quinta-feira, 3 de julho de 2014

SOPHIA

"Quando eu morrer voltarei para buscar os instantes que não vivi junto ao mar" - É o poema de Sophia de Mello Breyner que sempre me acompanha. 

Quando eu era miúda, teria doze ou treze anos, conheci Sophia. 
Os Contos Exemplares, uma oferta de aniversário, foi o primeiro contacto. Ainda hoje tenho esse livro, de capa azul e branca bem gasta, guardado na desordem das minhas prateleiras. Desde então, não mais perdi Sophia!
Um dia, já professora, fui ouvi-la numa sessão, no Porto. Fiquei um pouco desiludida, confesso, porque a achei distante, pouco simpática. Hoje, com a clareza que o tempo confere aos factos, sei que há uma distância enorme entre a escrita e o escritor; na altura esperava, inconscientemente, vê-la surgir na espuma das ondas, leve e densa como as palavras que escrevia... 
Sophia é, agora,  minha companheira de insónia. É o lugar de Palavra onde volto sempre com gosto, é a escrita que, inesperadamente, se faz citação dentro de mim "Este é o tempo dos chacais". E é o meu tempo também, feito de muitos tempos plurais e nem sempre significativos.
Sophia é também a escrita aventureira, dando-me o sabor  do prazer da viagem, a magia do Cavaleiro da Dinamarca, a ternura da Menina do Mar, o mistério do Búzio.
Sophia fica bem no Panteão, claro. Mas fica muito melhor na nossa companhia, na dos vivos, feita leituras, feita presença, ganhando a imortalidade que só se consegue continuando Viva. Para mim, leitora habitual, Sophia é sempre Enorme, é sempre Mar, é sempre Verdade, é sempre Razão.
Para mim, professora de português, Sophia é uma leitura obrigatória, é a porta grande para aceder à magia grandiosa da Palavra!

1 comentário:

  1. Já tinha sentido a Sophia na sua escrita. Também a Luísa é uma poetisa, mas em prosa!
    António

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