sábado, 29 de agosto de 2020

EU E A OUTRA EU

 Quando se passeia no Algarve, sejam caminhadas à beira-mar ou idas à farmácia, encontram-se muitas diferenças, muitas estranhezas. São estrangeiros, com as suas características e línguas, são portugueses que, talvez por estarem em férias, vestem outras roupagens e assumem diferente comportamentos. Às vezes, parece-me que, em férias, há quem aproveite para descansar de si próprio, deixando guardado o seu eu e criando novas e diferentes personagens.

Pensando assim, dei comigo a imaginar quem gostaria de ser, se não fosse eu. Tentei eliminar o que depende de outros, encontrar-me eu-mesma-sozinha, e, depois, imaginar o que gostaria de não ser. Encontrei tanta coisa que, porque a lista ia longa, decidi desistir e conformar-me com quem sou. 



quinta-feira, 27 de agosto de 2020

27 de Agosto

 Hoje, é um dia de muitas e fortes recordações. Dia de anos do meu Pai, faria 95, dia do meu casamento. Há 39 anos, tudo estava certo, a alegria existia e eu ainda não sabia que o para sempre é fórmula exclusiva dos livros de fadas. E as fadas, não me inseriram nas suas histórias.

Há 39 anos, eu era princesa e rainha, tinha  a confiança no Amor ainda intacta e pensava que seria capaz de escrever uma narrativa de sucesso. Estava apaixonada! Tão apaixonada! Escolhi para casar o dia de anos do meu Pai porque, na minha casa de criança e jovem, esta era sempre uma data festiva. 

Hoje, oiço as ondas lá fora, estou na noite sozinha e desfio memórias. Vem a mágoa, embrulha-me a insónia e eu penso, e penso. Ainda hoje, depois de muitos contratempos e de incontáveis desilusões, continuo a achar que o dia do meu casamento foi o dia mais feliz da minha vida! Foi um passo no vazio, mas valeu a pena.



domingo, 23 de agosto de 2020

TERAPIA

 A praia, ou seja a mudança de ambiente e a proximidade do mar, estão a ajudar-me a carregar energias. 

Gosto  das caminhadas na areia, do barulho das gaivotas, das caipirinhas a ver as ondas. Não gosto de muita gente, odeio a música que algumas pessoas insistem em impôr a toda a gente, e acho excessivos os desportos motorizados no mar. Mas é assim, a perfeição não existe, e o óptimo é inimigo do bom.




sábado, 22 de agosto de 2020

MAR

 Finalmente, o mar. Oiço o rebentar das ondas, estou só eu e elas, o céu salpicado de estrelas, a noite que me envolve. Chegou o tempo de caminhar na areia, olhar as gaivotas e desejar a liberdade inconsciente delas.

Praia!

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

MUSEU BERARDO - ESTREMOZ

 Estremoz, a cidade branca, tem, para mim, muitos atractivos. São restaurantes originais e muito bons, são lojas, é o mercado de rua e, agora, o Museu do Azulejo Berardo. É um Museu muito especial. O espaço que acolhe a exposição é uma casa enorme. cheia de luz e de brancos, com o Alentejo por moldura a surpreender-nos em cada uma das 35 salas. Há paz absoluta. No pátio, no final da visita, podemos sentar-nos e, calmamente, saborear um bom vinho. 




Eu sei que a inveja é uma coisa muito feia, mas não consigo deixar de sentir alguma tristeza por, na minha cidade, não haver nada assim. E era tão fácil... 




quarta-feira, 19 de agosto de 2020

VONTADE PRÓPRIA

 Álvaro de Campos, poeta que tanto leio, diz a dado momento "(...) não me peguem no braço//já disse que não gosto que me peguem no braço//Vão para o diabo sem mim ou deixem-me ir para o diabo sozinho". Como eu o compreendo! 

Hoje, também não quero ser pessoa de companhia, não quero que me peguem no braço e quero ir para o diabo sozinha. Não quero que me digam para ter coragem, que vai passar, que há quem esteja pior, ou melhor. Não quero! Quero chorar porque me apetece, quero a liberdade de ser infeliz sozinha e não me servem os conselhos sábios, ou as parangonas vazias. Não. Não quero pensar em coisas boas, não quero compreender decepções, não quero sorrir para acalmar a simpatia alheia. 

Hoje, as lágrimas que são minhas têm de correr. Sim, de nada servirão, mas são minhas e hão-de correr enquanto eu precisar!


domingo, 16 de agosto de 2020

AS JOANAS

 Entraram no meu carro sorrindo, de calções, a juventude a gritar beleza, e logo avisaram que,se o bolo não estivesse bom, era porque elas mesmas o tinham feito. O acordado era um almoço e uma tarde na piscina, conversando e preparando, como muita amizade, a partida para a Universidade. 

São as minhas Joanas. Duas. 

Durante um ano, conversámos muito, falamos de escrita, de escritores, de textos. Desafiei-as a pensar, quero acreditar que as ajudei a encarar a leitura, e a escrita, com outro olhar. Hoje, são pré-universitárias e, como o Poeta, carregam nelas todos os sonhos do mundo. 

O bacalhau, com a sangria de frutos vermelhos, soube-nos muito bem e permitiu falar de medos, de ansiedades, de muitas experiências vividas na Escola e fora dela. Depois, as três estivemos dentro de água, conversas líquidas de mulheres e eu, mais velha, não consegui não me surpreender com a forma como estas miúdos cresceram ao longo do ano.

As minhas Joanas, são irremediavelmente um pouco minhas, merecem o melhor do mundo. E eu sei que hão-de experimentar o menos bom , mas não lhes digo. Confio nestas meninas-mulher, as mesmas que me ofereceram um delicioso caderno, que personalizaram com frases que eu muito uso, para que registasse os meus pensares, os meus sentires.

Ah, queridas Joanas, não saberão talvez o bem que me fazem. Não poderão avaliar como me aquece a existência o vosso carinho, como me orgulha que, sem precisarem já de mim para nada, me procurem para passar uma tarde e para desfiar confidências. Ser Professora, para mim, também é isto. Esta cumplicidade que fica para sempre e que, sem dúvida, nos torna muito mais ricos.

O bolo, é claro, estava delicioso!


sexta-feira, 14 de agosto de 2020

ORTOGRAFIA

 Fico francamente assustada quando digo "dantes"... É a prova de que há muitas vivências acumuladas, que olho mais para o passado do que para o presente (nem pensar em futuro), mas,às vezes, não resisto ao dantes. Dantes, de verdade, havia mais cuidado com o uso da nossa língua e a maioria das pessoas envergonhava-se ao dar erros ortográficos. Hoje, infelizmente, as barbaridades que se cometem ao usar a língua portuguesa, não só parecem não envergonhar ninguém como, o que considero mais grave, são encaradas como norma. Vem esta introdução a propósito de uma experiência vivida ontem mesmo. 

Quando decido sair um pouco aqui no meu Alentejo, Estremoz e Torre de Palma, em Monforte, são sempre as minhas escolhas. Ontem, resolvi ir experimentar um novo espaço, Howard's Folly, em Estremoz.  O lugar é convidativo, decoração original e moderna, uma boa ligação entre o rústico e o urbano. Mal me sentei, colocaram à minha frente um individual onde está inscrito o Menu. E foi aí que comecei a ficar desagradada. Um erro ortográfico grosseiro, "começe", encabeçava a lista. Chamei, educadamente, a atenção da funcionária e, para meu espanto, respondeu-me que nunca ninguém tinha reparado, por isso não tinha importância. Fiquei irritada. E a minha irritação contribuiu para que, quando o cocktail de entrada me foi servido com o prato de peixe, tivesse interiormente formado uma má opinião do espaço. 

Em Estremoz há outros lugares fantásticos. A Mercearia do Gadanha (o meu preferido), o Alecrim, a Cadeia Quinhentista. Enquanto me lembrar do "começe" não irei ao Howard's. Mas, infelizmente, muitas outras pessoas irão e, se calhar, vão ignorar o erro e achar que não tem importância, que é uma implicância minha!





domingo, 9 de agosto de 2020

RECOMEÇAR

 Talvez, afinal, a vida seja apenas uma operação de subtracção. A gente (eu) subtrai vivências e assim, paradoxalmente, somam-se tempos de vida. O Tempo, que não cura!, permite a aceitação das perdas, a racionalização das desilusões, a superação das traições. 

Volto ao quotidiano, olho o céu revolto, e lembro muitos momentos que, se não mais se repetirão, serão para sempre meus e ninguém mos poderá roubar.