Entrou, ajoelhou-se e ficou rezando. Era a sua forma de rezar, um tecer de considerações mais de si para si que, na pequena capela de chão com História , ganhava novo sentido. Gostava daquele chão, dos vitrais que filtravam a luz, como que purificando a existência, dos poucos móveis encerados e cheirosos. Naquela tarde, fria e ventosa, nem sabia bem o que a levara de novo ao seu espaço de eleição. Decerto não ia agradecer a recente eleição do Presidente que nada lhe dizia, embora pudesse agradecer a derrota de uma esquerda anquilosada que sempre a desgostava... Não ia, também, pedir ajuda para a solução das angústias diárias, porque dos quotidianos dos homens Deus deveria querer distância. Talvez, afinal, tivesse entrado apenas para se ouvir, sem o ruído do mundo que, cada vez mais..., a incomodava.
Ficou ali, sentindo o anoitecer lá fora, escutando as ondas de outros mares que aquele chão lhe trazia. Ouvia Camões "não mais Musa, não mais, (...)" e sentia o mesmo desalento do Poeta. Não mais, pedia, agora, na sua oração de silêncio.
Vale sempre a pena agradecer, seja por essa esquerda que não interessa, seja pela vida, mesmo quando o "não mais" apetece pedir... é que há sempre "outros mais" pelos quais vale a pena a vida!
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