Esta noite, de verão intenso, a minha insónia trouxe companhia: - Uma enxaqueca terrível! Segui, por isso, a recomendação de um médico velhote de quem tenho muitas saudades: - "Se não conseguires dormir, levanta-te, lê, faz qualquer coisa e deita-te só quando o sono chegar. Estar na cama às voltas só aguça a insónia". Levantei-me, fui para a varanda e fiquei a ver a noite. Há tantas estrelas! Lembrei-me, por isso, das histórias que gostava de contar às minhas filhas pequenas, das fadas que moravam nas estrelas e, quando não conseguiam dormir, faziam visitas umas às outras parecendo, aos olhos dos adultos, estrelas cadentes... Tenho tantas saudades das fadas!
domingo, 28 de junho de 2015
sexta-feira, 26 de junho de 2015
UMA QUESTÃO DE WC??
Neste serão muito quente, uns amigos desafiaram-me para uma sangria ao fim do dia. Porque ando falha de ternura, ou só mesmo porque aos amigos não se diz que não, lá fui. A conversa correu fácil, saborosa, e a sangria ajudou. A dada altura, falando de livros, contei que ando a ler o último romance de Domingos Amaral, "Assim nasceu Portugal", e que estranho a linguagem que ele utiliza. Com sentido de oportunidade e humor, mas também com muita verdade, um amigo afirmou ter concluído, há tempos, que a diferença maior que acontece ao longo da História é apenas em termos de WC...
Ou seja, tanto no século XII, como no XVI, como no XXI, o poder vive de subornos, de contrapartidas, de jogos escuros, de troca de influências. As pessoas, no essencial, mantêm-se iguais, apenas tomando, agora, mais banhos do que no séc. XVI e usando a retrete em vez da rua. Ri-me e contestei mas, vendo bem as coisas, o meu amigo tinha razão: - A evolução da humanidade acontece na relação directa da evolução do WC...
quarta-feira, 24 de junho de 2015
JIBOIANDO
Chegou exausta, com o calor sempre lhe acontecia assim, um cansaço potenciado, uma vontade de ficar jiboiando ignorando as exigências da vida. Vestiu o velho vestido branco, calçou os chinelos de horroroso conforto, pôs o chapéu de boas memórias e esticou-se na cadeira da piscina. Fechou os olhos para escapar à violência do sol, e deixou-se amolecer. Aos poucos, foi despertando para a vida em seu redor. Podia adivinhar a curiosidade da lagartixa verde, ali mesmo na base da roseira branca, ouvia distintamente o ressonar do cão, à sombra da velha ameixoeira, dormindo atento aos movimentos dela, conseguia captar excertos de conversas vazias na piscina próxima. Felizmente, pensou, tinha a sebe verde e grossa a salvaguardar-lhe a privacidade do fim de tarde.
Quase adormecida, sentiu chegar um carrerinho de pensares de doer e, rapidamente, tirou o chapéu e entrou na água. Sorrindo, ficou a ver o vestido colar-se-lhe ao corpo sem conseguir deixar de desejar que o vestido fosse humano.
terça-feira, 23 de junho de 2015
NÃO DITOS
Ficou tanta coisa por dizer. Não te disse, vezes suficientes, como o teu cheiro me dá vida, como o toque da tua pele me acalma o desespero. Não te disse como é bom ver-te dormir, como sabe bem a minha perna na tua, como é bom quando, sentados à mesma mesa, partilhamos a refeição. Não te disse, tantas vezes como seria ncessário, que o teu silêncio me fere, que as tuas prioridades me dilaceram.
Acho que não te disse, também, que me fazem falta as caminhadas à beira-mar, os toques ousados na areia. Não te contei da compridura da solidão, da imensidão do ciúme.
Disse-te, apenas, Adeus. Agora, vou fazer dos não ditos um molho de lixo inútil!
VAZIOS
Gostava de se sentar ali, na amurada que gritava palavras de amor eterno em graffitis de gosto duvidoso, olhando o mar.
No Inverno, gostava do abraço que as nuvens davam às ondas, no Verão divertia-se com os corpos desnudos, o cheiro dos cremes, os gritos das brincadeiras infantis. Para o seu poiso, farol térreo, trazia às vezes um livro, outras vezes nada. Bom, nada nunca acontecia porque quando a idade é redonda as memórias nunca descolam, as saudades não dão paz. Tanta vida vivida, tanto sonho por sonhar... E um vazio tão grande, tão imenso, que nem a grandeza do mar conseguia preencher!
domingo, 14 de junho de 2015
NECESSIDADE
Era Julho. Ou Junho ainda? Eu levava os exames para corrigir, sim, esses mesmos que a polícia transporta com mil seguranças e que nós, professores, levamos para onde queremos para corrigir. Tu levavas um livro, tinhamos combinado aproveitar a manhã para, junto ao mar, trabalhar um bocado. O silêncio, aquele mesmo cúmplice que conhecemos, pousava nas chávenas da bica . De repente, o vento soprou forte, ficou frio, e tu embrulhaste-me no teu casaco azul. Eu, como sempre descuidada, não tinha sequer levado casaco...
O abraço que me deste era da cor do casaco, misturava-se com a maresia e fazia-me entrar na paz do céu. Ainda tens esse casaco?
É que continuo a precisar de me aproximar do céu...
quinta-feira, 11 de junho de 2015
Dia de Portugal
Foi ontem o Dia de Portugal. Dia de lembrar a Poesia (acho que somos o único país que tem como Dia Nacional o Dia de um poeta), dia de pausa e de discursos. Não ouvi os discursos, infelizmente, outros valores mais altos de alevantaram... mas vi a lista dos nomeados, perdão, dos condecorados e tive pena. Pena que o meu país seja tão hipocritamente festejado; pena que a grandiosidade se tenha perdido; pena da pequenez das grandes figuras.
Este não é Portugal a entristecer. É Portugal entristecido...
domingo, 7 de junho de 2015
VIAGENS.
A viagem fora longa mas a conversa boa, no conforto do ar condicionado, tornara-a rápida e agradável. No caminho, entre sorrisos cúmplices, acontecera a pausa, a boa esplanada frente ao mar, as brincadeiras entre os dois a propósito da multidão de corpos nus a fazer iguais todas as diferenças. O peixe, acompanhado pelo vinho frisante gelado que ela sempre pedia, soubera-lhes divinamente e o tempero de cumplicidade efectiva tornara-o inesquecível.
Ali, naquele lugar de sonho, no exacto ponto onde toda realidade é possível, ela adormeceu a desilusão e o desespero dos erros acumulados. Porque, afinal, enquanto o sonho existe a vida não está perdida!
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