quinta-feira, 26 de março de 2020

CALADA

Um email muito simpático, de uma colega que muito estimo, perguntava-me se estou bem e por que razão estava tão calada no que à educação diz respeito. Estás com medo? Não pensas nisso (escola)? Respondi-lhe, claro.
E sim, estou com medo. Medo de falar demais, porque, por dizer o que penso, já tive um processo disciplinar. Medo, também, que não sejamos, a maioria de nós, capazes de aproveitar esta crise terrível que é, também, uma provocação e um desafio.
Na minha modestíssima opinião, e sustentando o que defendo nas muitas leituras feitas, o currículo é muito mais do que "os conteúdos". Este tempo podia servir para pensarmos. Para nos centrarmos no que, de facto, é importante que os alunos aprendam. É um tempo que permite, obriga?, a uma individualização de processos, cada aluno tem as suas circunstâncias e, agora, nem sequer temos a ilusão de que são todos iguais porque estão na mesma sala. Não me preocupa por aí além a classificação dos alunos. Mas preocupa-me a avaliação e, acredito, agora podemos apoiar cada aluno com feedback de qualidade. Não, não me apetece nada (espero que não aconteça) que o ME diga como cada um deve fazer. Sim, acredito que vamos ser capazes de dar sentido a estas aprendizagens. Com muitas leituras (não só Quizz e biografias que se copiam da net), com problemas que façam pensar, como abordagem a temas que cruzam diferentes áreas, como a transmissão do próprio vírus, a fome que continua a matar, a narrativa da equidade que continua por escrever. Sim, estou calada porque tenho medo. Mas sim, penso muito nisso!

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