É comum e frequente ouvir falar em assimetrias, na existência de um Portugal esquecido, na injustiça que preside à distribuição da riqueza. Normalmente, quando oiço dissertações sobre este assunto, penso no meu Alentejo, no isolamento de muitas populações, na carência de quase tudo. A meus olhos surge, invariavelmente, a planície amarela e seca, polvilhada de Montes românticos onde habita a solidão.
No entanto, depois de uma vivência familiar no Minho, percebi que as assimetrias não têm a ver apenas com o Alentejo. O Minho, uma das províncias mais belas de Portugal (se eu não amasse o Alentejo diria que é a mais bela), sofre também com as sucessivas políticas de centralidade no litoral. Ponte de Lima, a mais antiga vila portuguesa, Ponte da Barca, de águas límpidas e gentes simpáticas, Arcos de Valdevez, um lugar mágico e terno, vivem com o flagelo do desemprego e abandono. Vi, claramente visto!, fábricas fechadas, homens com rostos sulcados de desalento, crianças portuguesas pedindo esmola à porta dos hipermercados. Espantei-me com o número exagerado de emigrantes, gritando numa língua cheia de misturas, estacionando em segunda fila ruidosamente, desejosos de matar saudades, de encher a alma da terra que é a deles.
Para além da mágoa, experimento uma sensação de revolta enorme. Como é possível que os nossos governantes, independentemente da cor política, continuem centrados em belos discursos, em parangonas ocas, esquecendo os portugueses que fazem o país verdadeiro? Numa lavandaria, um jovem empresário dizia-me que a mulher, licenciada em jornalismo, passava roupa e ele, licenciado em marketing, geria a lavandaria. Contou-me do sonho impossível de terem filhos, do esforço imenso para sobreviverem. Este país que ignora os jovens, que se faz de diferenças, que não tem um projecto para crescer humanamente, revolta-me e incomoda-me. Até quando? Como fazer para mudar? Romanticamente acredito que teremos de nos unir, de fazer ouvir a nossa voz; mas, realisticamente, sei que o silêncio e o vazio estão para durar...
Luisa, estou a uns bons milhares de quilómetros de Portugal, na sempre bem falada Suécia. Do aeroporto subi sempre em direção ao verdadeiro Norte, hoje cruzei o Círculo Polar Ártico... mas anteontem em Ümea cidade com 30 000 universitários vi pedintes e um que ia de caixote do lixo em caixote do lixo a ver o que podia aproveitar! E vi, vi mais coisas que em princípio não seria suposto...
ResponderEliminarPois é Dalma, o problema é a Humanidade, ou o que resta dela... Da Suécia só conheço Estocolmo que lembro como das cidades mais belas que já vi! Bom passeio e boa viagem
EliminarLuisa, mas a Humanidade alguma vez foi diferente de hoje? Eu acho que não. Talvez o Criador já a tenha feito com defeitos!,
ResponderEliminarDalma, eu só conheço esta humanidade que, para meu gosto, tem cada vez menos de humana!
EliminarA Luisa, só sente esta (des)humanidade, mas as desumanidades de que tomou conhecimento na História? A escravatura no tempo dos faraós que lhe permitiu construir as pirâmides, na Idade Média as catedrais, toda a miséria do Povo que ajudou à Revolução Francesa e por aí fora, até hoje! "Malgré tout" hoje estamos um pouco melhor! Não me interprete como alguém sem cuidar do que se passa... Nós temos é que fazer a nossa parte, que lhe digo que às vezes nem sei bem qual é!
ResponderEliminarPois é Dalma, os homens sempre foram pior do que feras (alguns). Mas custa aceitar...
EliminarLuisa, envio-lhe este site que tem imensas ideias para " milímetro a milímetro" irmos mudando a sociedade e com esta a Humanidade! Utópico, com certeza, mas tentemos.
ResponderEliminarhttp://www.randomactsofkindness.org/kindness-ideas/6688-my-encounter-with-kindness
Dalma, obrigada! Afinal, o que seria a vida sem a Utopia?
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