sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

NATAL

 Já vivi 62 Natais. 

Não me lembro dos primeiros, acredito que estivesse quente, amada e alimentada. Mas lembro-me de muitos, imensos Natais. 

Como católica, o Natal é, para mim, uma época mesmo especial. Acredito na ideia da Renovação e gosto, mesmo muito, da possibilidade de metamorfose que se me oferece, que quase me é imposta. Queria poder voltar ao passado, ao tal que me esqueci de trazer roubado na algibeira, como o Poeta, mas, porque é impossível, resta-me a vontade de viver plenamente o presente.

Já aprendi, a vida ensinou-me, que não se morre de tristeza e, por isso, nada mais me resta do que vestir-me de alegria, agarrar a vida pelas orelhas, aceitar o inevitável, ter coragem para lutar pelo que é possível e muita inteligência para discernir a diferença. 

Hoje, 23 de Dezembro, tranco a sete-chaves os sentires, recordo que there's no use crying over spilt milk, tempero e recheio o peru, compro azevias já feitas, e coloco, logo à noite, mais um edredão na cama. (Só para não sentir a dor do frio da solidão.)

Que Seja Natal!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

HIPOCRISIA

 Já sei porque razão não há um Nobel para o hipócrita do ano. Os candidatos são incontáveis! Hoje, assisti a um exercício claro de hipocrisia e espantei-me. Com que ligeireza, com que facilidade, se apregoa o que não se faz, se afirma o contrário do que acontece. E há quem aplauda! A sério, estou ainda a recuperar...

domingo, 13 de novembro de 2022

Tristeza

 Encosto-me à parede de cal gelada. Deixo correr as memórias, tempero-as com lágrimas que insistem em cair. Sim, a infelicidade existe. Sim, é preciso chorar, por muito que doa, por muito que se saiba, eu sei, que não há como lavar agoras. 

domingo, 6 de novembro de 2022

Vigarista em Formação

 Desilusão? Não. Revolta calma, por paradoxal que tal possa ser.

Uma aluna, copiou um texto e entregou-mo. Não sei se é o facto de ela menosprezar a minha inteligência, achando que eu não daria por isso, se é o nem se ter dado ao trabalho de corrigir o português do Brasil, se é o facto de ser uma vigarice, uma trafulhice, que é tomada por normal. Por sem problema.

Para mim, tem gravidade e é, sim, um problema. 

Muitos problemas, mesmo! É problema não se importar com a aprendizagem, tendo como objectivo conseguir uma nota a qualquer custo; é problema roubar o trabalho de outrem; é problema assumir a aldrabice como normal; é problema estar há 12 anos na Escola e ainda não distinguir o certo do errado, o Bem do Mal.

Esta miúda é das que gosta muito de falar em Direitos e Liberdades. Gosta de cartazes e campanhas.  Ou seja, de pouco (ou nada) serve andarmos nas Escolas a fazer campanhas quando continuamos a permitir  que os vigaristas cresçam ao nosso lado. E eu continuo a pensar que esta mudança de forma de pensar e agir, tem de ser trabalhada na Escola...


quarta-feira, 2 de novembro de 2022

TRADIÇÕES

 

O mês de Novembro, mês que sempre pinto de cinzento e vento, começa com tradições diversas. Vem o Dia das Bruxas, depois os Santinhos, a seguir o Dia de Finados. Gosto do Dia das Bruxas. sei que não é uma tradição portuguesa, mas gosto dos miúdos mascarados, das vassouras, das bruxas (o mundo sempre teve medo de mulheres que voam, sejam elas bruxas, fadas, ou ousadas), das abóboras luminosas, dos doces e das

travessuras. Não me parece, de todo, que importar tradições implique denegrir, ou ignorar, as nossas. De facto, este ano o Dia dos Santinhos começou cedo e foram muitos, mas muitos mesmo, os grupos de miúdos que me bateram à porta pedindo os santinhos.

Às vezes, muitas vezes,  penso que a diversidade nos enriquece e que querer ficar agarrado a um agora que foi ontem, nos impede de conhecer muitas das coisas boas da vida.

Gosto de inovação, de transformação. De viajar lá fora, e cá dentro.

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

A Visita de Estudo

 Muito por causa da pandemia, e por ter estado cinco longos anos afastada da sala de aula, há muito tempo que não fazia uma Visita de Estudo. No dia 20, aconteceu.

Bem cedo, partimos ao encontro de Pessoa. Não foi o dia triunfal, não era 8 de março de 1914, mas foi um dia especial. A Casa Fernando Pessoa, que eu ainda não tinha visitado após as obras, cativou-me absolutamente. Depois, de tarde, a caminhada seguindo os passos do Poeta acabou de completar o dia. 

Os meus alunos, e como gosto deles!, revelaram-se excelentes companhias e eu senti, juro que senti, que a Escola é isto: - Vida, descoberta, alegria e, também muito bom, um arroz de cabidela na Lisboa dos sentidos (e dos sentires).

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Escola do Futuro??

 "Às vezes, oiço passar o vento..." Alberto Caeiro

Às vezes, oiço falar de escola do Futuro, Luísa Moreira. E, tal como vento passa, já passou, continuará a passar sem nada dizer, também esta frase gasta pouco ou nada me diz. O que eu quero mesmo, o que eu gostava de ajudar a fazer, é mesmo uma Escola do Presente. 

Uma Escola onde seja possível inovar, criar, ser diferente. Uma Escola onde os alunos possam, por exemplo, consultar o dicionário no telemóvel, sem ter de requisitar um dicionário na Biblioteca. Uma Escola onde se pudesse conversar e ouvir música. 

A Escola que eu quero, quero-a Hoje. É a Escola urgente.

O Futuro é, sempre, um tempo que corre à nossa frente e onde, de certeza, nunca chegaremos. 

Assim,  Escola do Futuro será, sempre, a do passado, se a não fizermos no presente.

Associação de Estudantes

 Na Escola onde trabalho, provavelmente noutras também, estão a decorrer eleições para a Associação de Estudantes. Vibro com estes dias. Enche-me de esperança ver como os jovens, quando motivados, se movimentam e concretizam sonhos. 

Este ano, há duas listas: a E, Elefante; a F, Fox. Eu, triste porque não posso votar, torço pela lista E. Tem projectos, tem alunos com sucesso escolar, tem olhares irreverentes que me encantam. 

Como professora, defendo que a Escola devia envolver-se activamente nestas acções. A aprendizagem da cidadania efectiva é assim que acontece! Por isso, não deveriam os adultos alhear-se deste processo. Também penso, e sei que é uma opinião polémica, que alunos com insucesso declarado, jovens de 20 anos, não deviam poder ser candidatos. Assim como, na política adulta, os vigaristas e criminosos não deveriam poder ser eleitos também...

domingo, 16 de outubro de 2022

DE VOLTA

Podem esquecer-se os amigos? Diria, imediatamente, que não. Mas eu tenho desleixado o meu blog e este espaço tem sido, sem dúvida, um bom amigo. Um pouco como os peixes que Vieira elogia, também ele me ouve e não fala. Desleixei-o porque o tempo não estica, porque, se calhar, baralhei as prioridades, porque me esqueci como é importante ter tempo para ser comigo. E estou arrependida. O meu blog, este espaço de escrita, tem-me feito muita falta... 

Atravesso, mais uma vez, um terrível período na vida, e estes momentos, quando os meus dedos dançam sobre as teclas sem procurar sentidos correctos, fazem-me falta. 

Se nunca abrirmos uma garrafa de vinho, por mais prometedor que seja o rótulo, nunca saberemos da qualidade do mesmo. E apetece-me tirar a rolha da garrafa, embora saiba que o rótulo não é prometedor.

Estou de volta. Prometo não voltar a abandonar este amigo!

quarta-feira, 9 de março de 2022

A GUERRA

Não tem um tempo, a guerra. É de sempre, e sempre assenta na injustiça, na violência, no sofrimento, no sangue, na morte. Acontece por pequenos motivos, por grandes também, mas sempre tendo na raiz a sede de poder e de domínio.

Parecia impossível, a mim pelo menos, que a guerra voltasse à Europa, mas um louco, Putin, conseguiu instalar de novo o horror. Tenho medo. 

Medo do que ainda está para vir, medo da incapacidade da Europa democrática dar resposta  aos milhares de desalojados. Este tempo é também, acredito, um desafio a cada um de nós. Já não é suficiente falar de solidariedade, de justiça, de apoio ao próximo. Agora, urge agir. É preciso acolher desconhecidos nas nossas casas, é preciso partilhar o pouco que temos, é preciso mostrar que somos o que dizemos, que não nos fazemos de palavras sonoras, mas ocas.

Tenho muito medo!


domingo, 20 de fevereiro de 2022

INGLATERRA

 Já há dois anos que não ía a Inglaterra. Tinha saudades de viajar, de respirar outros ares e ouvir outras realidades e, finalmente, embora muito lentamente, a vida vai retomando a normalidade. Cheguei a Inglaterra com muito frio, apanhei uma tempestade Eunice, mas, ainda assim, lavei a alma e carreguei baterias.

Em conversa com o meu neto, 12 anos e muita curiosidade e gosto de aprender, confrontei-me com a Escola que defendo. O Manuel Bernardo tem muitas disciplinas, inglês, francês, espanhol, ciência, geografia, história, matemática, moral, cidadania, educação física. biologia. Achei que era disciplinas a mais e, por isso, perguntei como era possível entrar às 8,30 e sair sempre às 14,45h. Explicou-me, com segurança, que trabalha muitas vezes diferentes áreas, em projectos, com diferentes professores. Falou-me da avaliação. Não há classificação, mas estão sempre a ser testados e têm como resposta a forma de melhorarem, e se estão aquém do desejado, no desejado ou se superaram os objectivos em diferentes domínios. De facto, esta é a avaliação pedagógica que faz sentido, colocada ao serviço das aprendizagens e do sucesso.

O meu neto tem sorte, penso eu. Mas todas as crianças podiam ter a mesma sorte. Não implica dinheiro, a legislação portuguesa permite, há propostas e orientações para se fazer assim. Porque não se faz? Porque há direcções com medo da mudança. Porque há, ainda, professores que defendem que o modelo tradicional de ensino é fantástico porque, graças a ele, o homem foi à lua.

Volto para Portugal sem vontade de lutar mais. Chega. Agora, só quero a reforma para poder, mais vezes, voar para lugares com sentido. 

domingo, 13 de fevereiro de 2022

NÃO VIDA

 A culpa é do Tempo. Sempre acelerado, não deixa espaço para essências e vai-se enchendo de existências excessivamente ocas. Surpreendo-me por não conseguir vir aqui, a esta minha janela, porque constato que, afinal, não tenho Tempo para mim. 

Se me perguntarem se faço coisas muito significativas, terei, honestamente, que responder que não. Corro da Escola para a Santa Casa, tento resolver problemas, brinco à pressa com os cães, leio para temperar a alma, e no fim, bem espremido tudo, não há sumo. 

Estarei a desistir de viver? Penso nisto e, sinceramente, fico preocupada. Porque eu defendo que é preciso  construir sentidos se, de facto, queremos viver...

sábado, 1 de janeiro de 2022

2022

 365 dias inteirinhos, cada um com 24 horas, mas podermos viver, ser Pessoa, sonhar, lutar, chorar, mimar, acreditar, rir. Uma quantidade fantástica de verbos para conjugarmos como formos capazes, como conseguirmos, dentro das circunstâncias de cada momento. Tenho muitos sonhos. Não exclusivos para 20222, a maioria já transita de anos passados, mas são sonhos. São dias a haver.

Para já, com urgência, quero voltar a poder viajar sem zaragatoas nem máscaras, gozando a liberdade que devia ser minha.  

Mas quero mais. Quero aposentar-me. Quero sair de uma Escola onde sou diariamente infeliz, esmagada pela rotina medíocre de que não ousa sonhar. Sempre disse que só me queria aposentar aos 70 anos, mas agora, porque as circunstâncias se alteraram, desejo a reforma com urgência. Porque a escola que defendo não se faz se proibições e papeis, de grelhas e fichas. Porque cada aluno é, para mim, uma Pessoa que merece o melhor e a quem, acredito, não podemos roubar o agora.

2022. Que narrativas iremos escrever, neste ano novinho em folha?