domingo, 30 de setembro de 2018

A CEREJEIRA

Foi-me dado com uma certeza, vais gostar. E tu vais ler num instante. Não me vai fazer chorar, perguntei já afagando a capa, segura da minha sensibilidade exacerbada. Não, vais ver que não. Era uma certeza quase perfeita mas que, afinal, ficou pelo caminho das certezas alheias... 
Verdade que gostei, muitíssimo. Mentira que não choraria.
A distância entre mim e a cerejeira, de Paola Peretti, amarfanhou os meus sentires, deixou-me com um buraco cinzento na alma mas preencheu a minha tarde de domingo. É a ingenuidade sensível de uma criança, o tecido - tão frágil - entre a vida e a morte, o lugar único que o sonho, o faz-de-conta, conseguem preencher. 
Com a Mafalda sorri, tremi por ela, chorei e desencantei, no fundo do meu eu, num ontem que não soube trazer roubado na algibeira, um vício que julgava perdido: - A mania de construir um mundo onde a ternura das coisas, porque inventada, substitui a falta de carinho das gentes mais próximas.
Sim, tenho os olhos a arder e dói-me a cabeça. Mas sim, gostei imenso deste livro!

terça-feira, 25 de setembro de 2018

SEXO

Desde sempre, tão há tanto tempo que não tem tempo, o sexo faz parte integrante da essência humana. Os gregos, por exemplo, acreditavam que homem e mulher eram um só e, porque separados indevida e violentamente, pela eternidade cada um procurava sempre a sua cara metade. 
Em Portugal, as primeiras manifestações literárias, mesmo orais, traziam o amor, a atracção e o desejo, para os salões da corte, para as romarias e vida social. 
No séc.XVI, Camões, como poucos, cantou o desejo, o sofrimento físico, tumultuoso, a necessidade do toque e da fusão. Seria Garrett quem, no séc.XIX, daria voz, com uma intensidade incrível, à distinção entre o amor e o desejo físico, "Não te amo, Quero-te!" 
O século XX, com a centralidade do intelectual e do para-físico, não ignorou o sexo. O próprio Pessoa garantia o ridículo de algo que não controlava, transfigurando a sua essência através da força avassaladora de uma sexualidade que o perturbava.
Pois é, o sexo é natural, "tão natural como a sede", e, por isso, não faz, para mim, sentido algum torná-lo num tema abjecto, numa forma de doença, ou num crime! 
É por tudo isto que eu defendo que a educação para a sexualidade deve ser desenvolvida de forma humanizada, integrada e não centrada na dimensão físiológica!
Ultimamente, a sexualidade parece ser apenas uma forma de violência, ou uma perigosa e doentia forma de transmitir doenças...
E eu tenho pena. Tenho mesmo! Porque eu, que sou mulher, gosto muito da energia e força que a vivência da sexualidade me oferece! E temo, muito a sério, que corramos o risco e amputar os nossos jovens da vivência feliz desta dimensão da humanidade!

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

ACASOS?

Tenho acompanhado com muita angústia o drama da Venezuela. Não tenho amigos lá, não conheço os portugueses que lá moram, mas indigna-me, revolta-me, angustia-me, choca-me, o facto de ser mais um país (há já tantos) onde as arbitrariedades e o desrespeito pela individualidade e dignidade humanas são práticas correntes. Dizem-me que Nicólas Maduro é um louco, mas essa desculpa fica-me curta. Podem os loucos, ou os que fingem sê-lo, governar a seu bel-prazer? Dizem-me que o Trump também é louco, eu acredito, mas isso é razão para aceitarmos todas as barbaridades que diz e faz? Em relação a Trump, figura odiosa e perigosa, os Media falam. Denunciam, provocam reacção, exageram até. E fazem muito bem!!
Em relação a Maduro não tanto. Porquê? Porque é de esquerda! Porque, à sombra de ideais igualitários, que o não são, pode tudo! Se fosse de direita, ou um democrata de verdade, ninguém calaria os Jerónimos e as Catarinas mas, como é da linha deles, todos se calam! É este o ideal de democracia que defendemos? Eu não!
Na Venezuela há fome, há perseguições, há crianças a prostituir-se, e o mundo permanece silencioso. Mesmo a situação dos refugiados no Brasil foi calada. Porquê??  Onde está a ONU? Onde estão os verdadeiros humanistas e democratas com força no mundo??
Agora, com portugueses presos, o nosso Presidente diz que é preciso muito cuidado e bom-senso. Mas, acho eu, não é com afectos, ou não é só com afectos, que uma situação destas se resolve. Como podemos continuar indiferentes a este horror??

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

A ESCOLA

Daqui a um bocadinho, as crianças, jovens e muitos adultos portugueses vão voltar à escola. Com certeza, há hoje insónias, ansiedades várias, esperanças, promessas de desalento já. Como professora, o ano novo para mim começa agora e não no dia 1 de janeiro e, por isso, este é o tempo de fazer os meus projetos.
Acredito, mesmo, na Escola pública em Portugal. Conheço-a por dentro há 35 anos e sei que tem evoluído, que se tem feito de muita melhoria. No etanto, e porque a vida é mesmo assim, sei também que há muito para fazer... Sem dúvida, os Decretos-lei nºs 54 e 55 vieram facilitar à Escola a efetivação da transformação de práticas mas vieram também, simultaneamente, exigir um novo paradig educativo que, naturalmente, não é ainda assumido nem desejado por todos. Como o secretário de estado da educação não se cansa de dizer, "a autonomia não é um decreto. É um processo" Mas, apetece-me a mim acrescentar, por ser processo tem de se socorrer do gerúndio e não pode ficar apenas na Lei. Este é o ano de ir fazendo: - Ir modificando a sala de aula, desenvolvendo estratégias que permitam a cada aluno desenvolver as competências enunciadas no documento perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória, ao seu ritmo; ir compreendendo que NEE significa apenas Nova Era na Educação e, por isso, não é mais necessário sinalizar, referenciar, cadastrar alunos; ir transformando os critérios de educação em suportes (andaimes) para a aprendizagem, e não como seriadores de pessoas; ir transformando cada escola num lugar onde há redes que suportam o sucesso de cada um! 
Este ano, é o ano da transformação mais profunda. A transformação que nunca aconteceu porque nunca, como agora, foi dito a acada escola que, no respeito pela sua identidade, construa o seu processo de sucesso.
Este ano, eu tenho mais orgulho ainda em ser professora! 

domingo, 16 de setembro de 2018

Pequenos Vícios

Era uma mania, quase vício, aquela de chegar a casa, tirar os sapatos e vestir uma camisa dele. Ficava com o rabo quase de fora, enrolava as mangas e gostava de cirandar, arrumando, cozinhando, no tempo da dita sempre com um copo de gelo e sumo de melancia. Ele desistira de reclamar. Aquela camisa era mesmo a que gostava de vestir em momentos marcantes, a outra a mais confortável, mas ela ria-se sempre prometendo não sujar. Se ele insistisse no protesto, a resposta saía certeira:- Se sujar, eu lavo! 
E pronto, como explicar-lhe que, muitas vezes, sentia o perfume dela a desinquietá-lo no trabalho, a provocar-lhe saudades durante o dia? Depois, havia aquela outra mania, dela também, de deixar os botões de cima por abotoar para lhe atiçar o desejo. 
Pensava tudo na desordem das emoções enquanto reparava no espaço que sobrava agora no roupeiro, nas camisas friamente passadas e penduradas, na ausência dos sapatos deixados no hall que o faziam tropeçar. Sim, eram tudo pequenos pormenores que faziam enorme a vida dos dois. Agora, tudo sobrava na arrumação da vida inexistente. 
Porque ela não estava mais. Porque, indecentemente, a vida decidira mostrar-lhe que nada é para sempre. Nem os pequenos vícios, nem o rabo um bocadinho à mostra...

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

AS TIAS

Beijinhos é mesmo coisa de tia, envia beijos - Sorri para mim mesma. Eu, que detesto a vida formatada, normalizada, estigmatizada, nunca tinha pensado que beijinhos fosse coisa de tia. 
De tia de Cascais, suponho, pois no contexto não poderia tratar-se de tia de doces e amados sobrinhos como os meus. Contra a minha vontade, e indiferente à minha necessidade de mente-vazia-em paz, a frase voltou à minha cabeça. E deu-me para pensar que eu até gosto das tias, se elas só disserem beijinhos. Porque beijinhos são coisas boas, doces, alguns de fazer cócegas em lugares indizíveis...
Depois, eu que não gosto de formatações, reconheço que também tenho os meus quase preconceitos e, por isso, frequentemente digo que determinado comportamento, ou determinada forma de falar, como portugueses e portuguesas no início de um discurso, são coisas de esquerdosos...
Pois é, mesmo que eu proteste, há mesmo algumas formatações às quais ninguém escapa e, sinceramente, eu prefiro ser tia (de Portalegre ou Cascais) do que esquerdosa revolucionária. Hoje, estou assim para começar o dia! 

NÃO TEM GRAÇA NENHUMA

Envelhecer, não tem graça nenhuma. Não é verdade que nos dê mais calma (a mim não deu) , não é verdade que aprendamos a lidar melhor com a estupidez e má-língua (eu não aprendi), não é verdade que convivamos melhor com o nosso corpo (eu não convivo nada bem), não é verdade que tenhamos um repositório de memórias que doiram cada amanhecer (o meu ENORME repositório só provoca mais saudades). Envelhecer é mesmo um processo, excessivamente acelerado, para um fim que ninguém, no seu perfeito juízo, deseja. Simultaneamente, o envelhecimento é inevitável e, assim, conscientes de que é uma traição que o Tempo nos faz, temos de saber viver com ele.
Quando eu fiz 30 anos, achava-me jovem, quando fiz 40, ainda me achava jovem, quando fiz 50, percebi que, afinal, já não era jovem... 
Agora, olho-me cansada de viagens, vejo-me a inventar desculpas para não sair do meu cantinho à noite, dou comigo a atirar com os sapatos mal chego a casa, digo orgulhar-me dos meus cabelos brancos (fraca verdade), reparo na imensidão de memórias que guardo no meu Diário e sei que aconteceu: - Estou a ficar velha! E é tramado envelhecer! Porque mesmo descalça ainda me apetece o abraço ousado, mesmo desiludida ainda me apetece lutar pelo sonho de uma Escola melhor, mesmo com cabelos brancos ainda gosto de ir ao cabeleireiro, mesmo sabendo que não faz bem ainda gosto de jantares a dois com conversa fácil.
Pois é. Envelhecer não tem graça nenhuma!

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

VOOS

Muitas vezes penso, ou sinto?, que a Escola precisa deixar voar os alunos, dar-lhes a possibilidade de esticarem as asas e ganharem novos horizontes. Penso, há muito, que ainda temos muito que fazer, em Portugal, para deixar a escola elitista, que exclui e separa, para construirmos a escola democrática que inclui, promove o saber e funciona, de facto, como elevador social.
E eu sou defensora das elites! Eu defendo a necessidade de se formarem elites capazes de ajudar a orientar as sociedades! Mas, para mim, as elites não se formam por determinismo de berço, ou social, e sim por competência. Não compreendo, e custa-me muito aceitar, que ainda haja quem defenda que se devem separar os alunos de acordo com o que, arbitrariamente, se classifica como "inteligentes" e "burros"...
Eu gosto tanto da Escola! Gosto da alegria dos miúdos, do ruído dos jovens, do cheiro das salas, do trânsito congestionado nos corredores durante os intervalos. Por isso, eu acredito que a Escola é a organização que, na sociedade actual, pode fazer a diferença na construção de um mundo diferente.
Ah, como eu quero um mundo diferente... Como eu quero que os voos nos levem a paisagens de paz!

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

FILHAS ADULTAS

Quando os filhos crescem fica-nos, a mim fica, uma saudade imensa. Saudades da dependência, dos tempos em que os maiores problemas eram uma diarreia ou uma gripe, no máximo umas comichões com borbulhinhas. Mas ser mãe de filhas adultas, tem coisas muito boas! 
Eu adoro ser mãe de mulheres adultas. Gosto da liberdade que conversar com elas me confere, de podermos conversar sobre tudo, sem problemas de provocar insónias ou não serem temas apropriados. 
As minhas meninas pequeninas transformaram-se em jovens mulheres que eu admiro. É verdade que ainda me dói a falta do cheirinho de bebés, mas mais verdade é que me sabe muito bem o tempo de qualidade em que, numa esplanada, em casa ao serão, ou até de volta dos tachos, falamos de coisas de vida, de essência de ser. 
Gosto que as minhas filhas gostem de mim. Sim, não é disparate. Embora haja quem pense que os filhos gostarem dos pais é um dado adquirido, eu não concordo. Porque crescer, ganhar identidade própria, às vezes danifica as relações de proximidade e, para mim, ser da família não significa ser-se gostado! Eu tenho sorte, porque as minhas filhas mulheres gostam de mim e, como é importante!; riem-se comigo e na minha companhia.
Hoje, com muita conversa calada a pedir liberdade, o que eu queria mesmo era ir jantar com as minhas filhas-mulheres!

domingo, 9 de setembro de 2018

DOMINGO

Tenho com os domingos uma relação estranha. Indefinível. Gosto da ideia que o tempo é meu. Como nunca fui de me levantar tarde, gosto de saltar da cama bem cedo e ficar a jiboiar por casa, com o café ao lado, sem urgências exteriores. Gosto, ainda, de poder nunca cumprir todas as tarefas que deixei para este dia... 
Por outro lado, o domingo termina sempre com uma sensação dolorosa de inutilidade e repetição. Porque é já véspera de segunda-feira, porque afinal tudo ficou igual e porque, ainda por cima, acabou num instante...
Hoje, com a perfeita consciência de que o domingo tem de ser especial, fiz uma caminhada na minha Serra. Esbarrei com o Outono a querer nascer, sofri com o calor ainda excessivo e achei que a existência possível me fica cada vez mais curta. 
Agora, com a segunda-feira a nascer, compreendo que falhei de novo no sentido do domingo...

sábado, 8 de setembro de 2018

FAZER A DIFERENÇA

Eu não gosto muito (NADA) de desporto. Não gosto de corridas, a pé ou de bicicleta, nunca vi um jogo de futebol do princípio ao fim e, quando há Jogos Olímpicos, só vejo a abertura... Ainda por cima, eu não gosto nada de ser obrigada seja ao que for, e gostar de desporto, ter uma t-shirt brilhante e usar ténis, parece estar a tornar-se obrigatório! Tudo o que me é imposto, sem que me seja dada hipótese de escolha, irrita-me e enerva-me. 
Ora, confessado este meu estado de não-desportista-militante, facilmente se adivinha como me sinto violentada quando esbarro com desporto no meio das ruas e me vejo obrigada a assistir à passagem de gente suada, ou a chegar a casa horas depois do desejado. Mais revoltada fico ainda, quando encontro os agentes de autoridade, como há bem pouco tempo me aconteceu em Portalegre, a soprarem impropérios nos apitos estridentes impedindo, sem oferta de alternativas, que eu faça a minha vida como cidadã relativamente livre.
E vem este desabafo, agora, precisamente para me contradizer! 
Pela primeira vez na minha longa vida, esbarrei com elementos da GNR de uma simpatia, educação e profissionalismo incríveis! 
Tive de ir a Castelo de Vide e, logo no primeiro cruzamento, um jovem militar, com um sorriso e pedindo desculpa, indicou-me um percurso alternativo. Questionado sobre se eu teria possibilidade de chegar ao destino, para deixar a minha mãe de 90 anos, a resposta surpreendeu-me: - Com certeza! se tem de ir, vai. Tem é de ter paciência, mas diga aos meus colegas onde vai que eles hão-de ajudá-la. Assim fiz, três vezes. Todos, TODOS, foram correctos, educados, simpáticos e eficientes. 
Dei uma volta muito mais longa do que é habitual, mas pude chegar onde queria e ninguém me gritou ou ameaçou. Desta vez, não senti o peso da ditadura dos desportistas e pensei, juro, que poderia estar num país desenvolvido. Obrigada à GNR de Castelo de Vide. Obrigada aos jovens militares que conseguiram que a minha tarde não ficasse estragada, com a mais valia de não ter visto um único desportista!!!

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

SETEMBRO

Gosto do mês de Setembro. Gosto das manhãs envoltas em algodão, do fresco de fim de tarde, dos dias a minguar, do cheiro dos livros a voltar à escola. Gosto dos sabores de Setembro, das uvas, da marmelada a secar na varanda, das compotas que sujam o fogão e, depois, enchem de cor as prateleiras da despensa. Setembro traz-me, sempre, Itália. A magia da Toscânia, as mil desilusões que resultaram, de certeza, de luas de mel em Veneza, as caminhadas em Florença, os amarelos de Siena. Setembro devia ter uma chuvinha isolada todos os dias. Só para haver um pretexto para o abraço dado ainda com o avental sujo e os lábios doces da geleia acabada de provar...
Quando eu for feliz, escolherei como mês de eleição o Setembro da minha imaginação!

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

LÂMPADAS FUNDIDAS

"Dizem que a vida é como os interruptores, umas vezes para cima, outras para baixo. Mas ninguém fala das lâmpadas fundidas". É mais ou menos assim que diz uma dedicatória que um amigo escreveu numa fotografia. Tenho a fotografia no meu lugar de trabalho, olho as teias de aranha em torno dos interruptores e penso que, de facto, há muitas lâmpadas fundidas que ninguém substitui. Ou seja porque ninguém repara que estão fundidas, ou seja porque, às vezes, a escuridão convém...
Fundidas parecem estar as lâmpadas da verdade, as que fazem com que a transparência do quotidiano tenha brilho; fundidas estão as lâmpadas do amor verdadeiro, daquele que faz romper com tudo, mandar às urtigas as normas sociais, e partir para um abraço longo e verdadeiro. Obviamente, sei bem que o amor não é eterno, mas sei, também, que vale pela intensidade e não pela longevidade.
Às vezes, apetecia-me ser capaz de substituir muitas lâmpadas excessivamente fundidas!

terça-feira, 4 de setembro de 2018

RECEITAS

Uma das coisas que me distraem é cozinhar. Gosto de olhar as receitas, de as alterar um bocadinho e de me surpreender, ou encantar, com os resultados. Como vivo sozinha, já me tem acontecido cozinhar para congelar, só para estar distraída e ocupar a minha cabeça com coisas saborosas...
Hoje, deu-me para pensar que deve ser a minha incapacidade de seguir receitas à risca que me complica a existência. É que toda a gente, ou quase, me dá receitas de vida e as ditas nunca funcionam! Vejamos:
- Não dar atenção a pessoas que carregam o mal com elas: - Como, se elas insistem em falar comigo, se fazem parte do quotidiano, se me entram no computador, no telemóvel e no serviço sem pedir licença?
- Valorizar os pequenos momentos de felicidade: - Faço-o! Mas são cada vez menos, e mais pequenos...
- Ignorar a  estupidez: - Como, se ela pulula por aí, em forma de governantes, deputados, dirigentes, e outros?
- Ignorar as injustiças: - Mas elas são constantes e, se as ignorar, como posso combatê-las?
- Não fazer planos:- Como sobreviver ao hoje, sem a ilusão de um amanhã diferente?
Pois é, decididamente, seguir receitas não dá mesmo sabor à vida. Pelo menos, à minha...

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

REGRESSO


Este ano voltar às aulas não devia ter re. Não devia ser uma repetição de rotinas, não devia ser mais do mesmo, não devia iniciar-se com os professores a lamentarem o malfadado 942. Este ano, devia ser o ano da transformação, do fazer diferente.
2018/19 é um ano que pode ser marcante, decisivo mesmo, na construção de uma Escola diferente, mais equitativa, mais fazedora de gente feliz.
Não, eu não gosto do PS. Não gosto deste governo, não confio na maioria dos nossos dirigentes. Mas eu confio no projeto para a educação, porque eu sei – cum saber de experiência feito – que a Escola que temos não serve o mundo de hoje, não promove sucesso e não contribui para minimizar as graves (e tristes) injustiças sociais deste país que é o meu.
Este ano, cada escola vai poder olhar-se e reorganizar-se. É o tempo em que NEE deixará de significar Necessidades Educativas Especiais para significar Nova Era na Educação. Porque todos, e cada um, temos necessidade específicas de aprendizagem!  
É o tempo de criar aulas dinâmicas, de colocar a tónica na aprendizagem!
Este ano, os alunos vão ter oportunidade – espero eu… - de aplicar os conhecimentos teóricos em tarefas práticas (estão aí os DAC), de construir sentidos para o tempo (tanto) que passam na escola, que gastam na sala de aula.
Acredito que os novos diplomas legais abrem uma porta enorme! Uma porta por onde, para além do sonho, pode entrar a transformação de práticas.
Sei, claro!, que nem tudo é perfeito. Os professores foram colocados tardiamente, há um forte desconhecimento do que os documentos legais preconizam, há uma profunda resistência à mudança, há a nacional máxima pessimista de que nada é possível e vai ficar tudo na mesma…  Mas eu quero acreditar que em cada escola, em cada agrupamento, haverá um núcleo de professores que acredita, que quer uma Escola nova e feita de sucessos e de pessoas.
Talvez eu venha a desiludir-me, como tantas outras vezes, mas farei TUDO o que puder para que a transformação seja visível e generalizada!

Memórias

Foi já há 45 anos que a minha irmã morreu. Era jovem, amava a vida, tinha um namorado, tinha sonhos, enchia a casa de boa disposição. A minha irmã adoeceu e morreu. Lembro esse tempo com a nitidez do hoje.
A morte da minha irmã marcou todos. Os meus pais, que nunca mais foram os mesmos, eu e o meu irmão, que sentiamos, até no silêncio, a ausência dela. Agora, 45 anos depois, certa da purificação de factos que o Tempo sempre faz, penso que tudo teria sido diferente se ela não tivesse partido...Às vezes, penso no que ela diria em determinados momentos. Hoje, como naquela altura com 13 anos, penso que podia ter sido eu. Todos teriamos sofrido menos!