segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

MÃOS ESQUERDAS

Costumo dizer que, não sendo canhota, tenho duas mãos esquerdas. É a minha forma de dizer, de reconhecer, que não tenho jeito nenhum para manualidades. 
Para agravar as coisas, pelo menos para mim, quando manualidades implicam linhas e agulhas, a coisa agrava-se. Tenho horror ao cheiro - SIM, AS LINHAS CHEIRAM- dos cosidos, e as agulhas arrepiam-me. Em miúda, teria os meus doze anos, a minha mãe teve a ideia (sempre foi óptima  a ter ideias que me desagradavam) de aproveitar as férias de Verão, na opinião dela excessivamente longas, para que eu e a minha irmã aprendessemos costura. Então, ficou combinado, sem que eu tivesse tido direito a emitir opinião, que iríamos, todas as manhãs, para casa das costureiras, a Maria Amélia e a Floripes, duas irmãs de quem um dia hei-de falar, para aprender a coser. Inconformada, e com a tendência (que ainda tenho) para entender que devo manifestar opinião, diariamente havia um drama antes de eu ir para a costura. O meu pai, que nestas coisas, normalmente, se mantinha à margem das decisões maternas, de tanto me ouvir lamentar-me resolveu intervir. Negociou. Eu tinha de ocupar o tempo de forma útil, disse, e, se não queria aprender costura, devia apresentar outra proposta de ocupação. Apresentei: - Queria ir aprender equitação! O meu pai achou boa ideia e, confesso, entre os 12 e os 17 anos vivi as melhores férias e os melhores dias da minha vida, passando grandes temporadas em Monforte, mimada pelo Tio Necas e pela Tia Maria Fernanda, com um grupo de amigos fantástico, a montar a cavalo e a divertir-me. Claro que não aprendi a coser.
Ora, hoje caiu um botão da minha capa alentejana. Olhei o botão,olhei a capa, pensei no frio e propus-me ir pedir à costureira que me pregasse o bicho. Já a sair de casa, o meu grilo falante fez-me pensar no ridículo da situação... Voltei a casa, enfiei uma agulha, com esforço e a achar insuportável o cheiro das linhas, e, milagre!, preguei o botão.
Moral da história, que não tem moral nenhuma, é que não tenho dúvidas que a aprendizagem só acontece quando é útil e faz sentido para quem aprende!

1 comentário:

  1. Luísa, eu fiz exatamente como a sua mãe e minha querida colega, só que a reação da P. foi de concordância! Assim nas férias do 12.º ano para a Faculdade foram (à excepção da nossa viagem de família) passadas a aprender costura na D. Isabel... claro que não teve grande oportunidade de por o aprendido em prática, já que as profissões de hoje raramente dão tempo livre para costuras!

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