quinta-feira, 28 de novembro de 2019

ESQUEÇAM-ME


Esqueçam-se de mim. Isso mesmo. que ninguém me telefone, que ninguém me mande sms ou modernos watsapp, que o meu telemóvel não bipp de e-mails. Quero, hoje, a paz da solidão, o silêncio do alheamento, a tranquilidade de ser  sozinha. Quero desfrutar da queda das folhas amarelecidas, do vermelho que borda o limite negro do alcatrão, quero caminhar sobre a macieza da alcatifa de folhas. 


Esta é a Fall lagóia. Sem a enormidade das Américas, com a simplicidade pura de Portalegre. Por isso, esqueçam-me. Deixem-me, hoje, ser feliz sozinha. É bom não ser animal de companhia. Às vezes.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

AS CRIANÇAS PORTUGUESAS

"As crianças portuguesas são as que passam mais tempo na escola, jardins de infância e creche. Em média, cada criança cumpre um horário de doze horas" - Fiquei assustada. Claro que eu já sabia que as crianças passam tempo demais nas Escolas mas, dito assim, com números e força de estudo científico, parece ser ainda pior.
Sem dúvida, as sociedades desenvolvidas, na sua maioria, deixam para trás muito do essencial da vida em nome do trabalho. Em Portugal, infelizmente, exagera-se mais ainda. Os portugueses gastam muito tempo nos empregos e, paradoxalmente, produzem menos do que outros povos que estão menos horas nos seus empregos. Parecia, assim de repente, que seria possível, até fácil, reorganizar as coisas: - Horários mais flexíveis, trabalho por objectivos, mais tempo para se ser pessoa. Mas não é fácil. O que vemos, cada vez mais, são pessoas fechadas oito horas por dia, muitas vezes fazendo cera, outras consumindo bicas. 
Li, há pouco tempo, uma reportagem que dizia que numa qualquer província do Japão tinham feito uma experiência e, durante seis meses, tinham reduzido a semana de trabalho a quatro dias. No final, verificaram que a produtividade aumentara 72% e os índices de felicidade 92%. Claro que o Japão não é Portugal mas, neste caso, até eu fiquei com os olhos em bico...
As crianças que passam sete horas na creche, nas amas, nos infantários e nas Escolas, são geralmente

crianças com baixos níveis de felicidade. São crianças às quais falta tempo de qualidade na construção de teias de afecto e emoções capazes de sustentar os embates da vida adulta.
Gostava muito que Portugal olhasse as suas crianças com outro olhar. Com mais respeito, com mais seriedade. Mas, neste meu país eternamente por cumprir, as Pessoas nunca são prioridade...

domingo, 24 de novembro de 2019

ANIVERSÁRIO

A Vida cumpre-se num fazer de pequenas coisas" é um lema que tento seguir. São os acordares com chuva, uma caipirinha junto ao mar, um abraço bem forte, os beijos dos netos, um café com amigos, uma caminhada na serra, e mais mil vivências, rotineiras e insignificantes, que dão sentido à vida.
Mas, talvez por oposição, há factos grandes, acontecimentos esporádicos, que também me fazem ser quem sou, que me marcam fundo. 
O nascimento do meu primeiro neto, faz hoje dez anos, em Cambridge, nessa Inglaterra de que tanto gosto, foi um marco na minha existência. Não imaginava que se pudesse amar assim, com tanta entrega e plenitude, um ser que não vinha de dentro de nós. Tinha experimentado essa avalanche de amor com as minhas filhas e, de repente, o meu neto voltava a despertar  em mim a força do AMOR total. Ao mesmo tempo, voltas da vida, nesta data voltei a acreditar que seria possível ser feliz a dois. Pura ilusão. Mas nem a dor, o sofrimento, a maldade alheia, a humilhação da frustração, conseguiram manchar o amor pelo meu primeiro neto.
Hoje, o meu Manuel Bernardo faz dez anos. Está longe, mas eu sinto-o bem pertinho de mim. 
Quero escrever hoje, porque acredito que a palavra fica quando a vida é nada, que o meu neto mais velho revolucionou a minha emoção. A minha vida também! 

terça-feira, 19 de novembro de 2019

SONHOS

Tenho um sonho. Melhor, tenho muitos sonhos, utopias, lugares que  ainda o não são, vontades e desejos que um dia, acredito, serão. São sonhos com vontades essenciais, virados para fora. O que fiz aos sonhos meus, aos de dentro? Desfizeram-se . Esboroaram-se contra a espuma dos dias, diluiram-se no sal acre das mil lágrimas. Ficaram os de fora. Os que envolvem um mundo novo, cheio de possíveis, sem solidão e vazios.
Martin Luther King também teve um sonho. E desapareceu sem o cumprir. Herdei, creio, sonhos de outros. E, ainda assim, tenho os meus! 

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

HÁ CANALHAS A MAIS

Tenho dificuldade, muita, em lidar com o desinteresse profissional. Eu sei, claro!, que ninguém vai mudar o mundo, que é impossível que todos estejamos em sintonia mas, ainda assim, não compreendo, não consigo aceitar, que haja profissionais que não cumprem, que não fazem, que não se empenham na construção de uma nova realidade, de um novo mundo. 
Kennedy disse, um dia, que "Uma pessoa sozinha não vai mudar o mundo mas, se agir bem, sempre será um canalha a menos". É isto! Há canalhas a mais...

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

TRISTEZA

Sophia dizia que "a saudade é a tristeza que fica quando alguém de quem gostamos vai embora". Eu sinto exactamente assim. Tristeza funda, magoada, feita de incompreensão e revolta. A ausência voluntária, o afastamento violento daqueles de quem gosto, fere-me fundo. Claro, eu sei, as pessoas têm o direito de se afastar e, muitas vezes, a saudade é só de quem fica no cais vendo as amarras desfazerem-se.
Há dias, muitos, em que a saudade, a tal tristeza que não faz parte apenas da Poesia, me embrulha numa dolorosa sensação de vazio dorido. Sei todas as razões, conheço todas as verdades e justificações, mas, ainda assim, a tristeza instala-se!

terça-feira, 12 de novembro de 2019

FORA DE TEMPO

Oiço, cada vez mais, falar em inteligência emocional. Sempre que surge uma formação com este tema, chovem inscrições , e eu, que tenho os sentires à flor da pele, que acredito mesmo na força das emoções, já não me surpreendo. Não tenho dúvidas que sentir, viver, experimentar, levar ao rubro emoções, é das melhores formas de viver e de ser. Eu, que não sou existencialista e que, por isso, acredito que há essência para lá da existência, reconheço a força e a influência que os espaços, físicos e psicológicos, exercem sobre mim. Em Inglaterra sou sempre mais EU, mais completa e realizada, do que em Portugal. Claro que o facto de ter lá a minha filha, e dois netos que adoro, tem influência mas, penso, há mais do que isso. Ou, se calhar, esse facto despoleta outros pensares, sem dúvida outros sentires.
Em Inglaterra as cores, o frio, os sabores, tão diferentes!, sempre me transportam para vivências de real entrega e paz. 
Às vezes, tenho pena de já não ter força, ou coragem, para emigrar e ir construir sentidos nesse país que foi dos meus antepassados e, hoje, é dos meus descendentes! Falhei a vida. Talvez, como Carlos da Maia e João da Ega. Talvez, como quem sonha sempre. 





segunda-feira, 11 de novembro de 2019

FACILITISMO

Quando aterrei em Portugal, e me dispus a ouvir e ler notícias, esbarrei com a indignação de muitos professores por o Ministério da Educação defender a não existência de reprovações, de chumbos, até ao nono ano. Os docentes mais inflamados, lamentando a sua sina de docentes, diziam mesmo tratar-se de uma política de facilitismo.
Não posso discordar  mais destas afirmações!
E explico!
A escola Pública, que nos últimos anos tem feito um percurso muito positivo, é, ainda, das que, na Europa, mais reprova alunos. E fá-lo, penso eu, porque há alunos que não aprendem ao ritmo da maioria, porque há alunos desinteressados e preguiçosos, dizem. Conheço, muito bem!, todas as justificações. O que discuto, o que contesto, é em que medida as reprovações têm contribuído para as aprendizagens dos alunos. Ou seja, um aluno que repete um ano, no ano seguinte torna-se bom aluno? Sabemos que não. Um aluno que repete um ano tem tendência a repetir muitos outros. Fica, por assim dizer, pré-destinado à exclusão social. Ora, se queremos, e eu quero!, uma Escola que possa ajudar a construir uma sociedade mais democrática e equitativa, os professores, que são os especialistas em Educação, têm de ser capazes de encontrar soluções para que a aprendizagem aconteça, muito mais do que limitar-se a constatar o insucesso. A Autonomia e Flexibilidade Escolar, que desde 2017 está em vigor, permite às Escolas, e obviamente aos professores, encontrarem as estratégias, e os processos, que permitem promover o sucesso de todos! A ciência prova-nos que todas as pessoas aprendem. E que não aprendem ao mesmo tempo, nem do mesmo modo. 
Assim, o sucesso das aprendizagens pode SIM ser alcançado por todos. E, SIM também, facilitismo é chumbar alunos. Não implica trabalhar de outro modo, não implica procurar soluções, basta atribuir um número!
O mundo mudou muito. Evoluiu em muitos aspectos, regrediu noutros. Não vai, com certeza, deixar de se modificar e, penso eu, quem é professor e lida, diariamente, com crianças e jovens, tem de reconhecer estas transformações e de lhes dar resposta.
Analisar cada aluno, procurar estratégias e soluções, olhar a pessoa que mora em cada aluno, é parte integrante da acção docente! Chumbar alunos é  facilitismo, sim! 

sábado, 9 de novembro de 2019

INTERVALO

Inglaterra nunca para de me surpreender.  Gosto das cores, dos prados, da música nas conversas. Desta vez, Jane Austen abriu-me as portas de sua casa. Lugar da magia da escrita! O Romantismo puro, a vida real também. A minha grande costela inglesa delicia-se com estas vivências! São, digo sempre, intervalos na minha existência.



 Sr

terça-feira, 5 de novembro de 2019

LUGARES

Sem dúvida, o melhor lugar num aeroporto, e num avião, é dentro de um livro!!

NECESSIDADE

Finalmente, chove decentemente. Chuva escorrida, constante, a lavar a existência e a refrescar a essência. Faço de novo a mala. E com que entusiasmo o faço! Ir ver os meus netos, ter a possibilidade de, durante oito dias, encontrar verdadeiro sentido na minha vida, faz-me muito bem. 
Preciso de coisas, vivências, factos, práticas, que me façam bem. Preciso de reconhecer afectos, de encompridar ternuras, de renovar a minha fé numa existência que, vezes demais, me parece absurdamente cheia de insignificantes aparências. 
Preciso de sentir que faz sentido, ainda, acordar a cada manhã. 

domingo, 3 de novembro de 2019

MAIS UM DOMINGO


Como eu gosto de um Domingo assim, com chuva, vento e Outono! Gosto de caminhar no campo, de ter os cães por companhia, de troçar do catavento que, desnorteado, não cata vento nenhum. E gosto de colher dióspiros, de me enfiar por debaixo das árvores para chegar aos mais maduros, de identificar o perfume das ervas misturado. 

Hoje, já sem netos e com a solidão a esticar-se para lá do absurdo, desfrutei deste domingo como Caeiro, estando de acordo com a Natureza sem porquês nem razões. 
Agora, quando a noite se aproxima, acendo o lume, cozo castanhas acabadas de apanhar e penso que a vida podia só ser isto: - Aceitar cada dia com perfume de autenticidade e sabor de castanhas cozidas. Com erva doce, claro!!

sábado, 2 de novembro de 2019

NOVEMBRO

O mês de Novembro começa com a tradição de pedir os santinhos. Quando era miúda, lá na Serra, íam miúdos pedir e sempre levavam muito para casa. Este ano, comecei os santinhos com o Dia das Bruxas. Sim, o Halloween não é uma tradição portuguesa mas, sem dúvida, o mundo mudou e, hoje, o mundo existe no global e as tradições também. Gosto imenso do Halloween! 
Desde logo, sempre tive uma paixão por bruxas e, se eu pudesse, bem que gostava de ter uma vassoura voadora e um chapéu bicudo... 
Este ano, porque os meus netos vieram ter comigo, esmerei-me nos enfeites: - Pendurei bruxas e morcegos, comprei abóboras e até arranjei um bolo  com doces morcegos! 
No dia 1, quando as bruxas já tinham partido, fui, de longe, acompanhar os meus netos pedindo santinhos. Trouxeram dois sacos de guloseimas mas, muito mais do que comer os doces, a euforia foi bater às portas e dizer "gostosuras ou travessuras"... é que eles, pequenos, baralharam as tradições!!