sábado, 9 de agosto de 2014

PORTUGAL DOIS

É comum e frequente ouvir falar em assimetrias, na existência de um Portugal esquecido, na injustiça que preside à distribuição da riqueza. Normalmente, quando oiço dissertações sobre este assunto, penso no meu Alentejo, no isolamento de muitas populações, na carência de quase tudo. A meus olhos surge, invariavelmente, a planície amarela e seca, polvilhada de Montes românticos onde habita a solidão.
No entanto, depois de uma vivência familiar no Minho, percebi que as assimetrias não têm a ver apenas com o Alentejo. O Minho, uma das províncias mais belas de Portugal (se eu não amasse o Alentejo diria que é a mais bela), sofre também com as sucessivas políticas de centralidade no litoral. Ponte de Lima, a mais antiga vila portuguesa, Ponte da Barca, de águas límpidas e gentes simpáticas, Arcos de Valdevez, um lugar mágico e terno, vivem com o flagelo do desemprego e abandono. Vi, claramente visto!, fábricas fechadas, homens com rostos sulcados de desalento, crianças portuguesas pedindo esmola à porta dos hipermercados. Espantei-me com o número exagerado de emigrantes, gritando numa língua cheia de misturas, estacionando em segunda fila ruidosamente, desejosos de matar saudades, de encher a alma da terra que é a deles.
Para além da mágoa, experimento uma sensação de revolta enorme. Como é possível que os nossos governantes, independentemente da cor política, continuem centrados em belos discursos, em parangonas ocas, esquecendo os portugueses que fazem o país verdadeiro? Numa lavandaria, um jovem empresário dizia-me que a mulher, licenciada em jornalismo, passava roupa e ele, licenciado em marketing, geria a lavandaria. Contou-me do sonho impossível de terem filhos, do esforço imenso para sobreviverem. Este país que ignora os jovens, que se faz de diferenças, que não tem um projecto para crescer humanamente, revolta-me e incomoda-me. Até quando? Como fazer para mudar? Romanticamente acredito que teremos de nos unir, de fazer ouvir a nossa voz; mas, realisticamente, sei que o silêncio e o vazio estão para durar...

8 comentários:

  1. Luisa, estou a uns bons milhares de quilómetros de Portugal, na sempre bem falada Suécia. Do aeroporto subi sempre em direção ao verdadeiro Norte, hoje cruzei o Círculo Polar Ártico... mas anteontem em Ümea cidade com 30 000 universitários vi pedintes e um que ia de caixote do lixo em caixote do lixo a ver o que podia aproveitar! E vi, vi mais coisas que em princípio não seria suposto...

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    1. Pois é Dalma, o problema é a Humanidade, ou o que resta dela... Da Suécia só conheço Estocolmo que lembro como das cidades mais belas que já vi! Bom passeio e boa viagem

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  2. Luisa, mas a Humanidade alguma vez foi diferente de hoje? Eu acho que não. Talvez o Criador já a tenha feito com defeitos!,

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    1. Dalma, eu só conheço esta humanidade que, para meu gosto, tem cada vez menos de humana!

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  3. A Luisa, só sente esta (des)humanidade, mas as desumanidades de que tomou conhecimento na História? A escravatura no tempo dos faraós que lhe permitiu construir as pirâmides, na Idade Média as catedrais, toda a miséria do Povo que ajudou à Revolução Francesa e por aí fora, até hoje! "Malgré tout" hoje estamos um pouco melhor! Não me interprete como alguém sem cuidar do que se passa... Nós temos é que fazer a nossa parte, que lhe digo que às vezes nem sei bem qual é!

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    1. Pois é Dalma, os homens sempre foram pior do que feras (alguns). Mas custa aceitar...

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  4. Luisa, envio-lhe este site que tem imensas ideias para " milímetro a milímetro" irmos mudando a sociedade e com esta a Humanidade! Utópico, com certeza, mas tentemos.

    http://www.randomactsofkindness.org/kindness-ideas/6688-my-encounter-with-kindness

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  5. Dalma, obrigada! Afinal, o que seria a vida sem a Utopia?

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