Há mais de dez anos, comprei nenúfares. Pedi a um amigo, especialista nestas coisas, e ele trouxe-me três pés (não sei se se chamam pés...). Pareceram-me poucos mas, de um ano para o outro, multiplicaram-se e quase tapam o tanque todo. Nesta época do ano, quando o sol começa a aquecer, as flores surgem, lindíssimas, abertas durante o dia e bem fechadas à noite. As rãs saltam nas folhas largas e os peixes, carpas, escondem-se aproveitando as sombras. Gosto de me sentar no muro que ladeia o tanque e de ficar olhando. Bem perto, as rosas crescem e, hoje, estão lindas e perfumadas. São muito resistentes, as rosas. Parecem frágeis mas, nem sei como, não percebo onde vão buscar forças, resistem ao vento e até às trovoadas.
Há uns dias, ali na relva apareceu um ouriço. E eu gosto dos ouriços, acho que, por baixo daqueles picos todos, têm um ar até terno e meigo.
Infelizmente, o Zorba não partilha a minha opinião e o ouriço acabou por morrer. Tive pena do ouriço, e não gosto da morte por perto.
Ainda assim, e porque vivo de paradoxos, cada vez que vejo morrer mais um dia, e mesmo sabendo que outro amanhã há-de surgir, gosto de me sentar e de ficar recordando cada olhar, cada passo, cada encantamento.
Talvez me comece a faltar, não sei, o necessário conforto e presença humanos e, por isso, cada vez me conforte mais a magia da Natureza.
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