quarta-feira, 5 de maio de 2010

PARÁGRAFO

Tudo na vida tem um fim. Aliás, tudo tem princípio, meio e fim.
Este meu blog, também. Servia como janela para o mundo, era a minha forma de, na minha solidão, dar a alma à palmatória.
Agora, acabou-se! A minha alma está farta de palmatoadas e, felizmente, a minha solidão agora, quando existe, faz-se de companhia.
Assim, o meu blog acaba hoje.
Aos meus seguidores, muito obrigada pela (por mim) tão apreciada cumplicidade.
Aos meus alunos, aprendam que o tempo esgota oportunidades e que tudo acaba mesmo.
A quem por aqui vinha para se alimentar para a maledicência, paciência. Assistam às sessões na Assembleia da República!
FIM

terça-feira, 4 de maio de 2010

DIFICULDADES

É tão difícil viver. É tão dolorosamente difícil acertar! Levamos a vida a errar, a tentar, a ensaiar, e quando, finalmente, adquirimos a experiência necessária para acertar, morremos. É injusta, a vida!
Sinto uma vontade imensa, pouco original admito, de ser feliz, de construir cumplicidades, de evitar choques e agressões. Mas, no entanto, a vida parece insistir em lembrar-me que é com dor que se tecem as vivências. Às vezes, acho que já contribui que chegue para o Banco das dores, do sofrimento, da mágoa e das lágrimas... Mas devo estar enganada. É que a vida insiste em cobrar-me contribuições sucessivas. Às vezes, fico tão cansada...

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Traz febre, esfarela os ossos

Dizia José Régio, actualmente homenageado por Portalegre, que o vento soão atirava aos desesperados a corda com que se enforcam na trave de algum desvão. Hoje, tenho-me lembrado destas palavras. O vento não é soão. É vento frio, violento, cortante, agressivo, estranho numa Primavera que parecia vir quente. Este vento obriga-me a encher de chá quente a minha caneca larga e, aquecendo as mãos nela, ficar do lado de cá da vida. No espaço onde escapo aos olhares críticos, às línguas compridas, aos esbarranços com o que me indigna e magoa. Hoje, por causa do vento, fico no meu canto olhando a vida e deasfiando memórias, momentos, sonhos também. Hoje, tenho toda a tarde para construir aulas de crescer, arrumar papéis, limpar a minha desorganizada gaveta de documentos e escrever cartas de verdade, intensas, com a caneta de tinta castanha de que tanto gosto. Se este vento não traz corda para o meu desespero, sacode com vigor os meus sentires! Apetece-me partir com o vento, deixar-me levar, solta, para um mundo onde a ternura faça sentido, as cumplicidades aconteçam e o amor impere. Será que o vento sabe o caminho para os mares do Sul?

domingo, 2 de maio de 2010

Dia da Mãe


É sempre um dia especial, de entre os milhares de dias desta sociedade a prazo, o da Mãe. Lembro-me de, miúda, preparar na escola o dia da Mãe. Faziamos pinturas horríveis, peças de barro sem nenhuma utilidade, molduras impossíveis de utilizar, e tudo a minha Mãe , e as outras também, achava lindo e perfeito! Às vezes, tenho saudades dos tempos em que era fácil ser perfeito...
Depois, foi a minha vez de receber flores, beijos, saltos em cima de mim, ainda na cama, presentes de escola, juras de amor e admiração que sei serem sinceras. Mas eram sempre os cartões que mais me comoviam! As minhas meninas, as minhas maiores e verdadeiras amigas, enchiam os cartões de ternuras e carinhos que guardo religiosamente e que, ainda hoje, me fazem bem à alma.
Agora, o meu dia da Mãe é diferente. Sou avó! E, se não me sinto Mãe duas vezes, sinto uma ligação intensa a este bebé que adoro e que me olha, ora com curiosidade, ora com incrível doçura! Neste dia da Mãe, tenho pensado muito na mensagem de Cristo, "amem-se uns aos outros como eu vos amei" e tenho um desejo imenso de cumprir o seu mandamento! Hoje, mais ainda do que nos outros dias, apetece-me apregoar o amor. Desejo, intensamente, ser capaz de deixar de lado as mágoas e amar cada dia, toda a gente. Hoje, olhando de longe o meu bebé, sinto que é preciso, e possível, recuperar a prática do Amor para as crianças que, como canta o Paulo de Carvalho, estão a aprender a ser Homens!

sábado, 1 de maio de 2010

Obra de um Curioso

É dos desportos que menos aprecio, o ciclismo. Acho horríveis os homens com fatos de licra, pernas depiladas, capacetes horrorosamente coloridos, suados e mal cheirosos. No entanto, todos os anos tenho de suportar, pelo menos duas vezes por ano, as malditas bicicletas! Hoje, logo cedo, começou a loucura... Pelas nove, quando me dispunha a dar um passeio com o Tango, encontrei os polícias no caminho e fui informada que "vinham aí" os ciclistas. Regressei logo a casa, fugindo, ou tentando, da confusão adivinhada! Este ano, escapei às mais de dez mil bicicletas...
Mas lembro-me bem, e com fúria ainda, de ter ficado impedida de chegar a casa por mais de duas horas por causa destes ciclistas!
Hoje, talvez porque escapei às chatices do trânsito parado, deu-me para achar graça a estes portugueses que, apesar do esforço diário para pagarem as contas, do suor de cada dia, ainda se dispõem a pedalar sob sol intenso. Cada vez mais estou certa de que, como disse Eça de Queirós "Este povo é obra de um curioso..."

1º De Maio

Dia do Trabalhador. Num país sem trabalho, sem condições de vida, sem respeito pelas PESSOAS, com políticas de estrangulamento social e esvaziamento económico.
O país não tem crédito, a dívida é enorme, e os políticos, de gravatas coloridas, ousam afirmar, com a hipocrisia que os caracteriza, que TODOS temos de fazer sacrifícios e, por isso, provavelmente não haverá subsídios de férias este ano. No entanto, continua a haver deputados que recebem mais de 500 euros POR DIA só de ajudas de custo, continuam os assessores sem conta, continuam as despesas de representação deste Estado idiota a crescerem diariamente! Estas políticas esquerdosas estão, o quotidiano prova-o!, completamente erradas!
A miséria humana cresce a cada dia, a crise agrava-se, a qualidade de vida desce, etc, etc. etc.
Dia do Trabalhador. Este ano, deveria ser o dia do descontentamento definitivo. CHEGA! Deviam, acho eu, gritar os trabalhadores, cada vez mais oprimidos, deste Portugal empobrecido, deste quotidiano a anoitecer!!

Da Minha Janela

Não há mundo, da minha janela. Do lado de lá dos vidros, para fora do cantinho onde escrevo, onde trabalho, onde sonho, onde praguejo por vezes, há uma nogueira grande, um muro coberto de velhas heras, o telhado vermelho da minha garagem e a dúvida de que haja vida para além disto. Vida, ou mundo... É que, a cada dia que passa, mais sinto que o meu mundo, esse que se tece de ternura, amizade, cumplicidade, não existe mesmo. Aqui, bem instalada na minha cadeira de rodinhas, sinto-me cada vez mais distante do mundo que integro. Se eu pudesse, havia de desaparecer da realidade, partir nas asas do sonho, e ficar longe, muito longe..., nos braços de uma vida com sentido. E sentires.
Mas não posso. Porque, como ser social, integro uma rede de non-sense onde não há lugar para individualidades mais ou menos exclusivas.
Hoje, do meu canto, gozo o privilégio de poder, ainda que provisoriamente, esquecer-me do outro mundo. Do de verdade. Do que se (des)cumpre para lá da minha janela...