A Ginja foi-me dada, para que não fosse abatida, há 15 anos. Cruzada de rafeiro e mastim, num instante cresceu e se fez uma cadela possante e meiga. Tinha uma mania, um vício que me tirava do sério: - mal apanhava o portão aberto, ia chatear os cães da vizinhança. A Ginja nunca teve crias, era uma cadela estéril, dizia o veterinário, mas era terna e paciente com o pequeno Zorba.
Durante doze anos, a Ginja e o Fred eram inseparáveis. Aliás, os nomes deles eram Ginger e Fred, uma homenagem aos dois bailarinos/actores de quem eu tanto gosto. Mas Ginger era difícil de dizer e, sem saber como, transformou-se em Ginja. Fred, um belíssimo rafeiro alentejano, morreu há três anos.
A Ginja tinha um tumor, foi operada e recuperou. Corria já bem, feliz e gulosa sempre que ouvia abrir a caixa dos biscoitos.
Ontem, quando corria à minha frente a caminho do canteiro dos morangos, caiu morta.
Sei que era um animal, mas dói-me fundo esta morte. Sinto a falta das corridas dela, da sua presença, do ladrar forte a dar sinal de tudo. Tenho saudades até da forma como ladrava, desesperada, quando uma trovoada se aproximava.
Cada vez mais, sinto que há animais mais sinceros e amigos do que algumas pessoas. A Ginja vai ficar no meu património de boas memórias.
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