Se o fim do dia traz a paz da noite, ele carrega também, vezes demais, o reflexo de dias fazendo-se, a cada amanhecer, de maiores estreitezas e mágoas. Ela sabia isso de cor. Um saber de experiência feito que, ao contrário do que acontecera com o Velho do Restelo, apenas lhe dava a angústia da razão sem solução. Ainda assim, era a hora que preferia e, sob chuva ou sol, sempre privilegiando a primeira, gostava de sair de casa, de caminhar e de se abrigar, com a cumplicidade de uma chávena de chá negro, no restaurante dos barquinhos.
Quando tinha filhos pequenos, jogavam com os barquinhos, inventando-lhes destinos, imaginando-lhes aventuras, protegendo-os de monstros e sereias traiçoeiras. Agora, as crianças tinham partido, os monstros eram outros, e ela ficara só com os barquinhos...
Hoje, sob chuva ventada e embrulhada em nuvens negras, olhava os barquinhos e desejava tornar-se num deles ficando, para sempre, na tranquila segurança de uma parede onde se apoiasse.
Mas os barquinhos de lindas histórias inventadas fazem boa companhia! Porque tu não mudaste, tu podes continuar a acreditar nessas histórias! Bom sábado!
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