CONVERSA PROIBIDA
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Buarcos |
Olhava-o zangada. Eram só os
dois: Ela, envolta no casaco encerado gasto, com o chapéu até aos olhos, e ele
imenso, excessivo. O silêncio era total, feito do marulhar do dia de
Outono-Inverno. E ela atirava-lhe as palavras que caíam na água revolta. Estava
zangada sim! Zangada com aquela imensidão, aquela força ruidosa, aquela
presença sempre constante que a atraía inexplicavelmente. As lágrimas
misturavam-se com a chuva, com o sal trocista que o mar cuspia com força. Ela
falava tremendo. Dizia dos impossíveis, da solidão, dos adiamentos, da dor da
ausência que, por absurdo, desejava até. Ele rugia. Feroz e denso, poderoso e
mágico. Ele tinha nele o Gama e o Adamastor, tinha a coragem e a ternura. Ela
tinha os destroços, o quotidiano imposto. Era uma luta desigual, mas ela
insistia. Sentia o corpo gelar, os cabelos emaranharem-se, mas não desistia: Queria
dizer-lhe que, no jogo inconsciente de muito querer amar, ele, mar, estava
escandalosamente presente. Queria dizer-lhe o indizível, as palavras cheias que
os homens não compreendem, as desilusões que todos garantiam serem rotinas. O
frio abraçava-a, violento e negro, mas ela recusava fechar-se no conforto do
seu automóvel. Às vezes, achava, é preciso sentir a energia da Natureza para
poder aceitar a estupidez de alguns homens!
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