Tem ecoado em mim um dos imensos poemas fantásticos de Sophia, Pessoas Sensíveis. Infelizmente, este poema que oiço no silêncio, não me acompanha fazendo-me sorrir mas, antes, fazendo-me pensar que ainda há muitas pessoas hipocritamente sensíveis... Pessoas que enchem textos falando do superior interesse das crianças e que, depois, permitem uma justiça vergonhosamente lenta, fecham os olhos a serviços indignamente burocráticos. Morreram mais duas crianças. Não sei se a mãe estava doente, se o pai era pedófilo, se as crianças estavam ou não mortas antes de entrarem na água. O que sei, e me dói, é que, uma vez mais, com uma ligeireza que me revolta, o estado falhou no acompanhamento a crianças que, há muito, tinham sido sinalizadas como estando em risco! Tenho vergonha por mim também. Como é possível que comente este crime à mesa do café, e que não tenha nada mais para dizer para além do é grave e indecente??
No meio desta barbaridade, que a todos diz respeito, continuo a achar que há pessoas estranhamente sensíveis... Hoje mesmo, numa aula, porque dois alunos se preparavam para fazer análise de Os Maias sem livro, e porque lhes pedi que fossem à biblioteca pedir um livro..., encontrei uma sensibilidade que me indigna também. Zangada, eu disse aos meus alunos: - Vocês acham normal estarem dispostos a perder uma hora de vida sem fazer nada? Será que a vossa vida não tem valor? - Ora uma das criaturas, um jovem muito sensível, disse-me em tom ameaçaor: - Agradeço que não faça comentários sobre a minha vida! - Ficou magoado.. É um rapaz muito sensível. Sensível, sobretudo, à necessidade de cumprir regras, de ouvir contraditórios, de respeitar o próximo.
De facto, Sophia tinha muita razão: Há pessoas sensíveis...
Luisa, que feliz sou por não ter que aturar esses "sensíveis"!!
ResponderEliminarAs Pessoas Sensíveis
ResponderEliminarAs pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas
O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra
«Ganharás o pão com o suor do teu rosto»
Assim nos foi imposto
E não:
«Com o suor dos outros ganharás o pão»
Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito
Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem
Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Livro Sexto'
A sensibilidade é, em geral, uma atenção dirigida aos outros e não a si mesmo. Segundo entendi - para mim não foi claro - o aluno (e a sua contestação)manifesta mais amor próprio ferido que sensibilidade. Ou eu, que por acaso não fui ao google espreitar sobre o assunto, estou muito enganada. Se é assim, prefiro viver de engano. O meu umbigo não tem nada de especial e olhar sempre e só para ele faz-me mal à vista, chateia-me a cabeça e assim.
Os alunos não estão preocupados com o tempo perdido, têm ainda muito. Uma hora, na sua eternidade, não tem valor. Como dizia o Almada, "tem que haver outra maneira para salvar uma pessoa".
...quanto às crianças mortas e de que fala, portuguesas portanto, que as dos refugiados talvez já nem se contem: parece que o pai não é pedófilo e a mãe era ou estava meia louca...não sei se serão feios, mas são pobres e talvez maus que a miséria moral cria destas coabitações. Sabe o que me faz mal? Que a mulher andasse meia louca, ou em depressão profunda, ou como lhe queiram chamar, que tivesse apresentado queixas em todo o lugar e mais um, as da pedofilia parece que inventadas, que a segurança social - ou algum responsável - tenha conversado com ela e não considerasse um caso de actuação. E não me digam que o lugar onde vivem, a cor da pele e o mais não influem. Há uns mais iguais que outros.
ResponderEliminarQue esplêndida será a sanidade mental de alguém que não tem lar e anda aos caídos deste e daquele familiar, com sabe Deus que queixas - não interessa se com se sem razão -do ex. Segundo os testemunhos o caso arrastava-se há tempo.Mas ninguém notou nada, irmão, vizinhos, organismos competentes, cheios de profissionais diplomados. Agora caem-lhes os media em cima. Apressam-se os advogados. Arma-se o circo. Mas as crianças estão mortas.
Raio de mundo