Está a chegar, depressa demais, um novo ano lectivo. Há anos, este era o tempo de ir à rua do Comércio, à papelaria do Senhor João, e de escolher o material escolar com as minhas filhas. Vinham os livros a cheirar a novo, as borrachas perfumadas, os cadernos coloridos e as mochilas para carregar. Compravamos sempre papel para forrar os livros, etiquetas e as obrigatórias canetas de feltro que, dois dias depois, tinham as tampas trocadas. Mas esse tempo passou.
Hoje, sem crianças já, o meu retorno à escola faz-se de esperança desiludida. Sim, eu sei que é um paradoxo, mas é isso mesmo que eu sinto: - Esperança de que, finalmente, a mudança aconteça; desilusão por temer que o sistema (seja lá isso o que for) prefira manter tudo igual... Para mim, que não sou socialista, as propostas que o actual Ministério da Educação está a fazer às Escolas são as necessárias. As políticas educativas fazem sentido. (Lamento...)
À Escola, aos professores, estão a ser dadas as condições necessárias para fazerem o sucesso acontecer! Há exemplos de sucessos conseguidos (Projecto Ancoragem; Fénix; Ninho; Grupos de homogeneidade relativa; etc) e só não acontecerá a mudança se, realmente, os professores não quiserem.
Este é o tempo dos Professores! Agora, já não há como dizer que "eles" nos obrigam a fazer assim, ou assado...
Acredito, seriamente, que a sala de aula pode ser um lugar de construção de saber, de descoberta e experimentação, de individualização e humanidade.
Eu costumo dizer que, se me saisse o Euromilhões, faria uma Escola a meu jeito. Agora, já não preciso do Euromilhões, basta-me a cumplicidade efectiva dos meus colegas professores!
Este ano, eu queria muito recomeçar com salas diferentes, práticas inovadoras e vontade de colaborar. Eu sei... são sonhos. Mas como encarar mais um ano de trabalho sem uma dose de sonho?