terça-feira, 21 de dezembro de 2021

REUNIÕES

 Comecei hoje, bem cedo, as reuniões de avaliação de 1º período. Desde 2017, pelo menos, que se legislou para uma efectiva mudança de práticas na Escola mas, infelizmente, tudo, com mais uma grelhas pelo meio, segue igual. 

Preenchem-se fichas, verdes para haver esperança, e segue-se reproduzindo modelos. Fica-me a alma a doer de tristeza, de revolta indignada. 

Não tinha de ser assim! Tinha de ser possível, porque se junta um grupo de pessoas formadas e cosmopolitas (ou não?) constatar a óbvia mudança do mundo e construir diferenças. 

Talvez eu esteja, mais do que imagino, a sobrar no mundo. A precisar da reforma.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

COISAS

 Há mais de um mês que não passo por aqui. E espanto-me com o facto de ter a vida tão cheia de urgências desnecessárias que perdi o Tempo para o meu eu. Enfrento desafios, batalho, sofro, luto contra injustiças, choro, rio-me (às vezes) e, de repente, percebo que tenho a vida completamente inundada de vazios. Pior, constato que, aos poucos, fui deixando que os nadas, muitos nadas vestidos de falsa importância, tomassem conta de mim. 

À noite, quando o silêncio chega e os telefones páram de exigir a minha presença. não me reconheço. Estou cansada de tentar. Apetecia-me acertar. Ser. 

Talvez seja o Natal, porque eu adoro o Natal! Das luzes ao Presépio, dos presentes, do sabor a gengibre, do bacalhau e até do perú. Sim, talvez seja o Natal a puxar o fio da marioneta que é o meu coração...

domingo, 7 de novembro de 2021

PROJECTOS

 Cada dia que passa me faz olhar o mundo com mais curiosidade e estupefação. Multiplico em mim os como é possível, vejo crescer a desesperança e, paradoxalmente talvez, sinto crescer a minha vontade de agir. Claro que a minha maior desilusão é com a Escola. Eu, que quero muito um mundo melhor, acredito mesmo que só com uma Escola nova, absolutamente transformada, com práticas e metodologias que rasguem fundo a normalidade, poderemos construir uma realidade diferente. Oiço os políticos importantes, em Glasgow, entre fatos negros e máscaras personalizadas, falar do ambiente, do clima, da inexistência de um planeta B e espanto-me por não investirem, a ´sério e sem projectos inócuos, na educação das novas gerações.

Em Portugal, por exemplo, o projecto de Educação Sexual, seis horas no ensino secundário (a sério??), pode ser uma pesquisa sobre métodos contracetivos e produção de cartazes. Pode, também, o projecto de educação para a cidadania e desenvolvimento ser uma série de palestras (alguém muda comportamentos por ouvir??). Continuamos, e como isto me dói, a educar para o passado, sem querermos ver o óbvio, cegos da modernidade. 

A educação, a Escola de Hoje, não se pode limitar ao cumprimento de horário, à observação do enunciado nos documentos da tutela, aos testes de avaliação para classificar os alunos. É preciso pensar! É preciso ousar! É preciso ensina a pensar, a criticar, a seleccionar, a reconhecer, a sonhar. É preciso saber o que cada escola quer para os seus alunos em articulação com a comunidade que integra! 

Julgava que o tempo de Projectos Educativos iguais em diferentes escolas estava ultrapassado mas, infelizmente, não está.  

Esta Escola Portuguesa, que tem no papel práticas que louvo e sigo, que tem um documento norteador humanista e inovador, O Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, não pode ter professores a dizer que esta, ou aquela turma, tem alunos do 54 (Decreto-Lei nº 54), que as questões aula são mini-testes, que é preciso decorar aquilo que um rápido clic no telemóvel nos diz.

Este ano, ando muito desiludida. Pensava, andava iludida, que a Educação estava bem diferente.

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

O CDS

 Acho que tenho opção política, militância partidária, desde os 22 anos. Não tenho bem a certeza se seriam 22 ou 23, mas foi por aí que resolvi que era importante participar, escolher um lugar onde pudesse manifestar as minhas opiniões e ideais. Tornei-me militante do CDS e, tirando três ou quatro anos em que estive fora (porque o Dr. Paulo Portas me expulsou por indisciplina) sempre fui militante. Tenho cartão, e tenho orgulho nele. Gosto de ir a Congressos, de intervir, já fui Conselheira Nacional e não tenho vergonha, não escondo, a minha militância. Aliás, eu penso mesmo que se queremos um Mundo diferente, e melhor, e eu quero, temos de intervir! 

Ora, exactamente porque sou do CDS, não consigo ficar indiferente à crise que o Partido está a atravessar. Francisco Rodrigues dos Santos foi eleito em Congresso. Um Congresso onde estiveram os barões do partido (Nuno Melo e seus seguidores), que apresentaram propostas que nós, militantes, rejeitámos. 

Agora, depois de umas eleições autárquicas duras onde o CDS conseguiu não perder votos, aparecem de novo os que se julgam donos do Partido a criar problemas. 

O CDS não tem donos! O CDS é um Partido conservador, de Direita Liberal, democrata-cristão, que defende a Liberdade e a Iniciativa Privada, a Verdade e o Humanismo, acima de egoísmos e vaidades.

Estou farta dos que se julgam donos de tudo. Farta de Nuno Melo, de Adolfos e seus amigos. Não me deixam dormir, fazem-me ter insónias feitas de revolta e indignação. Saiam de vez do CDS! 

domingo, 31 de outubro de 2021

VAZIO

 Não ter sonhos, não ter um projecto, uma ideia nova, diferente, é, para mim, uma das piores e mais graves pobrezas. E, infelizmente para mim, ultimamente tenho esbarrado com muita gente vazia de projectos. Como é possível alguém ocupar um cargo de liderança (se calhar é de chefia e eu estou enganada) sem ter um projecto arrebatador, inovador, capaz de congregar vontades? Para mim, não faz sentido. 

Não compreendo a razão de votar em alguém, de sequer ter de obedecer a alguém, que não seduz pela diferença, que não põe ao serviço de uma comunidade um sonho, um desafio, que permita acreditar num mundo melhor. 

Gostava de viver num lugar onde as pessoas só pudessem dirigir se fossem criativas, se acrescentassem algo de novo. É que, com tanta informação que existe na actualidade, para cumprir regras e seguir imitações, nem precisamos de liderança. 

domingo, 17 de outubro de 2021

PROIBIR

 Eu não quero o meu país a seguir pelos caminhos que agora lhe impõem. Não quero viver presa, limitada, subjugada à vontade de outros. 

Aos poucos, e no entanto depressa demais, o estado português está a entrar nos caminhos da ditadura e isso, sinceramente, assusta-me. Que direito tem o estado de decidir onde levo os meus netos? Onde vou e o que faço? 

Antes do 25 de Abril, lembro-me bem, os filmes e espectáculos eram também proibidos a algumas idades. Lembro-me de, à entrada do Crisfal, me pedirem o velho bilhete de identidade para ver um determinado filme. Depois de Abril, passou a existir o não recomendado a menores de... cada um podia decidir no pleno uso da sua liberdade, e era bom poder fazê-lo. Foi assim que vi o Belle de Jour, com a Catherine Deneuve, nos meus 16 anos. 

Agora, andamos para trás. Voltam as proibições, as imposições que saem de minorias que eu repudio e, no entanto, me limitam. Dizem os entendidos que é/foi moeda para a aprovação do orçamento. Um orçamento feito de despesa e sem uma única ideia capaz de criar riqueza. Um orçamento que envergonha um povo que quer crescer e ser livre. Um povo que festeja Abril!

Eu, euzinha que tanto amo Portugal, hoje penso que, se calhar, seria melhor ter nascido espanhola. 

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

EFÉMERO

 Há dias bons, dias maus, dias nem bons nem maus. Ultimamente, tenho tido dias muito maus. As saudades tornaram-se dolorosas, dilacerantes mesmo. 

Tenho saudades da Casa dos meus Pais, das conversas na varanda, dos passeios de carro ao fim da tarde para irmos ouvir o cuco - Quem ouve o cuco, não morre nesse ano- garantia o meu Pai. 

Olho à minha volta e o fosso que me rodeia enche-se de absoluta solidão. Filhas longe, netos longe, cada agora feito de memórias e amanhãs impossíveis. Para mim, digo que não faz sentido, não pode fazer sentido, encher de vazio os últimos anos da minha existência. Este devia ser o tempo dos afectos, das cumplicidades, dos passeios acompanhada.  Mas não é. O meu Tempo faz-se de muitas sombras e a memória só me devolve irrepetíveis.

Muitas noites, em insónias dolorosas, vêm os demónios troçar de mim e, rindo, garantem que em breve o Nada chegará. E eu tenho saudades das noites em que apenas anjos, invejosos da minha felicidade, me visitavam.

Tudo é efémero. Menos, penso, a minha tristeza.

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

APOSENTAÇÃO URGENTE

 Prezo muito a autonomia. 

Gosto de quem tem iniciativa, resolve problemas, faz frente aos problemas procurando, assertivamente, problemas. Por isso, defendo que, na Escola e na sala de aula, a autonomia deve ser uma competência desenvolver e faço-o. Não policio cadernos diários de alunos de 11º ano, não dou guiões minuciosos de tarefas, gosto de ver como dão a volta aos problemas, como resolvem situações novas e como se responsabilizam por essas decisões. 

Ora, porque penso assim, fiquei (e estou) indignada por ter de pedir aos encarregados de educação de alunos de 11º ano autorização para, no tempo lectivo da minha disciplina, levar os alunos a um monumento portalegrense. 

Jovens de 16 e 17 anos, precisam da autorização dos pais para irem a uma visita, com uma professora, quando os mesmos jovens saem à noite até de madrugada, circulam pela cidade a pé e de autocarro, saem da escola para irem tomar um café (e afins) às pastelarias vizinhas? Não faz sentido, para mim.

Às vezes, pasmo perante algumas medidas que, na minha visão pedagógica e social, surgem como absurdas. 

O documento fundamental para a escolaridade obrigatória em Portugal, o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, é muito claro quando enuncia como áreas de competência o desenvolvimento pessoal e a autonomia. 

Estou a pensar que urge pedir a minha aposentação. Esta Escola não é para mim!

domingo, 26 de setembro de 2021

À LAIA DE ANTÓNIO VIEIRA

 Voltei à Escola, à sala de aula onde sou tão eu e, hoje, resolvi seguir António Vieira. Enchi-me de energia e vá de escrever um Sermão, à moda de Vieira, para os meus alunos de 11º ano que agora começam a conhecer este escritor fantástico! Como irão reagir?

SERMÃO da Professora Aos Alunos

Vós sois o jardim da terra. E, tal como os jardins, floridos, dão cor e aroma aos espaços urbanos, tantas vezes cinzentos e carregados de cheiros desagradáveis, vocês, jovens, devem dar à humanidade cor, alegria e perfume. Mas, ou seja que vocês deixaram crescer excessivas ervas daninhas no vosso coração, ou que o mundo está de tal modo negro e empedrado que não tem terra fértil para que floris, a verdade é que vós não conseguis alegrar a existência.

Faltará perfume às flores do vosso jardim? Será que viveis mais preocupados em olhar as ervas daninhas, do que em contemplar a forma harmoniosa como as pétalas se abrem ao sol? Fernando Pessoa, esse grande Poeta português, disse “o melhor do mundo são as crianças”. Saberia, talvez, que essas são tenras ainda, puras, não tentadas a perder tempo com ervas daninhas. Talvez Pessoa devesse ter dito que vós, jovens, sois a mudança concretizada. Reparai que Camões, esse enorme Poeta do Classicismo, afirmou que “Todo o mundo é composto de mudança” e, cremos nós, a mudança constrói-se convosco, com a seiva renovada que, enxertada das melhores qualidades, consegue colorir e perfumar a existência humana.

Olhemos, então, a rosa. É bela, carregada de simbologia, capaz de dizer amor, paixão, saudade e até esperança. A rosa vermelha, brilhante, faz sorrir o olhar mais infeliz. Também um sorriso sincero, jovem, alegra a existência dos que sofrem. Mas, cuidado, muitas vezes a rosa perde as pétalas, basta que o vento sopre com força desusada, e ficam só os espinhos, fortes e agressivos, fazendo sangrar e chorar. Os espinhos, esses, rasgam e não acarinham, ferem e não curam. Poderia haver, então, rosas sem espinhos? Reparem no que diz o povo: Seria um jardim sem flores!. Sim, da bela rosa fazem parte os espinhos, como da vossa juventude faz parte a tentação do mal. Mas a rosa, naturalmente, serve-se dos espinhos para se alimentar, para se proteger de  mãos abusadoras e vós, jovens, servis-vos da tentação para, muitas vezes, destruir o perfume e a beleza que vos define. A rosa agride, com os espinhos, aqueles que a colhem. Vocês agridem, e destroem, o vosso próprio eu quando, em vez de pensardes na cor e perfume da vossa condição, vos deixais agarrar pelos espinhos da vossa idade. A rosa tem vida curta. Também vocês, jovens, não a tendes longa. A juventude é um período passageio, ligeiro como o voo da andorinha, que perde o perfume e deixa cair as pétalas antes de ter tempo de ser admirada.

Pensais que apenas a rosa embeleza o jardim? Não! Oh! Quantas cores, quantos aromas, quanto néctar delicioso encontramos num jardim. No meu jardim, do qual cuido diariamente, há uma cameleira. É uma árvore vestida de verde brilhante, viçosa, carregada de flores brancas e bem trabalhadas. Ao longe, quando chego ao jardim, a cameleira encanta-me. Quanta cor! Quanto viço! Quanta promessa de vida nos botões que a preenchem! Porém, como me ilude a imagem… As camélias têm o pé curto, não podem ornamentar a jarra da minha sala; as pétalas são tão frágeis que, mal lhes toco, caem no chão; os troncos da árvore, parecendo tão perfeitos, são fracos e sem resistência. Perguntais-me porque tenho tal árvore no meu jardim? Porque me enche o olhar, sem me tocar o coração. Porque me ilude na sua aparência de perfeição sendo, afinal, tão imperfeita. Sabeis que a camélia não tem odor? Ah! Quantos de vós sois apenas camélias neste jardim que é a humanidade. Como a camélia, quantos de vós viveis da imagem falseada, da aparência trabalhada para ocultar a essência desleixada! Mas a camélia, essa, não tem opção que não seja render-se à sua condição. Vós, jovens, tendes a possibilidade de inverter a condenação da flor e de, livremente, sobrepor a essência à aparência. Oiço-vos a protestar, o sermão vai longo e aborrece-vos já. Mas tende paciência, lembrai-vos das palavras desse poeta que também era cientista, António Gedeão, quando afirmava que “Cada vez que o homem sonha, o mundo pula e avança”. Não sois vós, também homens e mulheres em embrião? Então, ouvi-me um pouco mais e depois, se assim quiserdes, contrariai Fernando Pessoa que, em sofrimento, afirmava “Querendo, quero o infinito//fazendo nada é verdade”. Vós podeis ser a Verdade. A diferença. A mudança. Não, não olheis para quem vos antecedeu, não olheis para os jardins que desprezais. Não. Olhai sim, e vede, o mundo onde cresceis e os desafios que vos são colocados. Sim, tendes razão, também a rosa precisa regada, também os jardins precisam limpos das ervas daninhas que dão abrigo à destruição e à doença. Mas esse tratamento tende-lo vós, diariamente, na escola, na palavra dos professores, nos autores que ledes, nas aprendizagens que fazeis. Estudais filosofia? É a água fresca que permite que cresça robusto o vosso caule de ser; estudais português? É o fertilizante eficaz para que as vossas folhas e pétalas cresçam viçosas; estudais história? É o ancinho do jardineiro cuidadoso que permite que compreendeis o canteiro onde cresceis; estudais geografia? É o sacho cuidadoso a preparar espaço para que cresçais. Não estudais nada? É a doença da ignorância, a praga da estupidez, a dominar o vosso crescer, a viciar a vossa existência.

Julgais, talvez, que a escola de nada serve, que as aulas são a seca que mata a exuberância livre. Como estais enganados! O que aconteceria à beleza da rosa, sem o amor do jardineiro? O que aconteceria ao jardim, sem a atenção terna do que o cuidam? Cuidais, talvez, que vos basta a natureza da vossa condição jovem. Bastará ao jardim o selvagem crescer? Bastará à rosa o natural desenvolvimento? Não! Ao homem cabe enriquecer o belo, desenvolver o Bem. Sim, oiço-vos dizer. Não, ouvi-me gritar. Porque a rosa torna-se mais viçosa, o lírio mais brilhante, a orquídea mais perfeita quando o jardim é cuidado, limpo, enriquecido e regado. Vós sois o jardim da terra. E como esta Terra, cada vez mais feita de alcatrão e cimento, precisa de jardins! Termino agradecendo a António Vieira a grande lição e a vós, alunos jovens, deixo uma missão: - Perfumai de sentido a existência, sede corajosos para que, com o vosso florir renovado, sejais capazes de exterminar as ervas daninhas que, agora, livremente ocupam jardim e florestas… Lembrai-vos que o Tempo, esse jardineiro atento, todos os dias colhe e todos os dias semeia. Fazei parte da sementeira, não querereis ser o lixo que ele sempre recolhe.

sábado, 11 de setembro de 2021

VAZIOS

Nos últimos meses tem morrido gente, muitas pessoas, significativas para mim. Partiu a minha mãe, há um ano, a Irene Pestana, o Professor Manuel Patrício, o Sr. Zé Henriques e a dona Maria Helena, muitas pessoas que preencheram a minha adolescência, juventude e idade adulta. Começo a olhar à volta e a deparar-me com um vazio imenso, doloroso, cheio de ausências e saudades. A cada adeus, fico mais sozinha, mais perdida neste mundo, mais triste e com menos esperança. Já não vou tendo a quem pedir colo, onde me acolher, quem me saiba ralhar de mansinho. Agora, as asneiras que faço ficam mais definitivas e o meu telefone tem uma imensidão de números sem resposta.
Claro que sei que  é assim que se cumpre a vida. Mas esse saber não impede a minha dor.
Olho-me e não me encontro, porque eu sou, ou fui, sempre ligada a outros. Penso no que já perdi, tanto, e não tenho forças para fingir que compreendo e que está tudo bem. Não tem graça nenhuma o meu existir hoje!

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

JÁ ERA

 E passou o Verão, sendo que, para mim, Verão é o tempo de férias. 

Num instante tenho de novo a casa vazia, a cabeça cheia de projectos, vontade de ter alunos, de me perder, encontrando-me, na sala de aulas com eles.

Pelo meio perdi o concurso (que se chama concurso mas é uma votação política) para a direção do Agrupamento que foi o meu Liceu e, surpreendendo-me, ri-me com o facto. Cada vez mais, talvez sejam as aprendizagens da idade, valorizo os processos em detrimento dos resultados. Gostei de elaborar o meu Plano de Intervenção, continuo convicta de que poderia mesmo transformar a vida de todos. Mas pronto, não quiseram, eu sigo sonhando e rindo porque não sei cantar.




Estamos em setembro, um dos meus meses preferidos, cheguei agora do Minho, estou ainda cheia de acreditares.

Deus não me vai abandonar!

domingo, 25 de julho de 2021

DÚVIDAS

Vou, daqui a um pouco que é imenso tempo emocional, buscar os meus netos ingleses a Lisboa! Estou ansiosa. As saudades, depois de sete meses sem os abraçar, doem fundo. Vejo-me e estranho-me. Quem sou seu sem os meus afectos, as pessoas que me definem, que me fazem chorar e sorrir? Às vezes, penso que sei muita coisa, mas nunca o suficiente. Penso que nasci da minha mãe e, aos poucos, fui-me afastando, contruindo uma pessoa que chego a desconhecer. Será que ser pessoa é este percurso constante, esta procura de alguma essência individual que não se encontra nunca?

Os meus netos vão chegar! Já fiz gelado, já enchi o frigorífico das coisas que eles gostam, e ainda me parece que não é suficiente, que não chega para que percebam como existo neles e para eles.


sexta-feira, 23 de julho de 2021

OU...OU

Ou estou a envelhecer, ou estou a ficar mais consciente do privilégio que é eu ser eu. Das duas, uma. Ou isto, ou Aquilo, oiço a Cecília Meireles dizer. 

Cada vez mais, cedo, consciente e livremente, à preguiça inteligente. O que é isso? É optar por não responder, não explicar, não me incomodar, com algumas patetices que vejo, oiço e leio. Ao contrário de Sophia, eu vejo, oiço e leio e, livremente, posso ignorar. Por exemplo, não me apetece explicar, comentar, indignar-me, com certas alarvidades sobre Educação. Até era fácil explicar que não, o ensino privado não supera o público, que a Escola Pública tem vindo a evoluir claramente, mas não me apetece. Era fácil provar que a Educação para a Cidadania não diz que os homens engravidam, não obriga a práticas homossexuais, mas não tenho pachorra. 

Também não respondo quando me dizem que me exponho demais, que não devia dar, com tanta ousadia, a alma à palmatória. Não respondo porque teria de explicar que não exponho nada. Que tudo o que é meu fica comigo, que palavras são realidades exteriores, que se falo de amor, de sexo, de saudades, de vazio, de abandono, de desilusão, de opções políticas, nada digo que ninguém não saiba já. Ou venha a saber, um dia. 

Pois é, até podia, se me apetecesse, dizer que vou assistir ao Concerto de Abertura do Festival Internacional de Música de Marvão, que isso não seria exposição, só sinfonia!

quinta-feira, 22 de julho de 2021

O PRATINHO TRANSPARENTE

 Estou na piscina, mas não sou quem está na piscina. Eu estou em casa dos meus pais, tenho 14 anos, faço scones na cozinha e espero amigos que vão chegar. O meu fato de banho azul, que comprei na Vitória, tem flores amarelas e a minha mãe comprou-mo em Badajoz, porque ainda não sabe que vai haver uma Íntima na rua do Comércio. Eu estou ansiosa, acho que feliz, porque também ainda não sei que vai haver um fato de banho azul quando já não houver a minha mãe. Tenho 14 anos. Estou apaixonada pelo João, paixão eterna porque não adivinho que não vou casar com ele e ser feliz para sempre, que vai acontecer tempo de solidão e lágrimas quando eu tiver o fato de banho azul. Agora não espero ninguém. Este meu eu não me conheceu aos 14 anos, fez-se aos poucos, sem sequer pedir licença. O meu eu de 14 anos sabe que a Mena vai chegar, a Faneca também, todos os amigos vão  vir e vão olhar para o lado, ou dar um mergulho, quando eu partir para um mundo só meu e do João, porque o calor da mão dele me faz voar, porque eu amo-o desconhecendo o amanhã.

Chegam as ovelhas do vizinho, e eu não as oiço porque aqui não há ovelhas, não há vizinhos. A minha mãe não tira os scones do forno, mas eu vejo-a a separá-los, a colocá-los na cesta com o guardanapo branco, a colocar nozes de manteiga no pratinho transparente. 

Ter-se-á partido o pratinho transparente? 

segunda-feira, 12 de julho de 2021

FUTEBOL

 O jogo de ontem, que opôs Inglaterra a Itália, agarrou-me ao ecrã.  Eu, que não  gosto de futebol e não percebo nada daquilo, senti o meu coração dividido entre o país onde sempre fui imensamente feliz, a Itália da História e dos sabores, e a Inglaterra, onde bate mais de metade do meu coração. Sentada em frente da televisão recuperei a travessia de Siena para Milão, debaixo de neve, num pequeno carro alugado onde a mala mal cabia. Milão, Florença excessiva, Siena, S. Gimignano, a Toscânia onde, penso eu sempre, todos os impossíveis acontecem. Depois, Roma. E passeei de novo pelas praças, pelas trattorias, pelas mil igrejas, pelo cais do rio Tibre. Ah, e  os telhados de Roma, as varandas, as ruas de lojas com preços proibidos, o Hotel Inglaterra a contar do português D. Pedro II. E o jogo continuava, jovens no chão, encontrões, todos numa louca corrida ao golo, à vitória, à taça. A taça de vinho fresco, o Pinot Grigio Delle, o abraço entontecido, a alma encadeada de presente a acontecer. Prolongamento. Os ingleses a perderem a cabeça, o jovem William a revelar ansiedade, o pequeno George de olhoar desiludido, Buckingham Palace a encantar-me, o verde inglês, as madeiras escuras, os pubs cinzentos e a apple pie tão saborosa. 

Veio o prolongamento. E eu voltei a Notting Hill, caminhei até ao Swan, olhei o parque enorme e ousei dizer coisas de pensar na speakers corner, sem medo que alguém me condenasse. Penalties. Golo na minha felicidade, ali mesmo em Chester, olhando as rows, pensando que, apesar de tudo, Marvão é mais meu. A Itália a falhar, como é possível? e o Coliseu a assustar-me, a fazer-me sentir de facto insignificante. Inglaterra falhou e Windsor a receber-me com chuvinha cinzenta, casa de chá na rua estreita,   alguém a falar português também.

De repente, Itália erguia a taça. E a Fontana de Trevi, 26 metros de histórias contar, a acolher-me com ostras e vinho fresco!

Ah, que grande jogo! E que vitória merecida! Viva Itália!

FÉRIAS!

 Preciso de férias. Não de uma breve interrupção de rotina, isso, felizmente, até tenho tido, mas de férias mesmo. Não, não preciso de viajar, de ir para um hotel, de praia, de um SPA, de nada disso. O que eu preciso mesmo é de desligar a cabeça, não pensar em trabalho, em problemas, tirar o relógio e gozar de tempo sem horas. A ciência já provou que é a cabeça, o cérebro, que comanda tudo, e eu sinto, mais do que sei, que a minha cabeça está cheia de mais, precisa de limpar muita informação, de excluir muitos registos, para poder recomeçar a viver.

É isso. Tenho andado a existir, a cumprir existências sem sonhos, preciso, com urgência, de arranjar na minha mente espaço para a utopia que é pasto de sonhos.

sexta-feira, 2 de julho de 2021

ENERGIAS

 Não sou muito crente em energias, forças alternativas, etc. Talvez por educação, ou, se calhar, por ser muito conservadora (?) , sempre me dá vontade de rir a ideia que há lugares, e pessoas, que trazem energias positivas, ou negativas. Ora, como eu não páro de aprender e, por isso, de mudar de ideias, hoje senti a tal energia positiva! Fui à cidade, cumprindo as necessárias tarefas domésticas e, a  seguir, resolvi ir tomar café à Rua do Comércio, entrar na Igreja um bocadinho. Ao sair do café, o pequenino Sons e Sabores, senti-me estranhamente invadida de bem-estar e paz. De repente, não doíam as saudades, não me sufocava a solidão, não sentia angústias, estava BEM! 

Vim para casa mais leve, apesar do pastel de nata que comi, e sinto-me perfeitamente descontraída. Será que há mesmo energias??

segunda-feira, 14 de junho de 2021

CICLOS

 Já Camões dizia que "Todo o mundo é composto de mudança" e, sem dúvida, nada é tão constante como a mudança. Aos 61 anos, encerro um ciclo e começo outro. Durante 12 anos, que agora me parecem ter voado, estive a trabalhar no Centro de Formação de Associação de Escolas, mais com professores, com colegas, do que com alunos. 

Aprendi muitíssimo, conheci pessoas absolutamente fantásticas, ganhei ainda mais admiração pelos professores. Li muito, fiz duas pós-graduações, participei em muitas sessões de trabalho, consolidei o meu projeto ideal de escola e cristalizei (?) a minha convicção de que são as utopias que nos movem.

Agora, termino essa colaboração com o CFAE. Não sei se voltarei à sala de aula a tempo inteiro, se abraçarei outros projectos. Sei que é com tranquilidade e com a certeza de missão cumprida que fecho este ciclo. Há muitas pessoas a quem quero dizer obrigada, mas terei tempo, de Deus quiser, para o fazer.

Agora, neste momento, só quero que Deus me ajude a continuar com saúde para trabalhar!

quarta-feira, 9 de junho de 2021

DATAS

 Tenho com as datas uma relação estranha. Penso que não é o dia em si, a efeméride, a recordação de uma marca no calendário, que faz mais vivas as memórias, ou torna mais significativos os factos. No entanto, há datas que me ferem intensamente. Hoje, faz 16 anos que o meu Pai morreu e eu, que penso nele todos os dias, que o recordo em mim, que continuo conversando com ele no meu silêncio, sofro mais ainda. 

Foi um dia horrível. O meu Pai morreu nos meus braços, estávamos sozinhos no quarto dele, e eu ainda o vejo, ainda o cheiro e sinto presente. 

Hoje, sozinha, sem  ter com quem recuperar memórias, sem resposta às muitas vivências que revisito, o meu coração sangra. 

O meu Pai faz-me muita falta!

terça-feira, 1 de junho de 2021

URGE AGIR

 Sou claramente humanista. Privilegio a individualidade, o direito à diferença, o respeito pelo outro. Sei que somos porque há o outro/s e que o homem é um ser social. Compreendo, sinceramente, que no mundo global no qual vivemos, neste mundo paradoxalmente tão pequeno e tão grande, tem de haver lugar para todos. Por isso mesmo, defendo que Portugal, tal como os outros países considerados mais desenvolvidos, deve acolher os migrantes. 

Em Portalegre vejo, cada vez mais, pessoas que vêm de longe, que trazem olhares exóticos, experiência e culturas que me são estranhas. Penso que estas pessoas merecem mais dignidade, mais atenção por parte de quem as acolhe. A sociedade portuguesa não deve, apenas, acolher, tem de ajudar a conseguir (não dar!) condições de vida, trabalho, dignidade. Sinto vergonha ao ver gente de turbante, descalça, a pedir esmola na minha cidade. Democracia não é isto. Não pode ser isto. 

sexta-feira, 28 de maio de 2021

MÚSICA

Não sei tocar nenhum instrumento, não sei cantar, nunca pertenci a nenhuma banda, orfeão, ou coro. Quando era miúda, no meu Liceu, era excluída das aulas de educação musical logo ao primeiro solfejo, o  que agradecia entusiasmada. Mas, ainda assim, adoro música, vivo com música de manhã à noite. Gosto de música clássica, de música ligeira, de Fado, de melodias que, cantadas na minha língua, me devolvem o mar e adubam o sonho. Hoje, vou de novo, depois de quase dois anos de interdições, a um Concerto. Vou ouvir o Zambujo, a voz do meu Alentejo, vou voltar a deixar a minha alma dançar, já que o corpo o não pode fazer! E antecipo a travessia dos campos ainda (ou já) floridos, a conversa boa com uma amiga, o Gin bebido antes de entrar no Campo Pequeno. Às vezes, cada vez mais, penso que são os pequenos momentos que fazem grande a vida.

quinta-feira, 27 de maio de 2021

UBUNTU

 UBUNTU. Uma palavra Zulu, ancestral, que encerra em si uma filosofia por cumprir. Ser com o outro. Ter consciência de que, como humanos, vivemos uns com os outros, não uns contra os outros. Há quem trabalhe os princípios UBUNTU nas Escolas, há quem tente (tente, porque não é fácil) aplicá-los na vida. 

Para mim pode ser, é com certeza, mais uma forma de contribuir para a transformação da Escola, e do Mundo, que muito defendo. Se não é possível dois corpos ocuparem o mesmo espaço, lei básica da física, em vez de continuarmos a tentar colocarmo-nos no lugar do outro, talvez faça mesmo mais sentido compreendermos que existimos pelo(s) outro(s). 

Nem sempre me acontece, às vezes desespero e tenho vontade de desistir, mas, depois, vem mais uma ideia, mais um desafio, e volto a acreditar que pode ser possível, que tem de ser possível, deixar um mundo melhor aos meus netos!

domingo, 23 de maio de 2021

Dia da Cidade

 Dia da Cidade, 23 de maio. D. João III, o mesmo que trouxe a Inquisição para Portugal, considerou que Portalegre tinha condições, e desenvolvimento, para ser cidade. Depois disso, gostaria eu de acreditar, foi sempre a desenvolver-se...

Bom, a narrativa da minha cidade não é exactamente assim, mas, em dia de Festa, prefiro ignorar o menos bom. A verdade, para mim que sou mesmo portalegrense, é que este lugar é temperado por Deus. É um espaço onde se equilibra o provincialismo e o progresso, onde é possível viver, para além de existir. Nas ruas da minha cidade, que não se compadecem de saltos altos, oiço poemas por inventar e espreito a Serra de cada arco. Os meus passos fazem-se de memórias e, chego a acreditar, as esquinas conhecem-me de outras eras. Nesta cidade que faz Festa eu aprendi a ler, a decifrar olhares, a namorar, a odiar a matemática, a amar a vida na Escola. Nesta cidade sepultei os meus avós, os meus pais, a minha irmã, alguns amigos. Esta é minha terra de vida e morte.

Não me importo que não haja grande festa, que não venham artistas famosos, que não haja exposições, não quero saber sequer a que horas é o hastear da bandeira ou a missa solene. Não me interessa! Para mim, a Festa do meu Concelho acontece no silêncio dos meus sentires. 

Parabéns Portalegre da minha essência!

sábado, 22 de maio de 2021

22 de Maio é um dia intenso, para mim. A minha irmã Nô fazia anos e, porque ela era a personificação da alegria, e porque no dia seguinte era sempre feriado, Dia do Concelho de Portalegre, em casa havia grande festa. A Nô tinha muitos, e bons, amigos, estava sempre alegre e era muito bonita. No dia dos anos dela, normalmente havia sol, as flores rebentavam no quintal, e o meu Pai gostava de dizer que a Natureza também se engalanava para lhe dar os parabéns.

A minha irmã viveu muito pouco tempo, deixou muita vida por gastar, muitas narrativas por escrever. Ela tinha muitos sonhos, muitas gargalhadas por dar, muito mimo para distribuir e eu penso, acredito, que esses sonhos por sonhar e viver ficaram por aí, perdidos, chorando a eterna irrealização. 

Agora, 48 anos passados, quando eu mesma errei tão absolutamente narrativas onde ela deveria ter sido participante, sinto que ficou sempre um espaço vazio na nossa vida. Um espaço onde foi impossível inscrever vivências que, ainda assim, ainda adivinho. 

terça-feira, 18 de maio de 2021

MODAS

 Não sei se é por não me estar a sentir bem, se é por estar a envelhecer, se é por ser mesmo bota de elástico, mas incomoda-me a moda que, este ano, faz com que as miúdas, as minhas alunas, andem na rua, e estejam na sala de aula,  só de soutien. Há uns anos, a moda dos rapazes com as cuecas de fora, chateava-me; depois a moda dos umbigos não em agradava mas, este ano, esta moda de andar só com o soutien, desespera-me. Se me incomoda, e condeno, encontrar professores  a dar aulas de calções e chinelos, professoras de minissaia, funcionários de traje de piscina, muito me chateia também ter na minha sala meninas de soutien.

Defendo que a Escola deve ter uma palavra a dizer nestes comportamentos, deve educar para o respeito pelo corpo e por cada eu. Sim, não consigo ficar indiferente e encolher os ombros perante aquilo que, para uns, é liberdade, para mim é ignorância e libertinagem. 

segunda-feira, 17 de maio de 2021

MODERNIDADE

Segunda toma da vacina. Anunciava-se uma tarde calma, efeitos secundários suportáveis. 

Engano total! A vacina foi simples, o horário cumprido. Mas os efeitos secundários estão a dar cabo de mim. Enjoo, dores de corpo, cansaço, dores musculares. Dizem-me que é bom sinal, que o corpo está a reagir - garantem-, mas de pouco me servem as palavras de consolo. É horrível sentir-me mal! Como se não bastasse o quotidiano para me irritar, agora ainda meto no corpo cargas de dores 

Ah! Se a modernidade é isto, eu quero voltar ao Renascimento!

quarta-feira, 12 de maio de 2021

PODE-SE SER FELIZ SEM SABER MATEMÁTICA

 A aprendizagem da matemática, pelo menos em Portugal, tem justificado muitos estudos, muitas investigações, muitas análises, muitas revisões de programas. Os alunos, na sua maioria, não têm sucesso nesta disciplina e, a juntar ao habitual e oco argumento de falta de bases, junta-se, frequentemente, a ausência de hábitos de trabalho. 

Às vezes, há até quem alegue que a matemática é uma disciplina muito difícil e só para alguns.  Mais grave, acho eu, ficam as coisas quando se recomenda aos alunos que optem pelas humanidades porque, enfim, as ciências e tecnologias têm matemática e, por isso, é uma área que não está ao alcance dos comuns mortais. Já me aconteceu, com excessiva frequência, deparar-me com alunos em humanidades que não gostam de ler, de escrever, de pensar e nunca me passou pela cabeça recomendar-lhes que fossem para Ciências... Enfim. 

Não acredito na tal anunciada dificuldade da matemática. 

Não acredito que um aluno, que sabe pensar, que quer aprender, não consiga ter sucesso na disciplina e, desculpem, não acredito que seja necessário ter explicação para aprender matemática. Aliás, se a disciplina é assim tão exclusiva, até acho que deve sair dos curricula! Porque, sinceramente, é possível ser feliz sem matemática. 

O problema do insucesso nesta disciplina não pode ser apenas imputado aos alunos. É preciso pensar se, de facto, os conteúdos são de tal complexidade que só mentes brilhantes, ou iluminadas externamente, a eles podem aceder.

Hoje, estou assim. Farta de argumentos ocos, cansada da enormidade de ouvir que as humanidades são para os alunos com mais dificuldades. 

Por isso, eu insisto: - É possível ser feliz sem matemática, queridos alunos deste país!


sexta-feira, 30 de abril de 2021

CALAMIDADE

 Portugal aliviou as medidas de combate à pandemia, passou do estado de emergência para o de calamidade. Curiosamente, eu achava que calamidade seria pior do que emergência.  Uma emergência, pensava eu, exigia medidas imediatas e eficazes; uma calamidade seria algo súbito, sem possibilidade de solução. Mas parece que não é assim e, agora, estamos todos em calamidade. 

Confesso que tenho algum receio que haja precipitação e que, por causa de tanta pressa, tenhamos que voltar ao confinamento. 

É que, apesar da vacinação estar a correr bem, de estar tudo bem organizado, de termos de agradecer o empenhamento do senhor vice-almirante, tudo tem acontecido de forma  demasiadamente lenta. Num país pequenino, como é Portugal, não poderíamos estar já todos vacinados?

domingo, 25 de abril de 2021

25 de ABRIL

 Não tenho memórias reais, minhas, do tempo da ditadura. Em minha casa não se falava de política, os meus pais trabalhavam os dois, nunca senti, por sorte, a opressão. Construí a memória do salazarismo no património colectivo de escritores, sobretudo poetas, conversas de quem viveu o medo e a violência. Para mim, a Liberdade é, devia ser, um Valor essencial, tal como o direito à vida, à opinião, ao sonho. 25 de Abril é, sem dúvida, uma data especial. Sem donos, sem proprietários, pertence a todos os portugueses e deve, sim, ser assinalada e lembrada. 

A revolução de Salgueiro Maia e Eanes, para mim as principais referências, ainda não se cumpriu. Como diz Sophia, este ainda é "o tempo dos chacais", o tempo da injustiça, da fome nas ruas, da corrupção e do medo. 

Senti na pele a injustiça e o medo, há dois anos, teoricamente num tempo de Liberdade de expressão. E, também por isso, penso que é importante fazer uma real e efectiva pedagogia da Democracia. Não fundamentada em parangonas, mas em aprendizagens significativas.

Pessoa escreveu "Senhor, falta cumprir-se Portugal". Eu acrescento: AINDA ...

sábado, 24 de abril de 2021

LOLA

Esta moda de baptizarem o tempo, de darem nome de pessoas às tempestades, é relativamente recente. Ou, se calhar, não é recente e eu andava distraída. Não interessa. A verdade é que as tempestades, furacões também, têm nome de gente e, quando se adivinham realmente violentas, ganham nome de mulher. 

Assim, anunciaram uma Lola para este fim-de-semana. O meu telemóvel, que, por alguma razão misteriosa que não consigo compreender, insiste em avisar-me de tudo o que não me interessa, há dois dias que me chama a atenção com sinais de alerta. 

Eu olho o céu. Nuvens negras, cinzentas, brancas, algum vento, mas de Lola nem vestígio. Acho que, como mulher que é, a Lola resolveu criar suspense e desaparecer! 

Deve ter ido dançar salsa para outro lugar qualquer. 

sexta-feira, 23 de abril de 2021

DIA MUNDIAL DO LIVRO

Dia especial, este. O que seria de mim sem livros, sem leitura? Não me lembro de um dia sem ler e, se me pedissem que elegesse O livro da minha vida, ia ver-me numa grande alhada. Cada livro tem uma história, um momento, uma realidade. Obviamente, tenho livros que me marcaram, mas não um... A Criação do Mundo, Torga; As Confissões do Frei Abóbora, José Mauro de Vasconcelos; Paula, Isabel Allende,  Aparição, Vergílio Ferreira; Os Miseráveis, Victor Hugo. Talvez estes sejam os mais marcantes. Mas não são os únicos. 

Hoje, Dia Mundial do Livro, seria interessante ver as Escolas a fazer jornadas de leitura. Porque também se educam os bons hábitos. 

quinta-feira, 22 de abril de 2021

PROJECTOS

 Os meus amigos dão-me bons conselhos. Dizem-me que me deixe estar sossegada, que de sonhos ousados (e loucos, não dizem mas pensam) que esqueça a Escola de possíveis, as aulas de desafios, as aprendizagens para todos e para cada um, a Escola como um  espaço de geografia de afectos e cumplicidades. Mas eu, que gosto imenso dos meus amigos, que não me imagino a viver sem eles, não lhes dou ouvidos.

Quero uma Escola diferente. Uma Escola que valorize a imensa riqueza e diversidade humana, que desenvolva aulas centradas em desafios, que torne verdadeiras as aprendizagens de cidadania e democracia.

E avanço com um projecto. De alma encolhida? Não. Com receio da derrota? Também não. Com confiança, e a tranquilidade de saber -  cum saber de experiência feito - que a sorte premeia os audazes e que Pelo  Sonho é que Vamos

quarta-feira, 21 de abril de 2021

DESILUSÃO

 O poeta diz que tem nele todos os sonhos do mundo. Que sorte! Porque eu, muitas vezes, carrego em mim todas as desilusões do mundo. 

Experimento um desejo absurdo de partir, de realizar o que sonho acordada. Não, não tenho em mim todos os sonhos do mundo, tenho só os meus e sufocam-me. 

quinta-feira, 1 de abril de 2021

PÁSCOA

 Cresci numa família cristã, católica, e sempre vivi as tradições com alguma intensidade. O meu pai era um defensor das amizades e, penso agora à distância, todas as razões e pretextos serviam para ter gente à mesa. 

Se o Natal era tempo de família, de muito musgo e muitas histórias à lareira, a Páscoa era o tempo de reinventar a esperança. Em minha casa, a Páscoa começava mesmo na Quaresma, com o peixe que se comia nas sextas-feiras, no cumprimento (relativamente) rigoroso, da proibição de comer carne. Mas a vivência mais intensa decorria de sexta a segunda-feira. 

Na sexta-feira Santa, às três horas, todos tínhamos de estar em casa. Um pouco antes das três, vínhamos para o quintal e, todos juntos, ouvíamos a sirene assinalar a morte de Cristo e fazíamos silêncio. Depois, todos nos abraçávamos e beijávamos. Era o ritual da fraternidade, talvez. 

No Domingo era a festa maior. Almoço de sarapatel e cabrito assado, doces, às vezes, se o tempo o permitia, mesa posta na rua. Amigos, tios, primos, casa cheia. Segunda-feira, repetia-se o almoço, variando o menu mas não os amigos. Era o dia de ir comer para o campo, e nós já vivíamos no campo. 

Hoje, antecipando uma sexta-feira de vazio e solidão, recupero estas memórias. Sem saudosismo, porque não queria voltar atrás, mas com um enorme sentimento de gratidão pelo que Deus me permitiu viver. 

quarta-feira, 24 de março de 2021

SEXALESCENTE

 A descoberta científica, às vezes, acerta. Gosto muito desta ideia de ser sexalescente

"Se estivermos atentos, podemos notar que está a surgir uma nova faixa social, a das pessoas que estão em torno dos sessenta/setenta anos de idade. Os sexalescentes são a geração que rejeita a palavra "sexagenário", porque simplesmente não está nos seus planos deixar-se envelhecer.

Trata-se de uma verdadeira novidade demográfica, parecida com a que, em meados do século XX, se deu com a consciência da idade da adolescência, que deu identidade a uma massa de jovens, oprimidos em corpos desenvolvidos mas ainda sem a mentalidade dos adultos, e que revelavam não sabendo para onde ir nem como vestir-se.

Ao contrário dos jovens, os sexalescentes conhecem e pesam todos os riscos. Ninguém se põe a chorar quando perde: apenas reflecte, toma nota, e parte para outra...

Os homens não invejam a aparência das jovens estrelas do desporto, ou dos que ostentam um fato Armani, nem as mulheres sonham em ter as formas perfeitas de um modelo. Em vez disso, conhecem a importância de um olhar cúmplice, de uma frase inteligente ou de um sorriso iluminado pela experiência.

Hoje, as pessoas na década dos sessenta/setenta, como tem sido seu costume ao longo da sua vida, estão a experimentar uma idade que não tem nome. Antes seriam velhos, e agora já não o são. Hoje estão de boa saúde, física e mental, recordam a juventude mas sem nostalgias parvas, porque a juventude ela própria também está cheia de nostalgias e de problemas."

Os governos não querem dar-lhes a aposentação, não porque achem que ainda trabalham bem, mas porque não querem dar-lhes o dinheiro que eles próprios descontaram. A desculpa é apenas que a esperança de vida aumentou. Para alguns governos, as pessoas viverem mais é um problema, em vez de ser uma oportunidade e uma mais valia.

Pois bem, se a esperança de vida aumentou, também deve ter aumentado o bom estado mental e físico das pessoas com sessenta ou setenta anos.

Então, acabe-se com a ideia dos sexagenários serem velhos e ninguém lhes querer dar emprego ou cargos de alguma responsabilidade.

Uma pessoa não muda da capacidade de trabalhar para a incapacidade de um dia para o outro. Então, um governo justo e inteligente devia criar um regime de transição em que os trabalhadores mais velhos teriam progressivamente menos horas de trabalho diárias, ou menos dias de trabalho semanal. Por exemplo, começar por três dias de fim-de-semana. A transmissão da experiência e dos conhecimentos é fundamental para a evolução das sociedades. Os "sexagenários" ativos podem não ter as mesmas capacidades físicas, mas intelectualmente valem o mesmo ou mais do que muitos jovens.

Só depois deste reconhecimento os "sexagenários" aceitarão trabalhar até mais tarde e terem aposentação mais tarde.

Sexagenário, sexagenário!

Apetece dizer, sexagenário é  o teu pai ou a tua mãe.

Nota: Adaptado e acrescentado de mensagem da antropóloga brasileira Mirian Goldenberg.

sábado, 20 de março de 2021

SOBRINHOS

 Diz-se que ser avó é ser mãe duas vezes. Eu acrescento que ser tia é ser mãe de coração. 

Tenho com os meus sobrinhos uma relação de amor intenso, e já vou na segunda leva, nos sobrinhos filhos de sobrinhos! Mesmo distantes, mesmo adultos e com filhos, ainda que não os veja com a regularidade que desejaria, penso muito neles e adoro-os. 

Cada um é especial. O Bernardo foi o primeiro, é o meu menino de olhos negros e intensos, carrega o Alentejo no sangue e eu tenho uma profunda admiração pela sua autenticidade. O João é o teimoso mais doce que conheço. Maroto em miúdo, conservou o sorriso irresistível e eu estou desejosa de o ter por vizinho. A Leonor é a minha afilhada. Cresceu comigo nos primeiros anos, dormia muitas vezes na minha cama, fazia-me perguntas embaraçosas com aqueles olhões pretos que ainda hoje me encantam. O António era o mais divertido. Sempre pronto para abrir o coração, acreditava na magia e na ternura e, jovem adulto, persegue a utopia de um mundo Humano e justo. A Carolina, a mais pequena, foi sempre a independente. Curiosa e calada, observava e silenciava-se. 

Todos eles fazem parte de mim! 

Amanhã, a Leonor faz anos. 31! e eu acho que Cronos se enganou, que não é possível que a minha Leonor já seja uma campeã de equitação, já seja uma vencedora, já vá apagar 31 velas. Queria muito dar-lhe um abraço, sentá-la ao meu colo, como quando a embalava para a adormecer, ter o poder de afastar para longe todos os papões do quotidiano. Faz-me falta esta menina mulher!

quarta-feira, 10 de março de 2021

REVOLTA

Estou incrédula. Como é possível? Onde chega  a estupidez mascarada de intelectualidade? Não queria acreditar quando li um excerto de uma tese de mestrado onde se lê que Eça de Queirós é racista. Mas está tudo doido? Parece-me absolutamente descabido, para ser suave, olhar e interpretar autores fora do seu contexto, e querer forçar interpretações consideradas politicamente correctas. Querer deitar abaixo o Padrão dos Descobrimentos, dizer que o Padre António Vieira é defensor da escravatura, querer ver manifestações racistas na obra Os Maias, excede tudo o que pode ser considerado razoável. 

A literatura deve ser promotora da Liberdade, como o conhecimento promove a consciência e o sentido crítico. Quanto mais conhecemos, mais livres somos, disse alguém. 

Não posso compreender, menos ainda aceitar, que queiram aprisionar pensamentos de grandes autores, destruir obras como Os Maias. Às vezes, é muito difícil ser pessoa no meu país!


segunda-feira, 8 de março de 2021

DIA DA MULHER

Sempre que é Dia da Mulher, eu oiço na minha cabeça o woman de John Lennon. Acho, ainda, que o woman casa bem com o Imagine, a minha música de eleição. Sim, o Dia da Mulher é especial. Porque ainda há mulheres vítimas de violência, muitas vezes causada por alguém que um dia amaram, porque ainda há mulheres na miséria, porque ainda há mulheres que deixaram o sorriso perdido, colado algures num tempo inexistente.

Como Mulher, exageradamente mulher, não gosto que este dia seja assinalado com strip-tease masculino, nem com mulheres a embebedarem-se "à homem". Acho deprimente, sinceramente, que uma mulher considere felicidade imitar os homens...
Este ano, alguma coisa de bom a pandemia teria de ter, esses momentos devem ser poucos e, por isso, o Dia ganha ainda mais sentido.
É tempo de pensar na magia de ter uma vida dentro de nós, de afagar um filho antes de alguém o ver, de sentir a dor alheia por antecipação, de poder acolher, inteiro, o amor dentro de nós, de fazer xixi sentada, calma e confortavelmente.
Sim, o Dia da Mulher é especial! Tempo de lembrar enormes mulheres, tantas. Tempo de pensarmos em nós, corajosas lutadoras pelos outros.
Feliz Dia da Mulher, para todas nós. Feliz Dia da Mulher para os homens que têm o privilégio de conhecer uma mulher que seja

segunda-feira, 1 de março de 2021

OUTRA VEZ

 Ao meu lado sentam-se duas senhoras. Uma, jovem, 21 ou 22 anos, outra, grisalha já, risquinhas no olhar, 61 anos sem dúvida. Conversam comigo. A mais jovem, fala dos sonhos, das certezas de muitos impossíveis, garante que a vida se ganha e que a felicidade existe. Vai casar, acredita convictamente no amor, tem um vestido ligeiro, florido, e ri-se troçando dos avisos da senhora grisalha. A senhora de risquinhas no olhar fala de desilusões sucessivas, de muitos vazios, de solidão e desesperança, de tristeza e abandono. Desafia promessas ocas, passa as mãos nos cabelos esbranquiçados constatando o vazio que a envolve. As duas senhoras não se conhecem. Viveram em épocas diferentes!! Mas foi pena... A senhora grisalha devia ter avisado a jovem Luísa dos perigos a haver.

Hoje, faço 61 anos. 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

CEFALEIA

 Quando alguém se queixa de dor de cabeça, costumo dizer, brincando, que é muito bom que tal aconteça, porque é a prova de que tem cabeça. Hoje, só para não me armar em engraçadinha, acordei eu com uma cefaleia violenta (assim, com nome pomposo, ganha outro estatuto), e mal consigo abrir os olhos. Obviamente, já fiz um cocktail de comprimidos, já andei a cheirar o Zorba, para confirmar que não é COVID, e já agradeci o facto de ter cabeça.

No entanto, a cefaleia aguda, felizmente não grave, não desaparece.

Para complicar as coisas, a vida moderna faz-se de ecrãs, e o brilho do meu computador dispara setas no meu cérebro. Penso que tenho muita sorte por não dar crédito à vida. Se assim não fosse, estaria fechada no quarto, às escuras, maldizendo a incómoda cefaleia.

Era capaz até de lhe chamar dor de cabeça, só para a minimizar!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

REVOLTA

Fecharam-me em casa, trancaram-me a existência, impuseram-me os ecrãs gelados, envolveram-me em virtualidades. Ignoraram que o Tempo não pára, que o monstro Cronos a cada dia come vinte e quatro irrecuperáveis horas. 

Proíbem-me vivências irrecuperáveis, não há adiamentos para momentos marcantes! Amanhã, a minha neta Constança faz 8 anos e eu estou longe, sem possibilidade de lhe dar um abraço, de a ouvir contar das descobertas da vida que está a fazer, sem poder contar-lhe


mais uma história,  dizer-lhe ao ouvido que está linda com o vestido novo!

Não é justo, não é democrático! 

Não devia ser permitido proibir os afectos, prender cidadãos que não cometeram qualquer crime entre quatro paredes. Eu quero de volta a minha liberdade de circulação! Quero voltar a ser responsável pela minha vida, pelas minhas opções!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

PARADOXOS E APRENDIZAGEM

 

Li, não há muito tempo, durante a preparação para uma sessão de trabalho, mais uma entrevista à Drª Luísa Tavares Moreira (não, não sou eu, mas tenho pena. Admiro profundamente a minha homónima) onde ela lembrava que enquanto diretora de uma escola, via os rapazes e raparigas saírem e entrarem pelos portões e percebia que aquela não era a Escola de todos. Também eu senti, e pensei, e penso, isso mesmo muitas vezes. Há escolas que são gaiolas, há escolas que dão asas. Ou, talvez com mais propriedade, eu possa afirmar que há professores que ensinam a voar e há outros, felizmente cada vez menos, que trancam gaiolas nem sempre sequer douradas.

Quando eu era menina, frequentando o então ciclo preparatório, tive um professor que me aterrorizava. Sempre fui leitora, leitora quase compulsiva e, à época, aquele professor, alto, nariz adunco, dedos enormes, lembrava-me sempre o conto do barbeiro Mestre Finezas, do Manuel da Fonseca, sendo eu o infeliz Carlinhos de saias. Juro, sem exagero, que tinha pesadelos na véspera das aulas de matemática e que, mesmo que eu tivesse estudado, o que fazia com a mente presa no pavor, mal entrava na aula começava a tremer. Sem grande esforço, oiço ainda a voz nasalada, grave, daquele terrorista de almas que era o meu professor de matemática.

No mesmo ano, tive uma professora de francês que devia ser a personificação do sorriso, ou ter sido feita num dia de sol radioso, pois tinha açúcar na voz e embrulhava em seda as aprendizagens. Aprendi a cantar as conjugações, a1ª a 2ª e a 3ª, sabia dizer frases inteiras e lia os textos com prazer. Quando, à noite, por imposição da minha mãe, preparava os livros para o dia seguinte, era com muita alegre ansiedade que confirmava se teria francês.

O tempo passou, porque o tempo passa sempre ignorando ansiedades juvenis, e fui para o Liceu. Aí a matemática já não era o Mestre Finezas, era mesmo a tesoura do dito. Resolvi arrumar o assunto de vez e, com muito gosto, sempre que possível trocava a aula de números e equações por uma hora de namoro nas escadas do corro, ou uma boleima no Café Alentejano. Obviamente, os meus conhecimentos matemáticos limitam-se à vaga ideia de que havia umas equações com um X de valor duvidoso, e uns números de dois andares que se multiplicavam de forma complexa.

Hoje, professora também, partilhando o desejo de uma Escola efetivamente para todos, e por isso para cada um, procuro uma forma de ensinar a voar. De eliminar os sucedâneos do aterrador Mestre Finezas, de fazer proliferar os professores que deixam crescer os sorrisos.

Sim, recordo muita Escola e parafraseio a Drª Luísa Tavares Moreira: - Temos de ser capazes de fazer uma Escola para cada um!

sábado, 30 de janeiro de 2021

NEUTRO

 

Era um sofá moderno, cor neutra, como neutra é a realidade vintista, feita de achismos e indiferença, com parangonas a tentar, sem êxito, dar sentido ao vazio. Era pois neutro, o sofá. Comprido, convidativo e neutro. Há quanto estava ali o neutro? A quantas conversas, a quantas ousadias teria assistido, quantos rabos teria já acariciado? Ela tentava enxotar, qual mosca incómoda, os pensamentos sobre o neutro e sorria por dentro. Sim, pode sorrir-se por dentro, pensava, e pode brincar-se por dentro, mantendo aparência séria, cumprindo, pretensamente, o desempenho que a vida exigia. Porque estava ali?

Havia muitos anos que atravessava vida, somava perdas, perdia alegrias. Trazia na bagagem uma imensidão de desilusões e, quantas vezes?, de desistências  anunciadas. Mas seguia sempre.

Se lhe perguntassem se ainda acreditava na felicidade, garantiria que felicidade só conhecia a Dona, a que vendia as melhores hortaliças no mercado da sua cidade. Talvez, dizia, a existência fosse mesmo isto, uma operação de deve e haver, de débito e crédito, numa contabilidade complexa. Estava ali. E, incapaz de sacudir pensares e sentires, esforçava-se por ignorá-los. Estava ali, era livre, e não queria ser neutra. Não.

Queria, como o poeta, sentir tudo de todas as maneiras e, não desejando ir na vida como um automóvel último modelo, não queria ficar, à margem do rio, vendo a água passar.

Ele abraçou-a e sentaram-se. Um Porto? Preferiu um Gin. Há momentos, na vida, em que as bebidas doces pecam por excessiva inocência. Muito limão, pediu.

Dois copos gordos, redondos mesmo, deixavam dançar a casca do fruto amargo.

Dançamos? E o abraço surgiu total, absoluto, fazendo com que as almas acertassem no ritmo dos pés deslizantes. Bésa-me, bésa-me mucho, pedia Bocceli. E ela sorria, porque ris?, pensando que não precisava do pedido. Sentia o corpo forte, viril, a segurar o seu e deixava-se ir. Não pensava nada, sentia só. 

O Gin esperava, a quentura do abraço ritmada fazia-a recuperar a praia, as ondas do mar imenso, a intensidade do por do sol, a incessante busca, sem êxito, do ponto verde. Bocceli continuava e, agora, os dois eram uma clave.

O sofá era neutro. Só ele era neutro.

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

CUCO

 O meu cuco veio da Alemanha. Veio embrulhado por partes, com mil cuidados, e, durante muito tempo, assim permaneceu. Não encontrava um lugar certo, perfeito, para ele. Acontece-me isto muitas vezes, pensar que as coisas fazem sentido no lugar onde pertencem, achando-as deslocadas quando tento realojá-las. Com o cuco, foi assim.

Depois, numa das muitas voltas da minha vida, surgiu uma parede que pedia algo. O cuco, pensei! E lá o coloquei, pêndulo e acessórios, na parede da sala. 

O cuco, talvez zangado por tanto tempo de abandono, não funcionava, e foi o querido Senhor Elói, tantas saudades, que com muito engenho e paciência lhe devolveu a vida. E o  cuco foi-se impondo. Indiferente a alguns protestos, oh mãe o cuco faz imenso barulho de noite, oh avó faz lá o cuco sair, ele foi cumprindo o seu papel. Certinho, fazendo jus às origens alemãs, vinha cá fora anunciar as horas, as meias-horas também.

Eu habituei-me à companhia do cuco. Afinal, já me habituei a coisas bem piores.

Ora, há uns dias, o meu cuco resolveu atrasar o tempo, arrastar as horas, encompridar os minutos. Começa certinho e, aos poucos, vai preguiçando, preguiçando, de tal modo que, ao fim da noite, já ganhou meia hora ao dia! Como, infelizmente, já não posso pedir ajuda ao Senhor Elói, tenho andado a pensar como resolver este atraso do meu cuco. 
Hoje, acordei com uma ideia: - Não vou acertar o cuco, vou aderir a este arrastamento voluntário do tempo, a ver se ganho mais paz e tranquilidade na minha existência de não cuca!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

INSULTOS?

 

A agitação começava de véspera. Era preciso verificar se havia cartuchos, preparar as armas, pensar na merenda, ensebar as botas, preparar as cartucheiras. Depois, noite ainda, os homens tomavam um pequeno-almoço e saiam.

Era dia de caça. O ar ganhava uma cor diferente, o entusiasmo do meu irmão era contagiante e o meu pai, sempre péssimo a cumprir horários, ouvia-o a reclamar. Eles saiam e, muitas vezes, eu, ainda na cama, ficava a imaginá-los nos campos, atrás das perdizes e das lebres, camuflados pelo nevoeiro da manhã, silenciando os passos nos terrenos amolecidos, caminhando num mundo tão natural, tão autêntico, tão, até, inicial.

Ficavam fora todo o dia e, ao anoitecer, voltavam com os cães de língua de fora, cartucheiras vazias, peças que dariam refeições bem boas, e muitas histórias para contar. Falavam de marouços, de batedores e de aguardos, de grades e falhanços. Eu ouvia-os e, sendo como sou feita de silêncios, imaginava as vivências da caça, espantava-me com o carinho e a emoção dos relatos. Li Torga, guardei para mim passagens inteiras do Conto O Caçador, que ainda hoje sei de cor, e fui ganhando, talvez por herança ou educação, uma paixão enorme pela caça.

Hoje, não tendo meu Pai, vejo a euforia da caça nas vivências dos meus sobrinhos, do meu irmão sempre, e continuo a encantar-me a emocionar-me. Às vezes, tenho saudades de ouvir um tiro de uma espingarda de dois canos. A caça é, para mim, como para Torga, um desporto de harmonia entre o homem e a natureza, um reencontro com a Natureza primordial.

Com onze anos, comecei a montar a cavalo. Como eu me sentia realizada, feliz e plena, quando, em Monforte, cavalgava as férias. Aprendi, ali, a força da amizade, o respeito pelos animais, as regras de convivência entre homens e bichos. Nunca me ensinaram a maltratar, a falhar, a desleixar-me, fosse com a montada, fosse comigo.

Hoje, com tantas perdas acumuladas, penso sempre que esses foram os meus tempos de verdadeira felicidade.

Com o meu pai, fui muitas vezes a touradas e gostava muitíssimo! Conheci gente ligada aos toiros, só gente muito boa, conheci quem gostasse de cavalos, touradas, caça, e nunca, neste ambiente, encontrei ódio, maldade ou crueldade. Bem pelo contrário! Gente pura, autêntica, que valoriza a Terra, a amizade, a essência das coisas.

Hoje, depois dos resultados eleitorais, alguém me dizia que quem votou em AV é gente da caça e das touradas! Como é preconceituoso, ignorante e cruel este comentário. Como se pode acusar Torga de cruel?

O meu Pai era médico, excelente pessoa, amigo do seu amigo, humanista, sempre disponível a ajudar o próximo e gostava de caça e de touradas. Eu não sou ignorante, leio, oiço, vejo, penso, e gosto de poesia, da caça e das touradas. Como pode haver quem queira proibir tudo, quem condene os que ousam pensar ou sentir diferente? Quem se julgam aqueles que me chamam ignorante e cruel? Que direito tem alguma esquerda pseudointelectual de me apelidar de selvagem e bronca??

Não, quem votou AV não o fez por gostar de caçadas e de touradas.

Fê-lo por estar descrente deste país que não permite o sonho, que condena a autenticidade, que quer cidadãos formatados a um modelo de sociedade cheio de vazio. Fê-lo por se sentir violentado no que é a sua essência. Fê-lo por não querer mais pactuar com uma classe política balofa de aparência, sem um projeto sério para o país. Fê-lo porque tem medo, como eu tenho, de um dia acordar e já não poder ser eu!

PREOCUPAÇÃO

 Dormi mal, preocupada e triste com o rumo que o meu país leva. Não, não tenho vergonha, nem estou zangada, com o meu distrito, ou com o meu Alentejo. Este é o meu chão, conheço as pessoas, orgulho-me muito de fazer parte desta comunidade onde o sol encomprida as tarde e majestosos sobreiros ponteiam os campos. Somos gente boa!

O que me entristece, profundamente, é o que, a meus olhos, parece cegueira coletiva.
Porque é que Ventura colhe tantos votos por aqui? Porque nós, alentejanos, estamos cansados de ser ignorados, porque sentimos que o 25 de Abril nos esqueceu, porque o envelhecimento cresce, porque não há trabalho, porque nem sequer temos representação, digna do nome, na Assembleia da Republica.
O Alentejo indignado deu um grito de revolta. E eu, que não votei e nunca votaria AV, compreendo.
Não acredito, sinceramente, que esta votação signifique algo mais do que revolta e mágoa.
Vergonha tenho, e muita, quando penso que apenas cerca de 1/4 dos portugueses votou em Marcelo, como eu fiz. Vergonha porque a abstenção, que os comentadores dizem ser de "apenas" 60%, denuncia um povo desinteressado, sem consciência cívica, sem interesse por aquilo que a todos diz respeito.
Eu era miúda quando aconteceu o 25 de Abril, não tenho memórias reais da ditadura, mas aprendi, na literatura e na vida, que a Liberdade é um Valor essencial. E ser Livre é votar, é pensar no quotidiano de todos, é escolher em consciência.

Penso, sincera e tristemente, que estas eleições presidenciais deviam obrigar os atores políticos a, se fossem capazes, repensarem o seu desempenho. Portugal merece bem melhor!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

INDECISÃO

 Vão fechar as escolas, passaremos ao regime não presencial. Não! As escolas vão continuar abertas, o governo não deixa fechar. Afinal, vão fechar, há já muitas turmas em casa. Não, parece que é para continuar abertos. Vai mesmo fechar, Campo Maior e Monforte já estão em regime de aprendizagem à distância. Não! Parece que não têm autonomia para tomar essa decisão, afinal parece que abrem as escolas mas os alunos não vão...

É mais ou menos assim que jovens, professores e famílias, estão a viver cada dia, cada hora. 

Instabilidade, angústia, a associar-se aos problemas de saúde, ao desemprego, à ansiedade que marca o quotidiano de cada um de nós. 

Neste momento, e depois de ter já defendido que as escolas deviam, até Março, encerrar portas e desenvolver aprendizagens à distância, já só queria que houvesse uma decisão a sério, que pudesse adormecer e acordar sabendo com o que, pelo menos profissionalmente, conto. Sinto que vivemos à deriva, que não há ninguém ao leme do navio chamado Portugal, nesta terrível tempestade que atravessamos. 

Como dizia Fernando Pessoa

"(...) tudo é incerto e derradeiro

Tudo é disperso, nada é inteiro.

Ó Portugal, hoje és nevoeiro".

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

INCOERÊNCIA

 Trago os ouvidos cheios de morte, de sofrimento e dor. Trago a alma encolhida, de medo, desconfiança e tristeza. 

Os números de infectados e mortes não páram de crescer, e as medidas anunciadas parecem-me claramente deficientes e desajustadas. 

É no salão de cabeleireiro, que funciona por marcação, uma ou duas pessoas em simultâneo, máscaras e higienização, que os contágios acontecem? É no comércio local, com porta para a rua, onde entra um cliente de cada vez, com máscara e higienização, que nos contaminamos? É nos restaurantes, onde a higiene é rigorosa e o distanciamento praticado, que tudo se complica? 

E não há risco nas escolas, onde trinta a trinta e duas pessoas convivem sem distanciamento? Não são um perigo os transportes públicos, onde partilham espaço cem pessoas ou mais? E não há contágio à porta das escolas, onde se aglomeram dezenas de pais que vão levar e buscar as crianças?

Claro que não sou especialista, mas penso, e basta pensar para compreender as incoerências deste confinamento assim-assim. Dizem que noutros países também há confinamento, e é verdade. Mas confinamento: - Escolas a funcionar à distância, TODA a gente em casa. Aqui, no meu país que adoro, é sempre um remendo, uma coisa assim-assim, mais ou menos, que não prejudique os maiores, mas sufoque os mais pequenos. Quanta injustiça!

Sou professora e prefiro as aulas presenciais. Gosto de olhar os meus alunos ao vivo, gosto de poder estar junto deles. Mas, neste momento, e com tantas ferramentas para apoiar o trabalho à distância, não compreendo porque não se fecham as escolas.

Enfim, resta-me fazer a minha parte, cumprir o que posso e como posso, e rezar. Rezar muito!

domingo, 10 de janeiro de 2021

HIGIENE DA ALMA?

Aproveitando o domingo, com tempo para mim, vesti um casaco forte e fui caminhar. O telemóvel avisou que estariam entre zero e cinco graus, mas eu, que gosto de frio, não liguei nenhuma. De luvas e cachecol, botas e casaco, fiz-me ao caminho. São passos que dou com gosto, no chão a que chamo meu, olhando, e surpreendendo-me sempre, com a beleza do espaço, a curiosidade dos cães, a agilidade dos rebanhos de cabras com que me cruzo. 
Caminho pensando. Em quê? Em tudo, e em nada. Embaraço o pensar no sentir, e deixo-me levar por aí.
Quando regressei, quinze mil passos e quase duas horas depois, acendi a lareira e, sem porquê, chorei.

Dizem que chorar faz bem, que lava a alma. Mas, talvez porque a minha alma não esteja suja, hoje não me fez bem e vestiu-me de funda tristeza. 
Eu, que sempre disse que não quero ser animal de companhia, às vezes sinto que me sobra solidão.



 

INSULTO?

Tenho, em relação à política, uma mistura de pensares. Racionalmente, compreendo que é impossível vivermos em sociedade sem ação política, sem organização e ordem. Compreendo que devemos lutar pelo modelo de sociedade que preferimos e que, se queremos mesmo uma sociedade melhor e diferente, não podemos alhear-nos do quotidiano social e político. 

Emocionalmente, a maior parte das vezes acho que os políticos, todos de uma forma geral e os portugueses da forma particular, não são verdadeiros, não são competentes e só prejudicam. 

Neste confronto entre pensar e sentir, obrigo-me a impor a razão. E, porque, como dizia Sophia de Mello Breyner "Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar", eu não ignoro e faço escolhas, envolvo-me, participo. 

Sempre fui Humanista e, por isso mesmo, sempre me posicionei, no espectro político, na área da Direita social. Para mim, cada Pessoa é o primeiro valor. 

Assim, movida por ideais de cidadania liberal, humanista, faço opções e participo, como posso (e como me deixam), na vida da comunidade.

Ora, ontem à noite, alguém de quem MUITO gosto, o meu irmão muito querido, por eu ter dito que votarei em Marcelo Rebelo de Sousa para a Presidência da República, chamou-me "intelectual de esquerda"! Foi, para mim, mais ofensivo do que se me tivesse chamado um palavrão vernáculo. Em primeiro lugar, porque não quero ser intelectual, em segundo porque abomino a esquerda.

Para mim, as esquerdas, todas, não se libertaram, nem libertarão,  das amarras estalinistas que eu repudio! As esquerdas perseguem a individualidade, combatem o direito à iniciativa privada, são, para mim, abjeções sociais. Não! Eu NÃO SOU de esquerda. 

E sim, vou votar Marcelo. Porque o meu país não é uma brincadeira, porque só Marcelo tem cultura e educação, porque só ele (errando com certeza muitas vezes) sabe o  que é uma sociedade humanista. Votar em Ana Gomes é apoiar uma esquerda que já mostrou do que é capaz, votar Ventura é abrir a porta à falta de liberdade, votar Marisa é ser pretensioso e vazio de projeto, e votar em qualquer um dos outros candidatos é brincar com coisas tão sérias como o dia-a-dia de cada um dos portugueses.

Doeu-me a ofensa. Mas sigo firme nas minhas convicções e sim, vou votar em Marcelo!


quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

PRIVILÉGIOS

 Eu penso que sou uma privilegiada dos afectos. Tive uns pais que privilegiaram os Valores e a educação, tenho duas filhas que são um privilégio de ternura e carinho, e sou professora. 

Sim, ser professora é uma profissão quase sempre cheia de privilégios. E não é o vencimento (curto e ofensivo), as condições de trabalho (absurdas), as chefias (ridículas muitas vezes), que tornam especial esta profissão. Não, o que faz com que o professor seja um ser privilegiado, é a possibilidade de criar laços com gente jovem e de ajudar a construir futuros. É a possibilidade de inscrever no coração olhares que fazem sentido.

Hoje, com a máscara quase a esconder os olhos lindos que tem, a Sofia chegou com um presente para mim. Quando lhe disse que o melhor presente é poder estar com ela umas horas na semana, quase se desculpou pelo que trazia, dizendo: - Foi por ser Natal! 

A Sofia trouxe-me uma caixa com bolachinhas, deliciosas (já comi uma dúzia) feitas por ela. 

Eu não tenho forma de agradecer suficientemente a todos os alunos, e ex-alunos, que adoçaram e adoçam a minha existência. São tantos!! Mas, mesmo em silêncio, agradeço o privilégio de ser professora e a capacidade que tenho de amar os meus alunos (quase todos)!


quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Dia de Reis

Hoje, é Dia de Reis. Gosto desta metáfora da descoberta de Jesus. Gosto, também, da tradição da romã, do bolo rei, do desmanchar do Presépio. Contudo, este ano resolvi deixar a sagrada Família do Presépio numa estante o ano todo. Para me lembrar que, como fizeram os Reis Magos, depois de descobrir Jesus há que escolher novos caminhos!