sexta-feira, 28 de maio de 2021

MÚSICA

Não sei tocar nenhum instrumento, não sei cantar, nunca pertenci a nenhuma banda, orfeão, ou coro. Quando era miúda, no meu Liceu, era excluída das aulas de educação musical logo ao primeiro solfejo, o  que agradecia entusiasmada. Mas, ainda assim, adoro música, vivo com música de manhã à noite. Gosto de música clássica, de música ligeira, de Fado, de melodias que, cantadas na minha língua, me devolvem o mar e adubam o sonho. Hoje, vou de novo, depois de quase dois anos de interdições, a um Concerto. Vou ouvir o Zambujo, a voz do meu Alentejo, vou voltar a deixar a minha alma dançar, já que o corpo o não pode fazer! E antecipo a travessia dos campos ainda (ou já) floridos, a conversa boa com uma amiga, o Gin bebido antes de entrar no Campo Pequeno. Às vezes, cada vez mais, penso que são os pequenos momentos que fazem grande a vida.

quinta-feira, 27 de maio de 2021

UBUNTU

 UBUNTU. Uma palavra Zulu, ancestral, que encerra em si uma filosofia por cumprir. Ser com o outro. Ter consciência de que, como humanos, vivemos uns com os outros, não uns contra os outros. Há quem trabalhe os princípios UBUNTU nas Escolas, há quem tente (tente, porque não é fácil) aplicá-los na vida. 

Para mim pode ser, é com certeza, mais uma forma de contribuir para a transformação da Escola, e do Mundo, que muito defendo. Se não é possível dois corpos ocuparem o mesmo espaço, lei básica da física, em vez de continuarmos a tentar colocarmo-nos no lugar do outro, talvez faça mesmo mais sentido compreendermos que existimos pelo(s) outro(s). 

Nem sempre me acontece, às vezes desespero e tenho vontade de desistir, mas, depois, vem mais uma ideia, mais um desafio, e volto a acreditar que pode ser possível, que tem de ser possível, deixar um mundo melhor aos meus netos!

domingo, 23 de maio de 2021

Dia da Cidade

 Dia da Cidade, 23 de maio. D. João III, o mesmo que trouxe a Inquisição para Portugal, considerou que Portalegre tinha condições, e desenvolvimento, para ser cidade. Depois disso, gostaria eu de acreditar, foi sempre a desenvolver-se...

Bom, a narrativa da minha cidade não é exactamente assim, mas, em dia de Festa, prefiro ignorar o menos bom. A verdade, para mim que sou mesmo portalegrense, é que este lugar é temperado por Deus. É um espaço onde se equilibra o provincialismo e o progresso, onde é possível viver, para além de existir. Nas ruas da minha cidade, que não se compadecem de saltos altos, oiço poemas por inventar e espreito a Serra de cada arco. Os meus passos fazem-se de memórias e, chego a acreditar, as esquinas conhecem-me de outras eras. Nesta cidade que faz Festa eu aprendi a ler, a decifrar olhares, a namorar, a odiar a matemática, a amar a vida na Escola. Nesta cidade sepultei os meus avós, os meus pais, a minha irmã, alguns amigos. Esta é minha terra de vida e morte.

Não me importo que não haja grande festa, que não venham artistas famosos, que não haja exposições, não quero saber sequer a que horas é o hastear da bandeira ou a missa solene. Não me interessa! Para mim, a Festa do meu Concelho acontece no silêncio dos meus sentires. 

Parabéns Portalegre da minha essência!

sábado, 22 de maio de 2021

22 de Maio é um dia intenso, para mim. A minha irmã Nô fazia anos e, porque ela era a personificação da alegria, e porque no dia seguinte era sempre feriado, Dia do Concelho de Portalegre, em casa havia grande festa. A Nô tinha muitos, e bons, amigos, estava sempre alegre e era muito bonita. No dia dos anos dela, normalmente havia sol, as flores rebentavam no quintal, e o meu Pai gostava de dizer que a Natureza também se engalanava para lhe dar os parabéns.

A minha irmã viveu muito pouco tempo, deixou muita vida por gastar, muitas narrativas por escrever. Ela tinha muitos sonhos, muitas gargalhadas por dar, muito mimo para distribuir e eu penso, acredito, que esses sonhos por sonhar e viver ficaram por aí, perdidos, chorando a eterna irrealização. 

Agora, 48 anos passados, quando eu mesma errei tão absolutamente narrativas onde ela deveria ter sido participante, sinto que ficou sempre um espaço vazio na nossa vida. Um espaço onde foi impossível inscrever vivências que, ainda assim, ainda adivinho. 

terça-feira, 18 de maio de 2021

MODAS

 Não sei se é por não me estar a sentir bem, se é por estar a envelhecer, se é por ser mesmo bota de elástico, mas incomoda-me a moda que, este ano, faz com que as miúdas, as minhas alunas, andem na rua, e estejam na sala de aula,  só de soutien. Há uns anos, a moda dos rapazes com as cuecas de fora, chateava-me; depois a moda dos umbigos não em agradava mas, este ano, esta moda de andar só com o soutien, desespera-me. Se me incomoda, e condeno, encontrar professores  a dar aulas de calções e chinelos, professoras de minissaia, funcionários de traje de piscina, muito me chateia também ter na minha sala meninas de soutien.

Defendo que a Escola deve ter uma palavra a dizer nestes comportamentos, deve educar para o respeito pelo corpo e por cada eu. Sim, não consigo ficar indiferente e encolher os ombros perante aquilo que, para uns, é liberdade, para mim é ignorância e libertinagem. 

segunda-feira, 17 de maio de 2021

MODERNIDADE

Segunda toma da vacina. Anunciava-se uma tarde calma, efeitos secundários suportáveis. 

Engano total! A vacina foi simples, o horário cumprido. Mas os efeitos secundários estão a dar cabo de mim. Enjoo, dores de corpo, cansaço, dores musculares. Dizem-me que é bom sinal, que o corpo está a reagir - garantem-, mas de pouco me servem as palavras de consolo. É horrível sentir-me mal! Como se não bastasse o quotidiano para me irritar, agora ainda meto no corpo cargas de dores 

Ah! Se a modernidade é isto, eu quero voltar ao Renascimento!

quarta-feira, 12 de maio de 2021

PODE-SE SER FELIZ SEM SABER MATEMÁTICA

 A aprendizagem da matemática, pelo menos em Portugal, tem justificado muitos estudos, muitas investigações, muitas análises, muitas revisões de programas. Os alunos, na sua maioria, não têm sucesso nesta disciplina e, a juntar ao habitual e oco argumento de falta de bases, junta-se, frequentemente, a ausência de hábitos de trabalho. 

Às vezes, há até quem alegue que a matemática é uma disciplina muito difícil e só para alguns.  Mais grave, acho eu, ficam as coisas quando se recomenda aos alunos que optem pelas humanidades porque, enfim, as ciências e tecnologias têm matemática e, por isso, é uma área que não está ao alcance dos comuns mortais. Já me aconteceu, com excessiva frequência, deparar-me com alunos em humanidades que não gostam de ler, de escrever, de pensar e nunca me passou pela cabeça recomendar-lhes que fossem para Ciências... Enfim. 

Não acredito na tal anunciada dificuldade da matemática. 

Não acredito que um aluno, que sabe pensar, que quer aprender, não consiga ter sucesso na disciplina e, desculpem, não acredito que seja necessário ter explicação para aprender matemática. Aliás, se a disciplina é assim tão exclusiva, até acho que deve sair dos curricula! Porque, sinceramente, é possível ser feliz sem matemática. 

O problema do insucesso nesta disciplina não pode ser apenas imputado aos alunos. É preciso pensar se, de facto, os conteúdos são de tal complexidade que só mentes brilhantes, ou iluminadas externamente, a eles podem aceder.

Hoje, estou assim. Farta de argumentos ocos, cansada da enormidade de ouvir que as humanidades são para os alunos com mais dificuldades. 

Por isso, eu insisto: - É possível ser feliz sem matemática, queridos alunos deste país!