sábado, 25 de fevereiro de 2023

MEDOS

 Nos programas de português, ao longo de diferentes anos, falamos muito de heróis. Vamos caracterizando cada herói de acordo com a sua acção, sempre inserida em Tempos específicos. 

Há o herói medieval, de lança e a cavalo, salvando donzelas, perseguindo assustadores mouros de pele escura; há o do renascimento, que enfrenta os mares, os horizontes anteriores a nós, os monstros e o escorbuto; vem também o amante das utopias, o romântico que persegue a liberdade, o amor absoluto; e ainda há o que resiste à sociedade, não cede à corrupção, procura a utopia. 

Todos os heróis enfrentam o medo. Porque o medo existe sempre, veste-se de muitas roupagens, mas sempre carrega sombras e desconhecimento. 

Eu tenho medo(s). Receio cada daqui a bocadinho, temo cada acordar, tremo perante muitos agoras, choro face a ameaças que não controlo. Quando os meus braços embalavam crianças, cantava para lhes afastar os papões, os maus que ameaçavam o sono. Hoje, falta-me essa música abraçada, essa palavra securizante.

Sim, tenho medo.

E não sou heroína, nem vivo num romance.

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