Meu Amor,
Odeio-te. Odeio-te nos tempos da
tua distância, no abraço gelado com que a noite me acolhe. Odeio a ausência do
teu abraço total, do beijo profundo, das ousadias quentes que davam sentido à
noite escura. Onde foi que nos perdemos, quando foi que a teia que nos envolvia
se quebrou? Sim, sei de cor os conselhos vazios, iguais e ineficazes; conheço
todos os ses que nunca serão; sinto
os impossíveis que construíste em torno do sonho que era só meu.
Odeio-te, meu amor.
Odeio-te com toda a força da
minha indignação feminina, com a energia do desejo que me não deixa dormir, que
me molha o olhar e atraiçoa os sentires.
Na minha essência sonhada
sinto-te ainda. O vinho tinto tinha sabor, as ameijoas e os mexilhões eram temperados
de loucura. Picavam, sim. Como pica, agora, a carapaça de indiferença que
carrego sobre a pele.
Meu amor, odeio-te!
Odeio-te e olho as fotografias
que o computador me devolve, provocante, incómodo, impositivo. Ali, junto ao
mar, riamos juntos. Eram as caminhadas matinais, a água ainda fria, as gaivotas
por companhia. Porque gritavam as aves marinhas, perguntava eu, então achando
que eram felizes. Hoje, sei que grasnavam pela felicidade de não terem
saudades, de não sentirem, de não pensarem. Como o gato que brinca na rua//como
se fosse na cama, as gaivotas não sabem que as caminhadas à beira-mar não são eternas.
Mas eu sei. Tu ensinaste-me a saudade e o desalento da ausência imposta.
Obrigada por isso, aprender é sempre gratificante, dizem…
Odeio-te, meu amor.
Odeio a tua presença imposta na
minha solidão, a minha incapacidade de te eliminar também. Cabia inteira no teu
abraço, ficávamos um só, na cama que agora é enorme, e viajávamos nos nossos
corpos sem necessidade de GPS. Agora, perco-me em atalhos e semideiros escusos, diria Fernão Lopes, e não chego ao
destino. O destino? O fim? Diria Reis ser o profundo reino de Plutão.
Sabes, talvez tenha chegado já.
Sem ti, cheguei mais depressa, mais leve até.
Meu amor, odeio-te!
Com força. Com a mesma força, meu
amor, com que desejo o teu/nosso abraço total de novo no meu corpo.
Adeus Amor.
Vou. Já fui. Fui depois de ti,
para lá do nada, para esse lugar onde a gente sorri sem saber por que razão as
lágrimas insistem em cair.
Odeio-te, meu amor!
E sempre te vou Amar Assim, com a
força do ódio que me impões!
LM
A incompreensível (pelo menos para mim) relação amor/ódio existe, mas que no caso e como leio no último parágrafo o ódio se sobrepõe!
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