Faz hoje 36 anos que a minha vida mudou para sempre. De um dia para o outro, deixei de ser só eu e surgiu-me uma vida, minúscula, nos braços. A minha primeira filha, com o seu quilo e cem gramas, veio ensinar-me o sentido da minha existência. Olhava-a entre extasiada e apavorada: - seria eu capaz de tomar conta dela? Mamando, bem segura a mim, ela parecia dizer-me que confiava que eu haveria de dar conta do recado...
Acho que ainda não tinha chegado o tempo dos traumas de infância e, por isso, a minha filha sobreviveu, com umas quedas aparatosas de bicicleta e um falso crupe assustador, à minha inexperiência.
Já jovem, foi sempre a minha primeira confidente. Conversávamos, ouviamos as nossas vidas ditas - e como as vidas ditas ganham diferentes sentidos -, e o tempo passava.
Hoje, a minha filha está longe. Faz-me falta dolorosa.
Faltam-me as palavras amigas, o pragmatismo dela, a ternura às vezes rabugenta desta mulher que é a minha filha. Hoje, ela já tem os filhos dela e está lá, num país diferente, assinalando o aniversário. Sei que os filhos não nos pertencem, mas fazem parte de nós!
Eu choro sem razão. Choro porque ela me faz falta; choro de alegria por a saber feliz, choro, também, pela mulher que já fui e que queria muito voltar a ser.
Tenho IMENSAS saudades da minha filha maior!
Luísa, compreendo essas saudades, pois até estando bem mais perto sentimos saudades, saudades de quando eram só nossas, sem termos que as partilhar com alguém...
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