segunda-feira, 3 de maio de 2010
Traz febre, esfarela os ossos
Dizia José Régio, actualmente homenageado por Portalegre, que o vento soão atirava aos desesperados a corda com que se enforcam na trave de algum desvão. Hoje, tenho-me lembrado destas palavras. O vento não é soão. É vento frio, violento, cortante, agressivo, estranho numa Primavera que parecia vir quente. Este vento obriga-me a encher de chá quente a minha caneca larga e, aquecendo as mãos nela, ficar do lado de cá da vida. No espaço onde escapo aos olhares críticos, às línguas compridas, aos esbarranços com o que me indigna e magoa. Hoje, por causa do vento, fico no meu canto olhando a vida e deasfiando memórias, momentos, sonhos também. Hoje, tenho toda a tarde para construir aulas de crescer, arrumar papéis, limpar a minha desorganizada gaveta de documentos e escrever cartas de verdade, intensas, com a caneta de tinta castanha de que tanto gosto. Se este vento não traz corda para o meu desespero, sacode com vigor os meus sentires! Apetece-me partir com o vento, deixar-me levar, solta, para um mundo onde a ternura faça sentido, as cumplicidades aconteçam e o amor impere. Será que o vento sabe o caminho para os mares do Sul?
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Eu adorava o vento soão de Portalegre!
ResponderEliminarNão há outro igual, é esse mesmo de que fala o Régio...
Aqui, longe, sinto outro vento, nunca tão quente, tão presente, tão meu, tão...soão!
beijos
M.J.