Não tenho a pretensão de gostar de toda a gente. Aliás, eu assumo que há pessoas de quem não gosto e sobre quem não perco tempo a pensar. Mas há, também e felizmente, muita gente de quem gosto muito. Gente que cresceu comigo, que caminhou na vida perto de mim, que conheci por diversos motivos. Há pessoas que me são especiais e não são, apenas, as minhas filhas e netos, os meus maiores amigos, aqueles que me marcam e, de alguma forma, definem.
Hoje, há pouco, perdi uma dessas pessoas. A Luísa Mourato era da minha idade e morreu, depois de um ano de intenso sofrimento, vítima de um cancro voraz. Estava a ler "O Grande Conspirador", gozando no silêncio da minha Serra os últimos dias de férias, quando a notícia surgiu.
Lembro a Luísa. Lembro-a na minha turma, como eu fraca aluna a matemática, lembro-a nas aulas da minha mãe, a tentar dar nomes à imensidão de orações e ques que Camões inventou sem querer. Eramos os números 16 e 17, os nossos pais eram médicos e trabalhavam juntos no Sanatório, íamos às festas de anos uma da outra. Depois, a vida separou-nos: Eu fui para Lisboa, ela para Coimbra. Não havia Facebook, afastámo-nos. Mas, sempre que nos reencontrávamos, a velha amizade voltava. A Luísa deu explicações de Filosofia à minha filha e não deixou nunca que lhe pagasse (isso não é coisa de amigas, dizia). A minha filha diz sempre que ela era a melhor professora de mundo, e eu acredito. A Luísa conversava e ensinava, gostava de jovens e sabia chegar a eles. Às vezes, no cabeleireiro, riamos juntas das nossas vidas, do facto de já termos passado os 50 anos, da necessidade de sermos felizes! A Luísa adorava meias, e eu brincava com ela por vê-la usar peúgas com bonecos e flores. A Luísa via as fotografias dos meus netos e achava-os lindos!
Agora, a Luísa partiu. Sei que há momentos em que as palavras perdem o valor, o sentido, mas quero acreditar que, lá onde estiver, ela há-de rir-se deste meu post. Um dia, quero muito acreditar, voltaremos a encontrar-nos. Até lá, fiquei mais sozinha na vida.
Os lugares às vezes avivam-nos a memória!
ResponderEliminarQuando li o seu post "lembrando uma amiga" por mais voltas que desse à minha cabeça não encontrei nenhuma LM na minha memória.
Hoje quando entrei no Diamantino para tomar o café da manhã, um click fez-me sentir sem sombras de dúvida a fatalidade da minha colega amiga. Era aí que eu a costumava encontrar mas, como ando sempre de cá para lá não estranhei não a ver ultimamente...
Dela me fica a sua simpatia, a certeza da professora excelente que o meu A. adorava e de quem ela, com tanto carinho me falava!
Também estou triste!
Dizia e digo, Mãe. A Prof Luisa era a MELHOR professora do mundo! Uma professora amiga e preocupada connosco. Foi um ano marcante para mim, esse em que estudava filosofia em casa da prof Luisa. Numa salinha pequena, Cheia de livros e sempre com o doce sorriso dela.
ResponderEliminarSaudades...