sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

HETERONÍMIA E PARADOXO

Ricardo Reis não é, nunca foi, o meu poeta de eleição. O estóicismo, a atitude ataráxica, até o epicurismo que pratica, deprimem-me e fazem-me sentir que a morte acontece em vida. Sem dúvida, Alberto Caeiro é o meu heterónimo preferido. "A vida não se fez para pensarmos nela, mas para estarmos de acordo com ela", é a adaptação, muito livre, que faço de verso do Guardador do Rebanho, eu que, com excessiva frequência, estou em desacordo com a realidade, protesto contra o quotidiano,  prefiro o vento e a a chuva, ao sol e ao calor. 
Na vivência dos paradoxos que me fazem pessoa, mulher, vem a dualidade emoção/razão. Sabendo que é a inteligência que tudo comanda, continuo a ter muita dificuldade, apesar de já ter entrado na última fase da minha vida, em ignorar as emoções. Sinto intensamente, com paixão, o que me seduz e o que me fere. Sofro, até fisicamente, o abandono e a injustiça. Quero o Amor total, e vivo o sofrimento absoluto.
Racionalmente, desmonto a intensidade dos sentires. Racionalmente, também, cada vez os sentires mais me dominam.
Não. O meu coração não gira a entreter a razão. Infelizmente!

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