comunidade devem colaborar, e não condenar a existência deste domínio de aprendizagem.
Muitas vezes prometo a mim mesma ficar calada, ignorar, mas, perante calamidades como esta, não consigo!

terça-feira, 1 de setembro de 2020

1 de muitos

Sempre que setembro se inicia, há pelo menos 37 anos, eu vibro. Entro num estado de excitação, de alegria, inexplicável, carrego a cabeça de projectos e o coração de sonhos. É o regresso à Escola! 

Embora já tenha vivido muitos inícios de ano, a ideia de que vou reencontrar alunos, vou conhecer novos jovens, vou poder desafiá-los a ousar, vou descobrir textos e partilhar leituras, sempre mexe comigo.

Este ano, neste maldito 2020, no ano em que, depois de três anos longe de alunos e só trabalhando com professores, resolvi voltar à sala de aula, setembro anuncia-se tenebroso. Reina o medo, a desordem, a desconfiança. Não sei como vai funcionar a Escola! Dizem-me, mas diz-se tanta coisa..., que o Ensino Básico terá aulas de manhã e o secundário à tarde. Parece-me irrealista. Dizem que as turmas vão ter menos alunos, e na Escola para onde vou fundem-se turmas de 15 numa única de 30. Não se sabe como serão os exames, não se sabe se será necessário voltar ao ensino à distância. Não se sabe. E esta instabilidade, para mim e, receio, para a maioria dos alunos, não perspectiva sucesso, não anuncia bem-estar.

Pessoalmente, não tenho dúvidas que é preciso reinventar a Escola (ainda bem). Que o modelo que conheci e conheço tem de acabar. Mas, sem dúvida, a presença de pessoas e a partilha de espaços é fundamental na educação. Somos PESSOAS e, como tal, precisamos uns dos outros para nos construirmos. 

Tenho medo. Não do desafio, não da mudança.Não do Covid-19. Tenho medo da indecisão!

Este ano, setembro chegou a cheirar a azedo.