domingo, 25 de julho de 2021

DÚVIDAS

Vou, daqui a um pouco que é imenso tempo emocional, buscar os meus netos ingleses a Lisboa! Estou ansiosa. As saudades, depois de sete meses sem os abraçar, doem fundo. Vejo-me e estranho-me. Quem sou seu sem os meus afectos, as pessoas que me definem, que me fazem chorar e sorrir? Às vezes, penso que sei muita coisa, mas nunca o suficiente. Penso que nasci da minha mãe e, aos poucos, fui-me afastando, contruindo uma pessoa que chego a desconhecer. Será que ser pessoa é este percurso constante, esta procura de alguma essência individual que não se encontra nunca?

Os meus netos vão chegar! Já fiz gelado, já enchi o frigorífico das coisas que eles gostam, e ainda me parece que não é suficiente, que não chega para que percebam como existo neles e para eles.


sexta-feira, 23 de julho de 2021

OU...OU

Ou estou a envelhecer, ou estou a ficar mais consciente do privilégio que é eu ser eu. Das duas, uma. Ou isto, ou Aquilo, oiço a Cecília Meireles dizer. 

Cada vez mais, cedo, consciente e livremente, à preguiça inteligente. O que é isso? É optar por não responder, não explicar, não me incomodar, com algumas patetices que vejo, oiço e leio. Ao contrário de Sophia, eu vejo, oiço e leio e, livremente, posso ignorar. Por exemplo, não me apetece explicar, comentar, indignar-me, com certas alarvidades sobre Educação. Até era fácil explicar que não, o ensino privado não supera o público, que a Escola Pública tem vindo a evoluir claramente, mas não me apetece. Era fácil provar que a Educação para a Cidadania não diz que os homens engravidam, não obriga a práticas homossexuais, mas não tenho pachorra. 

Também não respondo quando me dizem que me exponho demais, que não devia dar, com tanta ousadia, a alma à palmatória. Não respondo porque teria de explicar que não exponho nada. Que tudo o que é meu fica comigo, que palavras são realidades exteriores, que se falo de amor, de sexo, de saudades, de vazio, de abandono, de desilusão, de opções políticas, nada digo que ninguém não saiba já. Ou venha a saber, um dia. 

Pois é, até podia, se me apetecesse, dizer que vou assistir ao Concerto de Abertura do Festival Internacional de Música de Marvão, que isso não seria exposição, só sinfonia!

quinta-feira, 22 de julho de 2021

O PRATINHO TRANSPARENTE

 Estou na piscina, mas não sou quem está na piscina. Eu estou em casa dos meus pais, tenho 14 anos, faço scones na cozinha e espero amigos que vão chegar. O meu fato de banho azul, que comprei na Vitória, tem flores amarelas e a minha mãe comprou-mo em Badajoz, porque ainda não sabe que vai haver uma Íntima na rua do Comércio. Eu estou ansiosa, acho que feliz, porque também ainda não sei que vai haver um fato de banho azul quando já não houver a minha mãe. Tenho 14 anos. Estou apaixonada pelo João, paixão eterna porque não adivinho que não vou casar com ele e ser feliz para sempre, que vai acontecer tempo de solidão e lágrimas quando eu tiver o fato de banho azul. Agora não espero ninguém. Este meu eu não me conheceu aos 14 anos, fez-se aos poucos, sem sequer pedir licença. O meu eu de 14 anos sabe que a Mena vai chegar, a Faneca também, todos os amigos vão  vir e vão olhar para o lado, ou dar um mergulho, quando eu partir para um mundo só meu e do João, porque o calor da mão dele me faz voar, porque eu amo-o desconhecendo o amanhã.

Chegam as ovelhas do vizinho, e eu não as oiço porque aqui não há ovelhas, não há vizinhos. A minha mãe não tira os scones do forno, mas eu vejo-a a separá-los, a colocá-los na cesta com o guardanapo branco, a colocar nozes de manteiga no pratinho transparente. 

Ter-se-á partido o pratinho transparente? 

segunda-feira, 12 de julho de 2021

FUTEBOL

 O jogo de ontem, que opôs Inglaterra a Itália, agarrou-me ao ecrã.  Eu, que não  gosto de futebol e não percebo nada daquilo, senti o meu coração dividido entre o país onde sempre fui imensamente feliz, a Itália da História e dos sabores, e a Inglaterra, onde bate mais de metade do meu coração. Sentada em frente da televisão recuperei a travessia de Siena para Milão, debaixo de neve, num pequeno carro alugado onde a mala mal cabia. Milão, Florença excessiva, Siena, S. Gimignano, a Toscânia onde, penso eu sempre, todos os impossíveis acontecem. Depois, Roma. E passeei de novo pelas praças, pelas trattorias, pelas mil igrejas, pelo cais do rio Tibre. Ah, e  os telhados de Roma, as varandas, as ruas de lojas com preços proibidos, o Hotel Inglaterra a contar do português D. Pedro II. E o jogo continuava, jovens no chão, encontrões, todos numa louca corrida ao golo, à vitória, à taça. A taça de vinho fresco, o Pinot Grigio Delle, o abraço entontecido, a alma encadeada de presente a acontecer. Prolongamento. Os ingleses a perderem a cabeça, o jovem William a revelar ansiedade, o pequeno George de olhoar desiludido, Buckingham Palace a encantar-me, o verde inglês, as madeiras escuras, os pubs cinzentos e a apple pie tão saborosa. 

Veio o prolongamento. E eu voltei a Notting Hill, caminhei até ao Swan, olhei o parque enorme e ousei dizer coisas de pensar na speakers corner, sem medo que alguém me condenasse. Penalties. Golo na minha felicidade, ali mesmo em Chester, olhando as rows, pensando que, apesar de tudo, Marvão é mais meu. A Itália a falhar, como é possível? e o Coliseu a assustar-me, a fazer-me sentir de facto insignificante. Inglaterra falhou e Windsor a receber-me com chuvinha cinzenta, casa de chá na rua estreita,   alguém a falar português também.

De repente, Itália erguia a taça. E a Fontana de Trevi, 26 metros de histórias contar, a acolher-me com ostras e vinho fresco!

Ah, que grande jogo! E que vitória merecida! Viva Itália!

FÉRIAS!

 Preciso de férias. Não de uma breve interrupção de rotina, isso, felizmente, até tenho tido, mas de férias mesmo. Não, não preciso de viajar, de ir para um hotel, de praia, de um SPA, de nada disso. O que eu preciso mesmo é de desligar a cabeça, não pensar em trabalho, em problemas, tirar o relógio e gozar de tempo sem horas. A ciência já provou que é a cabeça, o cérebro, que comanda tudo, e eu sinto, mais do que sei, que a minha cabeça está cheia de mais, precisa de limpar muita informação, de excluir muitos registos, para poder recomeçar a viver.

É isso. Tenho andado a existir, a cumprir existências sem sonhos, preciso, com urgência, de arranjar na minha mente espaço para a utopia que é pasto de sonhos.

sexta-feira, 2 de julho de 2021

ENERGIAS

 Não sou muito crente em energias, forças alternativas, etc. Talvez por educação, ou, se calhar, por ser muito conservadora (?) , sempre me dá vontade de rir a ideia que há lugares, e pessoas, que trazem energias positivas, ou negativas. Ora, como eu não páro de aprender e, por isso, de mudar de ideias, hoje senti a tal energia positiva! Fui à cidade, cumprindo as necessárias tarefas domésticas e, a  seguir, resolvi ir tomar café à Rua do Comércio, entrar na Igreja um bocadinho. Ao sair do café, o pequenino Sons e Sabores, senti-me estranhamente invadida de bem-estar e paz. De repente, não doíam as saudades, não me sufocava a solidão, não sentia angústias, estava BEM! 

Vim para casa mais leve, apesar do pastel de nata que comi, e sinto-me perfeitamente descontraída. Será que há mesmo energias??