quinta-feira, 19 de março de 2020

DIA DO PAI

O meu Pai foi, e ainda é, o meu maior amigo. Nunca tive uma relação próxima com a minha mãe, sempre pensei que, para ela, eu era apenas uma presença dispensável, e, talvez por isso, o meu Pai era para mim a referência de compreensão, cumplicidade, afecto e verdadeiro amor. Costumo dizer que o meu Pai é mais do que um super-herói, porque eles só existem nas histórias e ele existiu (e existe) na minha vida. O meu Pai era médico e lembro-me, bem criança, de o ver sair de casa, noite cerrada de inverno, a acudir a quem o chamava. Eram outros tempos, outras formas de ser médico. 
Assisti ao empenhamento dele para colocar os serviços de saúde em Portalegre na primeira linha, vi-o criar uma Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente na cidade que me ensinou a amar, quando as mesmas só existiam em Lisboa, Porto e Coimbra. O meu Pai era um um bom conversador, um Amigo disponível que gostava da casa cheia, de muita gente à sua volta. Quando estava bem disposto, era muito divertido!
O meu Pai ignorava para que servia o relógio. Uma vez, dia de Natal, a minha mãe insistiu para que fossemos todos à missa na Igreja do Reguengo. E fomos. Quando chegámos, muitos, o senhor padre parou, calou-se, esperou que nos sentássemos e, depois de uns cinco minutos de agitação disse: - Ide em paz, e o Senhor vos acompanhe! 
A minha mãe refilou muito, estava envergonhada e reclamava com o meu Pai que, calmamente, argumentou: - Chegámos no momento certo! E Deus sabe que tínhamos intenção de vir mais cedo...
Em minha casa, quando era criança e jovem, havia amigos que eram família. Lembro-os sempre com IMENSA saudade: - O dr. Jorge, o eng. Carrilho da Graça, o dr. Pestana, o meu adorado tio Eutíquio, o dr. Salvador,o dr. Marouço (querido primo!) o dr. Fausto. Tenho SAUDADES de todos e, penso agora, todos foram um bocadinho meus pais na minha infância.
Hoje, é Dia do Pai. As saudades, sempre presentes, doem mais. A solidão, hoje imposta, desperta as memórias que, paradoxais, umas vezes fazem companhia, outras fazem sangrar.
A todos os Pais que o são de facto, um obrigada em nome de todas as mães. De todos os filhos, também.

2 comentários:

  1. Sabe, Luísa, eu tenho muita dificuldade em falar, tal como o fez, de quem me foi muito querido, o meu pai e da minha avó... doí-me lembrar que já não os posso abraçar!

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  2. Compreendo. Mas eu preciso fazê-lo. Sinto-os mais perto. As minhas memórias são a minha maior companhia.

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