quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

HOJE

Anda nas redes sociais um texto bonito, e ingénuo, atribuído a Saint-Exupéry (tenho dúvidas) que sugere que se deixe a tristeza, a infelicidade, as lágrimas, para amanhã. Hoje não, diz o texto. Amanhã eu fico triste... hoje não. Dou comigo a pensar que, como diz uma canção da moda, amanhã é sempre tarde demais. Eu quero sorrir hoje, agora, acreditar sempre, amar a cada hora. 
Hoje, com a minha realidade embrulhada em algodão húmido, parece-me um dia perfeito para viver, para além de existir. 
Hoje, quero ignorar absurdos e aquecer cada minuto na emoção do abraço. Estou a ficar velha, o tempo não pára, já não quero deixar nada para amanhã, o Exupéry que me desculpe.
Sim, hoje é um óptimo dia para estar viva. Para me lambuzar de abade de priscos e para me enroscar na  ternura. 

GREVE

Amanhã há greve, dizem. Podia haver sol, chuva, felicidade, um espectáculo interessante, um almoço de amigos, um nascimento, um casamento, mas não, há greve. Como se greve fosse uma festa, ou mesmo porque, como a greve sempre acontece à sexta-feira, surge a possibilidade de um fim-de-semana prolongado e, convenhamos, um dia a mais no fim-de-semana dá sempre muito jeito.
Eu não vou fazer greve. Não me lembro de, alguma vez, ter feito greve. Nem sequer quando discordava, e me indignava, contra as políticas da Ministra Maria de Lurdes Rodrigues, eu fiz greve. Obviamente, considero que o direito à greve deve existir. No entanto, porque sou profunda e claramente humanista e conheço a força da palavra e a essência da Democracia, acredito que há outras formas de fazer valer os nossos direitos. Ainda por cima, não me sentiria bem participando numa greve que, sobretudo, incomoda e prejudica quem não tem culpa...
Mas, porque, felizmente, ninguém liga nenhuma à minha opinião, amanhã há greve e eu, se fecharem a minha Escola, vou ter um dia de descanso! 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

ACREDITAR

Fui ao Congresso do CDS, em Aveiro, cidade linda e líquida. Há muito tempo que não participava, activamente, em acções políticas embora, obviamente, nunca tenha deixado de ler, de ouvir, de votar. Acredito na democracia, acredito que cada pessoa é singular e única, não quero um estado que castre sonhos e defendo a iniciativa privada. Defendo que o mundo seria melhor se cada pessoa fosse responsabilizada pelos seus actos, e pudesse fazer as suas escolhas. Não acredito na igualdade utópica, defendo a equidade praticada. Sou cristã, respeito cada outro na sua liberdade de ser diferente. Para mim, a palavra tem de fazer sentido, porque colaborar não é obedecer. Defendo a Vida e a dignidade do ser-humano.
Eu não acredito em socialismos, não sigo ditaduras e não quero imposições arbitrárias vindas de grupos, às vezes quadrilhas, fingindo governar o meu país. 
Sei que o CDS é um partido minoritário, mas Jesus Cristo era seguido por doze pessoas e Hitler por milhões.
Sim, voltei à actividade política. Porque estou viva, porque me sinto sufocada pela mediocridade vigente, porque quero um Portugal melhor para os meus netos, porque "vejo, oiço e leio" - não posso ignorar!

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

HETERONÍMIA E PARADOXO

Ricardo Reis não é, nunca foi, o meu poeta de eleição. O estóicismo, a atitude ataráxica, até o epicurismo que pratica, deprimem-me e fazem-me sentir que a morte acontece em vida. Sem dúvida, Alberto Caeiro é o meu heterónimo preferido. "A vida não se fez para pensarmos nela, mas para estarmos de acordo com ela", é a adaptação, muito livre, que faço de verso do Guardador do Rebanho, eu que, com excessiva frequência, estou em desacordo com a realidade, protesto contra o quotidiano,  prefiro o vento e a a chuva, ao sol e ao calor. 
Na vivência dos paradoxos que me fazem pessoa, mulher, vem a dualidade emoção/razão. Sabendo que é a inteligência que tudo comanda, continuo a ter muita dificuldade, apesar de já ter entrado na última fase da minha vida, em ignorar as emoções. Sinto intensamente, com paixão, o que me seduz e o que me fere. Sofro, até fisicamente, o abandono e a injustiça. Quero o Amor total, e vivo o sofrimento absoluto.
Racionalmente, desmonto a intensidade dos sentires. Racionalmente, também, cada vez os sentires mais me dominam.
Não. O meu coração não gira a entreter a razão. Infelizmente!

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

DIZ-QUE-DISSE

Se há coisa que me desespera, e muito, é o diz-que-disse. Infelizmente, para mim, na minha cidade este hábito é muito frequente ... A frontalidade, a verdade, parecem não ser práticas correntes e, quando damos por isso, criaram-se mal-entendidos, geraram-se ódios, sem justificação real.
Defendo sempre que é impossível gostarmos de toda a gente, que há empatias inexplicáveis e antipatias que nascem de nadas. No entanto, tenho aprendido que, para além destas verdades (para mim inquestionáveis), há ainda os grãos na engrenagem. Aqueles que caluniam, que intrigam, que inventam. Às vezes, fico muito cansada desta forma de estar em sociedade.

domingo, 19 de janeiro de 2020

FIM

Enroscava-se no sofá gasto, fechava-se em concha e deixava correr a tristeza. Às vezes, vinha molhada, fazia carreirinhos e cócegas nas bochechas; outras vezes, chegava montada na revolta, cheia de promessas de grandes e profundas transformações. 
Ela ficava assim, bem fechadinha em si mesma, procurando porquês, vendo a vida a esgotar-se. Nos momentos de grande revolta, tomava decisões. - Ía mudar. Ía olhar mais para si, havia de viver cada dia sem se preocupar com os outros, sem vontade de mudar o mundo. Havia de ser capaz de queimar os sonhos na lareira da sala. Depois, quando desenrolava a concha, lavava a cara, calçava os sapatos e escovava o cabelo, a vida, a sucessão de dias, vencia-a e as mágoas voltavam. Era sempre assim. 
Um dia, quando ela estava bem enconchada, sem aviso nem preparação, a alma partiu. 
Ficou ali, no sofá gasto, só um corpo enroladinho. Sem dor. Sem sonho. Sem esperança. Com o sentido encontrado.

INCOERÊNCIA MINHA

Às vezes, na missa de domingo, o senhor cónego faz perguntas que ficam cá dentro a incomodar, a procurar respostas. Hoje, perguntava por que razão, se acreditamos em Cristo, se sabemos que Ele fala de Amor e fraternidade, continuamos a agredir-nos, a cortar relações, a alimentar ódios. Quando ouvi a pergunta/provocação apeteceu-me responder: - Porque somos humanos!
Mas não respondi. Não me atrevi. Vim para casa com a pergunta inquietante, pensando nos meus pequenos e grandes des-gostos pessoais. Há pessoas de quem não gosto. Pessoas que me irritam, que acho que sempre procuram fazer mal, destruir, caluniar, condenar, criticar. Pessoas que, sempre que posso, evito, ou voto ao mais profundo silêncio. De mim para comigo, muitas vezes, digo que isto acontece porque sou humana.
Hoje, esta resposta fica-me curta, sabe-me a pouco. De facto, não há coerência entre o que eu penso e o que eu faço. Mais grave, não sei se vou ser capaz de mudar esta incoerência minha. 
Será que resulta seguir as palavras da minha avó? - Eu não odeio ninguém, para mim, essa pessoa está morta e enterrada! 

sábado, 18 de janeiro de 2020

FALSIDADES

A chuva não se faz de lágrimas de anjos, os anjos não choram. A vida não é sempre nova, cada dia é um intervalo entre ontem e amanhã. Não vamos sempre a tempo, nunca poderemos voltar atrás ou eliminar erros. Não está nas nossas mãos a felicidade, vivemos presos numa rede de oportunidades e de outros. Não vale sempre a pena, há penas que de nada valem. Os projectos não são para cumprir totalmente, a maioria é alterada antes de chegar a meio da viagem. A inteligência não é também emocional, com ela gerimos (se soubermos) as emoções. Nem todas as pessoas com quem temos de conviver são significativas, há umas que só surgem para nos levar à loucura, ou irritar fortemente.
Pois é. Há uma série de asserções, que impingimos uns aos outros e gastamos a gosto, que não fazem sentido nenhum.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

ESTAREI A VER MAL?

Às vezes,  confesso que me incomoda intervir, opinar, a favor de algumas medidas que o ME adopta. Não sou do PS e, com excessiva frequência, me dizem que pareço ser, o que, para mim, é quase insulto...
Eu penso, e faço-o fundamentada no que leio, oiço e estudo, e sei que o mundo da Educação em Portugal não está perfeito. Sei também, por dentro, porque vivo a escola e na escola, que nem tudo é o que parece e que, apesar do imenso que há para fazer, muito se tem feito para melhorar as aprendizagens. Já muitas vezes defendi, e continuarei a defender enquanto existir (temo que se extinga) o processo de autonomia e flexibilidade curricular, considero perfeito o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória e, muito a sério, fico genuinamente feliz com as práticas que observo nalgumas escolas.
Hoje, bem cedo, acordei com a notícia de que os professores de línguas (francês, inglês, alemão - talvez espanhol) poderão leccionar português no terceiro ciclo e secundário, assim como os professores de geografia poderão leccionar história. De chofre, e quando ainda nem tinha acordado bem, fiquei indignada. Achei logo que alguém tinha perdido o juízo... Depois do duche, do pequeno-almoço, e já com umas horas de trabalho, fui ler o que, de facto, a DGE pretende. E fiquei bem mais tranquila. O que se diz, e convém frisar, é que professores de línguas - COM FORMAÇÂO CIENTÍFICA E PEDAGÓGICA EM PORTUGUÊS - (o mesmo para os de geografia em relação à história), podem leccionar essas disciplinas. Pensei em mim, e desculpem-me o umbiguismo.
Eu fiz uma licenciatura, e estágio, em português e francês e, porque estou no grupo de recrutamento 300 (português) só tenho leccionado a minha língua. Mas tenho formação e não me assusta se tiver de leccionar francês! Assim, quem tem licenciaturas em inglês/português, ou qualquer variante de línguas modernas com português, porque não pode também? Em relação à história, não sei. Mas se um professor fez estágio pedagógico em história e geografia, não me choca que, embora no grupo de geografia possa leccionar história. Será que eu estou a ver mal? É que, sinceramente, não vejo a razão para tantos protestos alarmistas...

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

MÃOS ESQUERDAS

Costumo dizer que, não sendo canhota, tenho duas mãos esquerdas. É a minha forma de dizer, de reconhecer, que não tenho jeito nenhum para manualidades. 
Para agravar as coisas, pelo menos para mim, quando manualidades implicam linhas e agulhas, a coisa agrava-se. Tenho horror ao cheiro - SIM, AS LINHAS CHEIRAM- dos cosidos, e as agulhas arrepiam-me. Em miúda, teria os meus doze anos, a minha mãe teve a ideia (sempre foi óptima  a ter ideias que me desagradavam) de aproveitar as férias de Verão, na opinião dela excessivamente longas, para que eu e a minha irmã aprendessemos costura. Então, ficou combinado, sem que eu tivesse tido direito a emitir opinião, que iríamos, todas as manhãs, para casa das costureiras, a Maria Amélia e a Floripes, duas irmãs de quem um dia hei-de falar, para aprender a coser. Inconformada, e com a tendência (que ainda tenho) para entender que devo manifestar opinião, diariamente havia um drama antes de eu ir para a costura. O meu pai, que nestas coisas, normalmente, se mantinha à margem das decisões maternas, de tanto me ouvir lamentar-me resolveu intervir. Negociou. Eu tinha de ocupar o tempo de forma útil, disse, e, se não queria aprender costura, devia apresentar outra proposta de ocupação. Apresentei: - Queria ir aprender equitação! O meu pai achou boa ideia e, confesso, entre os 12 e os 17 anos vivi as melhores férias e os melhores dias da minha vida, passando grandes temporadas em Monforte, mimada pelo Tio Necas e pela Tia Maria Fernanda, com um grupo de amigos fantástico, a montar a cavalo e a divertir-me. Claro que não aprendi a coser.
Ora, hoje caiu um botão da minha capa alentejana. Olhei o botão,olhei a capa, pensei no frio e propus-me ir pedir à costureira que me pregasse o bicho. Já a sair de casa, o meu grilo falante fez-me pensar no ridículo da situação... Voltei a casa, enfiei uma agulha, com esforço e a achar insuportável o cheiro das linhas, e, milagre!, preguei o botão.
Moral da história, que não tem moral nenhuma, é que não tenho dúvidas que a aprendizagem só acontece quando é útil e faz sentido para quem aprende!

sábado, 11 de janeiro de 2020

ACHO EU

A vida não é nada fácil. Ou seja, a vida é muito fácil: - Nasce-se, cresce-se, fica-se adulto, envelhece-se e morre-se. Fácil e fatal. 
Difícil é, para mim pelo menos, cumprir cada dia com sentido(s) enquanto a vida se vai gastando. E difícil, sobretudo, porque vivemos, necessaria e obrigatoriamente, com outras pessoas, em ambientes sociais que nem sempre são os que escolhemos, ou os que gostaríamos de integrar. Há feitios que chocam, maneiras de ver o mundo que dificilmente se coordenam. Eu penso, mesmo a sério, que às vezes esbarramos com pessoas que só existem para testar a nossa capacidade de resistência. A nossa capacidade de ignorar a estupidez, também. 
Enfim, são coisas que eu penso. E que penso, sobretudo, quando gasto momentos e horas que preferia aproveitar de outra forma. 

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

SURPRESA


Há surpresas que me tocam. Duas alunas muito queridas, meninas-mulheres a terminar o 12º ano, trouxeram-me um presente de Natal. Não foi comprado, não vale milhões mas, para mim, não tem preço! Trouxeram-me um caderno para eu escrever. Mas, com mil cuidados, decoraram-no com as frases que eu mais digo e que, de alguma forma, as marcam, ou marcaram. Tive de brincar, para não deixar correr as lágrimas reais. São estes pequenos imensos nadas que me fazem ter fé na Escola, e confiança no meu trabalho.

Obrigada, queridas Joanas. E que, sempre, as palavras vos façam felizes.

sábado, 4 de janeiro de 2020

NÃO APRENDO

Passadas as festas, regressado o silêncio que o Zorba interrompe, é tempo de retomar rotinas. O trabalho é rotina. Rotina é, também, olhar para o meu eu-pessoa e indignar-me. Não há maneira de eu aprender a ter calma e a desistir. Não, não há meio de aprender a cumprir a velha máxima de " Deus me dê coragem para mudar o que pode ser mudado, serenidade para aceitar o que não posso mudar , e sabedoria para distinguir!" Sou uma viajante da utopia, uma eterna desiludida também.
Este ano lectivo, de 19/20, voltei a acreditar que ia ser capaz de ajudar a mudar a Escola portuguesa. Quanta pretensão... 
Hoje, dia 4 de janeiro, sinto já uma imensa mágoa desiludida, uma vontade dolorosa de largar tudo e voltar à sala de aula, aos jovens de quem tanto gosto. Inicio o 2020 com muitas dúvidas e muitos receios. Tenho a desesperança na alma, a desilusão na inteligência. 
Neste 2020, se Deus quiser, farei 60 anos. Era, há uns tempos, uma idade que não achava ser para mim, parecia-me a velhice certificada. Agora, quase lá, penso que deviam estas seis décadas ter-me ensinado a viver e não a, eternamente, sobreviver.