segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Fim de Férias
Acabaram-se as férias. Amanhã, bem cedo, retorno à vida, à existência dolorosa, à Educação sem sentidos. Anuncia-se um ano complicado, muito complicado!, e não me sinto com forças para o enfrentar. Para complicar tudo, a minha escola tem obras: - Ruído, pó, desordem. Ai, ai... como eu queria reformar-me e poder ser EU!!!
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
O meu dia D
27 de Agosto de 1925. 27 de Agosto de 1981. Duas datas, na mesma data, a marcar momentos com significado para mim. Dia de anos do meu Pai. Dia que era, sempre, de grande festa em casa, de muitos amigos, mesas na rua, gargalhadas e amizade verdadeira. O meu Pai gostava de festas, de se ver rodeado de amigos, de abrir a Casa a todos aqueles que estimava, e eram tantos!, em torno de bons petiscos. Um dia eu, completa e profundamente apaixonada, resolvi tornar maior a festa dele e casei-me no mesmo dia. Foi o Dia D da minha vida, o dia em que todos os impossíveis eram verdades absolutas. A Casa voltou a engalanar-se, vieram os amigos, encheu-se a Igreja do Reguengo e, à noite, voei para Espanha numa Dyane Argent cheia de pedrinhas nos tampões das rodas, presente dos amigos (as pedrinhas, claro!). Então, há já 28 anos, o mundo parecia-me pefeito e eu, nós, achavámo-nos capazes de reinventar a existência.
Hoje, a Casa já não se enche para mim. As minhas memórias doem de saudade forte e o meu Pai faz-me a cada dia mais falta! Hoje, na Missa, vou conversar com ele e pedir-lhe que lembre ao Céu que eu existo. Hoje, em tempos de conflitos, julgamentos apressados, críticas e abandonos, a data faz doer.
Hoje, a Casa já não se enche para mim. As minhas memórias doem de saudade forte e o meu Pai faz-me a cada dia mais falta! Hoje, na Missa, vou conversar com ele e pedir-lhe que lembre ao Céu que eu existo. Hoje, em tempos de conflitos, julgamentos apressados, críticas e abandonos, a data faz doer.
domingo, 23 de agosto de 2009
Insónia
Chegou sem aviso. Não houve ruído de cascos sonoros, resfolegar de montada cansada, sequer buzinadelas estridentes ou travagens bruscas, o que, sendo menos poético, seria decerto mais real. Não chegou envolto na magia do sonho, não se fez anunciar. Chegou apenas. Trouxe nos bolsos sem fundo anos de mil vivências, olhares de riso e lágrimas, memórias sentidas e indizíveis. Deixei-o instalar-se, fiquei a olhá-lo e calei a vontade de me fazer também ouvir. Com ternura desfiou histórias que conheço bem, acolheu o meu silêncio e não discordou da minha revolta. Seguro do conforto da sua condição de não-ser, fez-se presente não existindo e pintou de cores intensas o negro da noite que esgotava sozinha. No peito largo e disponível abriguei a minha dor. Bem cedo, de manhãzinha, partiu como chegara.
Espero que volte. Sempre que a noite se fizer excessivamente comprida!
Espero que volte. Sempre que a noite se fizer excessivamente comprida!
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Desamor
Estou farta do amor. Já chateia. - Foi assim que ouvi, com decisão na voz, de uma jovem à conquista da vida. Alguma coisa dentro de mim, eterna alma romântica, estremeceu. Como se pode estar farta do amor? Como é possível enjoar-se a paixão? Fiz conversa. Conversa de desdizer, de contraversar mesmo, sentadas as duas à beira da piscina, interrompendo, de vez em quando, para um mergulho refrescante. Falei da necessidade de recuperar a vontade de amar, a fé nas relações humanas, a confiança nos afectos. Ouvi falar de desviver, de desexistências e de realidades por demais irreais. Que o amor não leva a lado nenhum, que este mundo, esta sociedade, é tão melhor quanto menos ocupada. Falou-me desta coisa da inumanidade e garantiu-me, com a frieza irónica dos jovens, que o fim do mundo é isto mesmo: - o esvaziar da essência humana. A construção e investimento numa desumanização eficaz. Metálica, até.
Contrapus a minha fé nos Homens. Falei da realização perfeita que só se consegue quando dois corpos se fazem uma alma só. Confessei que já ouvi as asas dos anjos quando, depois do Amor feito e vivido, vêm invejar a felicidade que o silêncio envolve. Riu-se de mim a minha jovem parceira. Que isso são mentiras, ficções, e, lembrando Alberto Caeiro, garantiu que a mentira está em mim. Depois, como quem põe ponto final, declarou: - Acabou o tempo dos poetas. Agora, o importante é despoetar. Fiquei dorida.
Contrapus a minha fé nos Homens. Falei da realização perfeita que só se consegue quando dois corpos se fazem uma alma só. Confessei que já ouvi as asas dos anjos quando, depois do Amor feito e vivido, vêm invejar a felicidade que o silêncio envolve. Riu-se de mim a minha jovem parceira. Que isso são mentiras, ficções, e, lembrando Alberto Caeiro, garantiu que a mentira está em mim. Depois, como quem põe ponto final, declarou: - Acabou o tempo dos poetas. Agora, o importante é despoetar. Fiquei dorida.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Rendo-me...
Fui vencida, não convencida. Rendo-me. Baixo os braços, olho o chão e tremo de indignação. Mas rendo-me! Contra tudo aquilo que defendo, com o coração em pedaços e a inteligência esfrangalhada, cumpro o disposto num qualquer decreto de lei deste país sem sentido e proponho-me para prestar provas que me permitam (?) ser professora titular! Porque cedo? Porque sou fraca! Porque não tenho vocação para heroína, porque estou cansada de lutar contra a estupidez institucional. Para me consolar, e para me levar à rendição, amigos falam-me na força da lei. Hoje, perguntavam-me se, se tivesse vivido no reinado de D. João V sendo judia, não passaria a cristã-nova, não substituiria as farinheiras por alheiras... Mas nada me consola! Nem sou judia, nem este é, por enquanto, um caso de fogueira. Sinto-me mal comigo por entrar no esquema da estupidez, por ter medo de me prejudicar na carreira docente. Por isso,movida por interesses só materiais e descrente de qualquer interesse desta tarefa, vou fazer um trabalho e vou prestar provas perante um júri ao qual nem sequer reconheço mérito ou competência!! Dói-me a minha decisão. Mas dói-me, mais ainda, a humilhação que o meu país me impõe.
Hoje, só me apetece praguejar!!
Hoje, só me apetece praguejar!!
domingo, 16 de agosto de 2009
O Sobreiro
No meu quintal há este sobreiro enorme. Há outros. Mais largos, mais entroncados, de copa mais vistosa, mais perfeitos até. Mas este, é o meu preferido. Olho-o de longe, porque tenho medo de encontrar répteis no caminho até ele..., e respeito-o muitíssimo. Este sobreiro parece decidido a chegar ao céu. Cresce, mantém o tronco bem direito e recusa-se até a caber inteiro numa fotografia.
Muitas vezes desejo encontrar pessoas assim: de tronco direito, de cabeça erguida, com a certeza de, seja em que terreno for, serem sempre capazes de chegar mais longe sem pisar ninguém. O meu sobreiro tem perto árvores de fruto, maçãs e marmelos, tem ao lado castanheiros cheios de ouriços bicudos, mas não se intimida, não se verga, não destrói nada. Cresce apenas, decidido a alcançar o infinito, produzindo o que de melhor tem - cortiça da boa -, e sem invejar ou apoucar os seus vizinhos.
No fundo, acho eu..., só a mim o sobreiro apouca e humilha. É que me sinto tão ridícula ao pé desta força da natureza!!
sábado, 15 de agosto de 2009
Dia de Nossa Senhora
A minha filha Filipa devia, de acordo com os médicos, ter nascido neste dia. de certeza não se chamaria Conceição, mas, fosse por medo de nome tão doloroso, ou apenas para tornar claro que saberia fazer as escolhas próprias, só nasceu a 24. No entanto, neste dia 15 de Agosto, lembro-me sempre do que não foi mas poderia ter sido. E lembro-me, especialmente, de Nossa Senhora. Como mulher, não acredito nada na história da virgindade. Ora havia Deus de A condenar ao desconhecimento de uma das mais fantásticas dimensões da humanidade?! Não creio, seria crueldade excessiva... Assim, para mim, Nossa Senhora é uma Mãe sofredora e atenta. Imagino, acho que nem imagino, o sofrimento vivido ao ver matarem-lhe o filho, e aproximo-me da dor da Mãe. Vejo-a desesperada, pensando decerto que não faz sentido os filhos morrerem antes das Mães, e imagino-a gritando incompreensão e mágoa. Como sou Mãe também, sei o que significa a dor de um filho e, por isso, converso com ela, conselheira experiente, quando me sinto mais perdida. Às vezes, nas noites que a minha insónia faz imensas, conto-lhe de mim, de sentires, de desejos e revolta, de mágoa e de esperanças. Acho que ela me ouve. Chego a ouvir, muito ao de leve, o roçar de asas de anjo trazendo-me alguma paz.
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
O Silêncio dos Bons
Decididamente, este governo PS não pára de lançar enormidades. Mesmo agora, a pouco mais de um mês do fim de mandato - que Deus é grande e não dorme! - continua a publicar o que, como Mãe, Mulher e Professora, considero verdadeiras aberrações. Desta vez, foi o diploma sobre a obrigatoriedade da disciplina de educação sexual... Não há formação séria para a mesma, não se sabe como vai funcionar, não se conhecem conteúdos (?) nem processos, mas diz-se que é obrigatória!! Incrível!! Surpreendente e cómico, se não fosse dramático.
Defendo, há muitos anos já, que é um erro reduzir a sexualidade a uma disciplina, ao seu lado meramente biológico. Para mim, deveria falar-se em educação dos afectos, numa visão transversal a todas as disciplinas, contemplando a dimensão humana, o respeito pelo eu e pelo outro, a dignificação das relações entre pessoas e não, como se insiste em fazer, reduzir a sexualidade ao perigo de DST ou ao combate a comportamentos de risco. Para mim, uma criança, um jovem, é um ser humano, complexo, tecido de vivências diversas e sempre, mas sempre, movido por afectos. Para além de todos os motivos e razões que fazem a minha razão, há ainda o facto de considerar que o estado está a meter-se demais na vida das gentes. As famílias devem ser as principais educadoras, os pais devem poder escolher o que querem para os seus filhos também em termos educativos. A liberdade faz-se de autonomia e não de imposições! Que estado tem o direito de impor uma determinada linha sexual?! Que raiva!
Revolta-me o que este governo continua a fazer com a (des)educação. Hoje, ao longo do dia, tem ecoado em mim a frase poderosa de Martin Luther King "Não são os gritos dos maus que me preocupam. É o silêncio dos bons!"
Defendo, há muitos anos já, que é um erro reduzir a sexualidade a uma disciplina, ao seu lado meramente biológico. Para mim, deveria falar-se em educação dos afectos, numa visão transversal a todas as disciplinas, contemplando a dimensão humana, o respeito pelo eu e pelo outro, a dignificação das relações entre pessoas e não, como se insiste em fazer, reduzir a sexualidade ao perigo de DST ou ao combate a comportamentos de risco. Para mim, uma criança, um jovem, é um ser humano, complexo, tecido de vivências diversas e sempre, mas sempre, movido por afectos. Para além de todos os motivos e razões que fazem a minha razão, há ainda o facto de considerar que o estado está a meter-se demais na vida das gentes. As famílias devem ser as principais educadoras, os pais devem poder escolher o que querem para os seus filhos também em termos educativos. A liberdade faz-se de autonomia e não de imposições! Que estado tem o direito de impor uma determinada linha sexual?! Que raiva!
Revolta-me o que este governo continua a fazer com a (des)educação. Hoje, ao longo do dia, tem ecoado em mim a frase poderosa de Martin Luther King "Não são os gritos dos maus que me preocupam. É o silêncio dos bons!"
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
A pressa
Ouvi um dia, não sei quando nem onde, uma história de um negro, algures na África imensa, que, depois de por oito dias ter caminhado a alta velocidade, terá parado debaixo de uma árvore aparentando não ter pressa nenhuma. O seu senhor, dono talvez porque era uma história de tempos idos, ter-lhe-á perguntado porque parara. Calma e sabiamente, ele respondeu:"Viemos tão depressa que perdi a minha alma, ficou para trás. Agora, tenho de esperar que ela me encontre." Muitas vezes, e por variados motivos, esta história me surge. Hoje, lembrei-me mais uma vez dela. Porque o tempo está a correr a uma velocidade alucinante e eu, sempre tentando fazer render cada minuto bom - têm sido dias bons! - começo a perder a minha alma. Hoje, num longo serão sozinha, vou ficar muito quieta a ver se ela me encontra...
sábado, 8 de agosto de 2009
Raul Solnado
Um dia, ele disse "Há dois tipos de discurso, o grande e o pequeno. O pequeno é: obrigado. O grande é: muito obrigado!" Hoje, quando ele desapareceu, apetece-me fazer-lhe um discurso enorme: - Um imenso muito e muito obrigada! Pelas gargalhadas da infância, da adolescência e da idade adulta. Pelas memórias que guardo. Pela ternura daquele senhor que parecia fazer parte da família.
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
Outro Tempo
Este é o tempo da gravidez da minha filha. Vejo o Manel Bernardo a mexer, a minha menina-mulher a viver em pleno e peço à vida que seja suave e complacente. Peço-lhe que deixe passar tempos de sentidos, que não atraiçoe a minha menina-mãe, que permita que os sonhos dela, deles, se façam verdade. Às vezes, tenho medo. Medo apavorado e intenso dos desvairos de uma existência que insiste em ignorar a essência. Nesses momentos, respiro fundo e afasto os fantasmas-reais que me atormentam. Agora, vivo outro tempo. Tempo com conversas longas, futuro a fazer-se, sentido nas horas que fazemos de boas conversa. Este é o tempo que faz, para mim, todo o sentido. Deus mo conserve!!
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
A outra solidão
Saí de casa com calma, sem rumo, pensando nessa coisa que dizem ser vida, em encontros e desencontros, saudades e recordações, projectos e sonhos, e rumei a Marvão. É o meu refúgio de sempre. Dantes, com as minhas filhas pequenas, fugia para lá com elas, nas longas manhãs de domingo, para conversarmos e brincarmos no parque infantil. Um dia, uma manhã de Abril, encontramos o parque infestado de bichas-cadelas (as horríveis rapas) e fugimos dali com a Filipa a ordenar,sempre foi boa para dar ordens..., que acelerasse de forma a que elas fossem atropeladas! Mas, tirando esse incidente, que hoje recordamos as três entre gargalhadas, passámos lá óptimas manhãs. No domingo, sozinha, voltei a Marvão e, em vez de bichas-canelas, descobri muitos bichos-homens ruidosos. Indiferente aos turistas, na sua maioria espanhóis buscando comida barata, descobri o outro lado da solidão. O bom. Descobri que é muito bom mesmo, às vezes, estar sozinha e fazer o que nos dá na real (ou republicana) gana. Foi o que eu fiz! Andei pelas ruas escadeadas, espreitei a igreja, reparei no parque infantil recuperado e, tristemente, cercado de grades qual jaula para feras, e comprei um travessão de barro para o meu cabelo num artesanato de dono inglês. Depois, tomei um café com um pacote de açucar, que não uso nunca, onde se lia "um dia, vou ser feliz. Hoje é o dia!" e foi mesmo! um dia feliz do outro lado da minha solidão!
domingo, 2 de agosto de 2009
A máquina
Tenho uma nova máquina fotográfica e testei-a no Tango que, embora tenha medo-pavor de tudo o que não conhece, adora ser modelo! A velha máquina, a que se seguiu à que perdi em Viena de Áustria, creio que foi a magia da cidade da música e dos cafés que me fez esquecê-la, avariou-se e, parecendo raivosa, enchia de riscas as minhas fotos. Foi para o lixo. Melhor, para a reciclagem.
Acho incrível a ligeireza com que deitei uma coisa, de quase 200 euros, para o lixo ao fim de dois anos!! Agora, garantiram-me, é sempre assim, quando algo se avaria, é comprar novo e esquecer. Aliás, disse o senhor da loja, assim que compro algo novo chego a casa com algo velho... Porque a inovação e desenvolvimento tecnológico acontecem a uma velocidade alucinante. Então, já de máquina nova (?), deu-me para pensar que bom seria se pudesse também deitar fora sentires e pensares para, com a maior das eficácias, os substituir por outros menos dolorosos.
sábado, 1 de agosto de 2009
Obrigatório
Começaram hoje as férias para milhares de europeus. Os portugueses, claro, não fogem à regra e, desde manhã, as rádios anunciam trafego intenso rumo ao Algarve. Sabe-me bem pensar que não vou ter de passar por isso. Não gosto de nada que seja obrigatório e, menos ainda, que envolva multidões. Por isso, estou na calma da minha Serra, com os meus verdadeiros e inseparáveis amigos, gozando o privilégio de ter tempo para mim. Hoje, só para chatear quem arrancou para a praia, chove bastante. E eu fico a gozar o cheirinho bom a terra molhada, o silêncio do quintal, a boa leitura. Para me incomodar, só mesmo essa coisa que não se escolhe, que nos cai na rifa, que se faz de mãe e irmãos... Que saudades do meu Pai!!
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