domingo, 22 de março de 2020

DOMINGO


Fica estranho, para mim, o domingo sem missa. Sinto falta da minha comunidade, das palavras do senhor cónego Emanuel, da paz interior que me invade sempre quando, na Sé, assisto à missa.
Mas está um dia bonito, é preciso sobreviver, e vou caminhar com os cães, verificar o crescimento das rosas - era tão bom que pegassem-, e sentar-me lá fora a ler. 
A reclusão imposta começa a cansar-me. Há 36 horas que não vejo pessoas. Estou aqui, com os cães e com os livros, e fujo à televisão para, estupidamente talvez, tentar proteger-me do anúncio constante de mais infectados, mais mortes, mais horrores. Sei que a epidemia é grave, mas será que o mundo inteiro parou? O que estará a acontecer na Síria? Em que ponto estará a investigação sobre a Isabel dos Santos? Será que o Panda bebé que nasceu no Zoo está a aguentar-se? As televisões só falam do maldito Covid-19 e eu quero fugir dele. Cada vez mais, a cada hora que passa, confirmo a minha convicção de que o melhor lugar para enfrentar uma pandemia é dentro de um livro. 
Hoje, há pouco, terminei A Rainha Descalça. Escrita fluente, que me prende e me fez andar, nos quatro dias que levei a concluir o romance, a ter medo pelo cigano Melchor,  a admirar a curandeira Maria, a temer por Milagros e a escutar a pretinha Caridad - Canta pretinha!. Uma história intensa, passada em Espanha no séc XVIII, mostrando, (como se eu não o soubesse), que a violência e injustiça humana não se confinam a nenhum tempo histórico. Infelizmente. 


2 comentários:

  1. Luísa, não é que perdi a capacidade de concentração! Leio duas páginas e já estou a pensar noutra coisa!

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    1. Eu não sei o que seria de mim se isso me acontecesse. A leitura tem sido a minha salvação nesta pandemia!

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