sexta-feira, 30 de abril de 2021

CALAMIDADE

 Portugal aliviou as medidas de combate à pandemia, passou do estado de emergência para o de calamidade. Curiosamente, eu achava que calamidade seria pior do que emergência.  Uma emergência, pensava eu, exigia medidas imediatas e eficazes; uma calamidade seria algo súbito, sem possibilidade de solução. Mas parece que não é assim e, agora, estamos todos em calamidade. 

Confesso que tenho algum receio que haja precipitação e que, por causa de tanta pressa, tenhamos que voltar ao confinamento. 

É que, apesar da vacinação estar a correr bem, de estar tudo bem organizado, de termos de agradecer o empenhamento do senhor vice-almirante, tudo tem acontecido de forma  demasiadamente lenta. Num país pequenino, como é Portugal, não poderíamos estar já todos vacinados?

domingo, 25 de abril de 2021

25 de ABRIL

 Não tenho memórias reais, minhas, do tempo da ditadura. Em minha casa não se falava de política, os meus pais trabalhavam os dois, nunca senti, por sorte, a opressão. Construí a memória do salazarismo no património colectivo de escritores, sobretudo poetas, conversas de quem viveu o medo e a violência. Para mim, a Liberdade é, devia ser, um Valor essencial, tal como o direito à vida, à opinião, ao sonho. 25 de Abril é, sem dúvida, uma data especial. Sem donos, sem proprietários, pertence a todos os portugueses e deve, sim, ser assinalada e lembrada. 

A revolução de Salgueiro Maia e Eanes, para mim as principais referências, ainda não se cumpriu. Como diz Sophia, este ainda é "o tempo dos chacais", o tempo da injustiça, da fome nas ruas, da corrupção e do medo. 

Senti na pele a injustiça e o medo, há dois anos, teoricamente num tempo de Liberdade de expressão. E, também por isso, penso que é importante fazer uma real e efectiva pedagogia da Democracia. Não fundamentada em parangonas, mas em aprendizagens significativas.

Pessoa escreveu "Senhor, falta cumprir-se Portugal". Eu acrescento: AINDA ...

sábado, 24 de abril de 2021

LOLA

Esta moda de baptizarem o tempo, de darem nome de pessoas às tempestades, é relativamente recente. Ou, se calhar, não é recente e eu andava distraída. Não interessa. A verdade é que as tempestades, furacões também, têm nome de gente e, quando se adivinham realmente violentas, ganham nome de mulher. 

Assim, anunciaram uma Lola para este fim-de-semana. O meu telemóvel, que, por alguma razão misteriosa que não consigo compreender, insiste em avisar-me de tudo o que não me interessa, há dois dias que me chama a atenção com sinais de alerta. 

Eu olho o céu. Nuvens negras, cinzentas, brancas, algum vento, mas de Lola nem vestígio. Acho que, como mulher que é, a Lola resolveu criar suspense e desaparecer! 

Deve ter ido dançar salsa para outro lugar qualquer. 

sexta-feira, 23 de abril de 2021

DIA MUNDIAL DO LIVRO

Dia especial, este. O que seria de mim sem livros, sem leitura? Não me lembro de um dia sem ler e, se me pedissem que elegesse O livro da minha vida, ia ver-me numa grande alhada. Cada livro tem uma história, um momento, uma realidade. Obviamente, tenho livros que me marcaram, mas não um... A Criação do Mundo, Torga; As Confissões do Frei Abóbora, José Mauro de Vasconcelos; Paula, Isabel Allende,  Aparição, Vergílio Ferreira; Os Miseráveis, Victor Hugo. Talvez estes sejam os mais marcantes. Mas não são os únicos. 

Hoje, Dia Mundial do Livro, seria interessante ver as Escolas a fazer jornadas de leitura. Porque também se educam os bons hábitos. 

quinta-feira, 22 de abril de 2021

PROJECTOS

 Os meus amigos dão-me bons conselhos. Dizem-me que me deixe estar sossegada, que de sonhos ousados (e loucos, não dizem mas pensam) que esqueça a Escola de possíveis, as aulas de desafios, as aprendizagens para todos e para cada um, a Escola como um  espaço de geografia de afectos e cumplicidades. Mas eu, que gosto imenso dos meus amigos, que não me imagino a viver sem eles, não lhes dou ouvidos.

Quero uma Escola diferente. Uma Escola que valorize a imensa riqueza e diversidade humana, que desenvolva aulas centradas em desafios, que torne verdadeiras as aprendizagens de cidadania e democracia.

E avanço com um projecto. De alma encolhida? Não. Com receio da derrota? Também não. Com confiança, e a tranquilidade de saber -  cum saber de experiência feito - que a sorte premeia os audazes e que Pelo  Sonho é que Vamos

quarta-feira, 21 de abril de 2021

DESILUSÃO

 O poeta diz que tem nele todos os sonhos do mundo. Que sorte! Porque eu, muitas vezes, carrego em mim todas as desilusões do mundo. 

Experimento um desejo absurdo de partir, de realizar o que sonho acordada. Não, não tenho em mim todos os sonhos do mundo, tenho só os meus e sufocam-me. 

quinta-feira, 1 de abril de 2021

PÁSCOA

 Cresci numa família cristã, católica, e sempre vivi as tradições com alguma intensidade. O meu pai era um defensor das amizades e, penso agora à distância, todas as razões e pretextos serviam para ter gente à mesa. 

Se o Natal era tempo de família, de muito musgo e muitas histórias à lareira, a Páscoa era o tempo de reinventar a esperança. Em minha casa, a Páscoa começava mesmo na Quaresma, com o peixe que se comia nas sextas-feiras, no cumprimento (relativamente) rigoroso, da proibição de comer carne. Mas a vivência mais intensa decorria de sexta a segunda-feira. 

Na sexta-feira Santa, às três horas, todos tínhamos de estar em casa. Um pouco antes das três, vínhamos para o quintal e, todos juntos, ouvíamos a sirene assinalar a morte de Cristo e fazíamos silêncio. Depois, todos nos abraçávamos e beijávamos. Era o ritual da fraternidade, talvez. 

No Domingo era a festa maior. Almoço de sarapatel e cabrito assado, doces, às vezes, se o tempo o permitia, mesa posta na rua. Amigos, tios, primos, casa cheia. Segunda-feira, repetia-se o almoço, variando o menu mas não os amigos. Era o dia de ir comer para o campo, e nós já vivíamos no campo. 

Hoje, antecipando uma sexta-feira de vazio e solidão, recupero estas memórias. Sem saudosismo, porque não queria voltar atrás, mas com um enorme sentimento de gratidão pelo que Deus me permitiu viver.