sábado, 25 de fevereiro de 2023

MEDOS

 Nos programas de português, ao longo de diferentes anos, falamos muito de heróis. Vamos caracterizando cada herói de acordo com a sua acção, sempre inserida em Tempos específicos. 

Há o herói medieval, de lança e a cavalo, salvando donzelas, perseguindo assustadores mouros de pele escura; há o do renascimento, que enfrenta os mares, os horizontes anteriores a nós, os monstros e o escorbuto; vem também o amante das utopias, o romântico que persegue a liberdade, o amor absoluto; e ainda há o que resiste à sociedade, não cede à corrupção, procura a utopia. 

Todos os heróis enfrentam o medo. Porque o medo existe sempre, veste-se de muitas roupagens, mas sempre carrega sombras e desconhecimento. 

Eu tenho medo(s). Receio cada daqui a bocadinho, temo cada acordar, tremo perante muitos agoras, choro face a ameaças que não controlo. Quando os meus braços embalavam crianças, cantava para lhes afastar os papões, os maus que ameaçavam o sono. Hoje, falta-me essa música abraçada, essa palavra securizante.

Sim, tenho medo.

E não sou heroína, nem vivo num romance.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

GENTE

Talvez por ser professora de português, ou se calhar apenas porque gosto muito de palavras, sempre faço distinção entre gente e pessoas. As pessoas valem a pena. Justificam telefonemas, encontros, saídas, conversas. 

A gente incomoda, chateia, é enchimento desnecessário na minha vida. 

Infelizmente, ultimamente tenho tido de suportar muita gente. Gente reles, mesquinha. Gente que implica por tudo, e por coisa nenhuma também. Gente que acusa, que culpa, que vive de mente fechada à diferença de opiniões e às razões que lhe são externas.

Ah! Que saudades eu tenho de Pessoas! 

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

ANIVERSÁRIO

Em minha casa, desde que tenho memória, os aniversários eram comemorados com grandes festas. O meu Pai gostava de ter a casa cheia, e nós gostávamos de nosso dia com muitos amigos, e familiares, à nossa volta. Havia, para as crianças, sempre duas festas: - A das crianças, de tarde, com bolos e mousse de chocolate; e a dos adultos, à noite, com a mesa posta na sala grande e os tios a mimarem-nos.

Depois, vieram os aniversários das minhas filhas. Festas e amigos. Nem sempre eu, mãe, estava feliz. Lembro-me de madrugadas choradas, a anteciparem o dia de sorrisos que as crianças exigiam.

Agora, é o tempo dos netos. Cabe aos pais fazerem as festas e eu, sempre que posso, estou presente para aproveitar a alegria, a ternura, os bons momentos deles. 

Hoje, a Constança faz dez anos. É uma miúda determinada, corajosa e inteligente. Sofre por causa de um divórcio feito de maldade, e eu sofro com ela.

Devia ser proibido sofrer-se antes dos 36 anos, mais ou menos...

Parabéns Constança!