A tia Maria Luísa fazia anos a 23 de Junho, ou seria a 24?, e o seu aniversário era sempre pretexto para fazermos a fogueira e cantarmos ao São João. O meu pai, que adorava festas e casa cheia, pedia ao senhor Joaquim que trouxesse rosmaninho. Vinham carradas, (na velha carroça puxada pelo macho manso onde muitas vezes montei em pelo), que ficavam a secar no quintal, e tudo se preparava com tempo. A senhora dona Zélia era especialista nas bonecas que queimávamos no cimo do mastro, e a casa virava alegria e barulho! Os mais miúdos, e alguns adultos mais afoitos também, saltavam a fogueira, e eu lembro-me muito bem do cheiro das minhas sobrancelhas queimadas, das pontas do cabelo chamuscadas, das recomendações descuidadas da minha mãe para que tivéssemos cuidado. A tia Maria Luísa era sempre a mais animada! Chegava de tarde, cheia de guloseimas únicas, bolinhos de canela da minha infância!, e ria-se de tudo. Foi ela quem me salvou, então aluna da dona Emília nos aterradores lavores femininos, fazendo-me, ali em cinco minutos, a bainha de um lençol de berço que fora o meu tormento ao longo de todo o ano lectivo. A tia Maria Luísa nunca se zangava, achava sempre que tudo se havia de resolver, e ensinava com paciência como fazer bifinhos de lebre!
Quando a tia Maria Luísa fazia anos, a casa da Serra era de todos e ela soprava as velas pedindo sempre só mais um ano. A tia Maria Luísa chamava Tiquinho ao marido, falava-lhe com doçura e nunca os ouvi discutir. Quando os meus pais saíam, a tia Maria Luísa e o seu Tiquinho mudavam-se para nossa casa para tomarem conta de nós e era uma festa constante.
Tenho muitas saudades destes meus tios. Hoje, agora na noite fria e sozinha, penso no calor que tinham as noites, até as de trovoada, quando os meus tios estavam por perto. Tive outros tios, muitos, mas nenhum se instalou no meu coração como a tia Maria Luísa e o Tiquinho.
Às vezes, dou por mim a lamentar que na infância dos meus netos não haja figuras como a da Tia Maria Luísa.
Eu tive uma tia Marcelina. Ainda me lembro das histórias que contava...
ResponderEliminarObrigada pela partilha!
Fernando
As minhas memórias de infância estão ligadas à minha avó. Uma terna avó que não nos permitindo tudo, muito ainda nos permitia!
ResponderEliminarNem sei quantas agulhas eu e a minha irmã teríamos partido ao cozer os vestidos das bonecas na sua Singer! Nunca me lembra de se ter zangado...
São essas memórias que, muitas vezes, nos dão força para continuar. Aqui ainda há uma Singer...
EliminarA tua história da Tia Maria Luísa é linda. Contaste-a muito bem, com amor e sentimento. É verdadeira! E depiis, eu conheci a tua Tia Maria Luísa muito bem e era de facto uma senhora amorosa. E depois essa D. Zélia também é minha conhecida... E sei que eras amiga da minha mãe.
ResponderEliminarUm beijo por esta bela história! E outro, simples, para ti...
Beijinhos amiga querida!
EliminarTao bom ler e lembrar a minha querida Avó Luisa!! Grande Mulher e senhora....jamais passará a véspera de S.Joao sem lembrar o saltar à fogueira e comer sardinha assada com a minha querida avó Luisa!! e Sim lembro como se fosse hoje o saltar a fogueira na casa do querido Tio Emilio com lotação sempre esgotada!! Festa grande e muita alegria! Saudades Sim!! Beijinhos grandes a toda a família....Hoje, como a sardinha assada (que adoro) noutra companhia, com alegria sempre (que herdei da minha avó Luisa)......mas c pena de não saltar à fogueira!!
ResponderEliminarQuerida Sofia,
ResponderEliminarQue bom ver-te por aqui! São tantas memórias... Beijinhos